Os favores cobram-se e pagam-se. Quando Costa procurava enxotar Seguro da liderança do PS, Pacheco Pereira deu-lhe palco mediático no «Quadratura do Círculo» da SIC transformando mais um político no activo em comentador, uma espécie rara noutras paragens e abundante neste Reino de Pacheco, como lhe chamou O'Neill há uns 60 anos. Agora foi a vez de Costa retribuir e preparar o terreno para a RTP dar abrigo ao programa de Pacheco, entretanto expulso da SIC por falta de audiência.
Porém, o que a SIC tira com uma mão, dá a Impresa com a outra mão no Expresso. Por exemplo, o caderno de Economia de sábado passado na pág. 11, com chamada na 1.ª página, esforça-se por ajudar o governo a passar a mentira de que a comunicação pelos bancos ao fisco dos saldos acima de 50 mil euros resulta de uma imposição internacional de combate ao branqueamento - na verdade, essa imposição aplica-se apenas aos valores detidos no estrangeiro e não no próprio país.
Os tambores socialistas voltaram a rufar na imprensa amiga pela melhoria de 475 milhões do défice. Em todo o caso pior do que previsto em Outubro, convindo acrescentar que o feito foi alcançado com um aumento da receita de mais de 10 mil milhões - dito de outro modo, por cada 100 euros que o Ronaldo das Finanças nos aliviou a mais em 2018, usou menos de 5 euros na redução do défice.
Ninguém reivindicou o aumento em 2018 de 28% da mortalidade infantil. Como dizia o outro, não acredito em bruxas e pode tratar-se de um fenómeno conjuntural, com outra explicação que não seja a atrofia do SNS, mas o certo é que entre 2010 e 2018 a taxa de mortalidade em permilagem teve a seguinte evolução 2,5; 3,1; 3,4; 2,9; 2,9; 2,9; 3,2; 2,7; 3,8.
Por razões muito bem conhecidas, o saldo da balança comercial é um dos indicadores que historicamente antecipa as crises financeiras da economia portuguesa. Veja-se então no diagrama seguinte como, depois de uma interrupção em 2011 (resgate pela troika e governo PSD-CDS), desde 2016 estamos gradualmente a retomar o padrão anterior.
source: tradingeconomics.com
O turismo, um dos tractores que tem puxado a economia portuguesa, está a desacelerar. O crescimento do número de dormidas em 2018 foi de 1,7%, inferior à média de 2,2% da UE. As previsões de crescimento do PIB começam todas a apontar para a desaceleração: ISEG, Católica, BBVA.
Pouco a pouco, o clima de euforia, muito alimentado pela produção de afectos da fábrica de Belém, vai-se evaporando e os investidores que põem (enfim, deviam pôr) o dinheiro onde põem a boca vão-se também evaporando deixando OPV e aumento de capital desertos, como Sonae MC, Science4You, Pharol e Vista Alegre.
As coisas estão a tornar-se tão óbvias que Daniel Bessa reconheceu que «o Diabo não veio, mas isto está por arames» e o próprio governo pela boca do amigo ministro da Economia (o Siza, não o Bessa) vê-se obrigado a admitir uma «nova fase do ciclo económico» atribuindo-a ao abrandamento mundial. Não sei se estão a perceber: a economia cresceu pelas milagrosas acções do governo que mandou turistas para cá e produziu bens e serviços que exportou para lá; agora, a economia arrefece por causa da conjuntura internacional. Se e quando as coisas derraparem a sério, vão-nos explicar que foi o Brexit, o Trump, o Bolsonaro, etc., em substituição do neoliberalismo, de Merkel (entretanto já reformada) e do resto.
E não se esqueça que desta vez não será uma repetição de 2011. Por boas razões: não parece provável a médio prazo uma regressão internacional tão profunda como a de 2008-2013. Por más razões: a dívida pública portuguesa, que era de 128 mil milhões em 2008, dez anos depois é quase o dobro (245 mil milhões) e em percentagem do PIB é a terceira maior da UE, e, como se fosse pouco, o endividamento da economia portuguesa (somatório da dívida pública, da dívida das empresas não financeiras e das famílias) não cessa de crescer e atingiu 723 mil milhões de euros ou 3,65 vezes o PIB.
Entretanto, comunistas e bloquistas acolitados por socialistas pedronunistas, antecipando o assalto aos «privados», que é o sucedâneo possível do assalto ao palácio de Inverno, sonham com a reversão da privatização dos CTT imaginando nas suas cabecinhas que a renacionalização faria os portuguesas voltarem a escrever cartas em vez de emails, SMS e mensagens WhatsApp, os bancos a enviarem outra vez extractos pelo correio, etc. (um enorme etc.). Curiosamente, mas não surpreendentemente, não ocorre a essas cabecinhas privatizar a Caixa para ser bem gerida e evitar que o povo trabalhador seja periodicamente espoliado para pagar o malparado dos amigos do regime, como não lhes ocorre forçar a Caixa pública a abrir agências em todas as aldeias do país, como querem fazer com os CTT.
Sendo verdade que não foi só a Caixa que torrou os milhares de milhões de que os sujeitos passivos se viram aliviados. No conjunto, segundo o Tribunal de Contas, os bancos portugueses absorveram 16,8 mil milhões de euros entre 2008 e 2017, na sua esmagadora maioria para financiar as perdas por imparidades no crédito malparado dos amigos do regime - foi assim como transferir do bolso dos contribuintes para o bolso dos amigos do regime (ver aqui uma lista da Caixa).
Isso são pormenores que não ocorrem às mentes que nos querem salvar porque lhes escapa quase tudo, incluindo as razões porque, depois de tanto esforço, campanhas, incentivos, ameaças (incluindo a viactt, lembram-se), «Portugal é o quinto país da UE que menos usa a Internet».
5 comentários:
País de bestas (iletrados, cavalgaduras, burros) governado por bestas (iletrados, cavalgaduras, burros) só pode ir longe pedindo (emprestada) a senda para o Hades.
Há-des ver, há-des.
Abraço cada vez mais triste, mas forte
Curiosamente, não foi a CGD o único banco a braços com o malparado.
Realmente não foi só a CGD a ter mal parado. Mas enquanto que nos bancos públicos primeiro pagam os accionistas e só depois os contribuintes, na banca pública os dois confundem se. Começamos logo a pagar enquanto accionistas.
Perdão , onde se lê banca pública deve ler se privada
É como se o risco moral tivesse sido descoberto ontem...
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