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07/05/2018

Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça (134)

Outras avarias da geringonça.

O acontecimento central da semana passado foi o súbito surto de "ética republicana" sofrido pela nomenclatura socialista sob a batuta do maestro Costa, à distância de Toronto. A este respeito remeto para o post do outro contribuinte «O polvo socialista é mimético».

Um relatório de auditoria da ANPC, convenientemente mantido na gaveta pelo governo de Costa, veio por a nu não só a completa desorganização do combate ao incêndio de Pedrógão Grande, o que já se sabia, como veio ainda mostrar as tentativas de esconder essa desorganização e, mais grave ainda, a destruição de documentação digital e em papel. É mais um caso de polícia.

Quanto mais se sabe da Caixa maior se revela o gigantesco buraco negro onde a nomenclatura do regime torrou milhares de milhões de dinheiro dos contribuintes. No meio do nevoeiro informativo sobre o crédito malparado, vão-se conhecendo alguns casos de empréstimos em projectos do regime, como o resort de Vale do Lobo ligado a amigos do animal feroz em que foi agora registada uma imparidade de 100 milhões, imparidade que provavelmente não será o fim das perdas porque o resort foi transferido para um fundo da ECS Capital de António de Sousa (nem por acaso um antigo administrador da Caixa!) e a Caixa comprometeu-se a aplicar 224 milhões nesse fundo. Em resumo, ainda não se viu o fundo ao buraco.

Mas a Caixa não se limitou a torrar em Portugal o dinheiro dos contribuintes. Segundo o relatório dos auditores EY, foram registadas imparidades que totalizaram cerca de 500 milhões correspondentes a mais de metade do valor das participações nos quatro bancos da Caixa em Espanha, Brasil (dois bancos) e África do Sul, participações que a Caixa está obrigada a vender.

Às delapidações do passado juntaram-se as do presente com os custos das asneiras na nomeação de António Domingues e da sua equipa que custou 2,4 milhões em 2017 e dos 1,7 milhões de indemnizações a dois administradores afastados por Paulo Macedo.

As relações no seio da ménage à trois que sustenta o governo continuam a azedar-se e só o medo de ser considerado responsável pelo fim da ménage impede, por enquanto, qualquer dos trois de a denunciar. Apesar disso, os berloquistas continuam a fazer o seu papel de bactérias diligentes da fossa séptica socialista, como se viu na manobra de propor uma comissão de inquérito ao caso Pinho e das rendas da energia que vai abranger todos os governos desde dona Maria II. Os comunistas, por seu turno, fazem o papel de Dupont e, em cima do Dupond berloquista, acrescentam ao âmbito da comissão os transportes, comunicações, correios e banca e, não poupando nas palavras, decretam luta ao poder absoluto do PS.

Obedecendo ao decreto do camarada Jerónimo, Arménio o apparatchik de serviço na CGTP decretou a «grande manifestação nacional» em Junho dedicada ao aumento do salário mínimo para 650 euros, qualquer coisa como mais de 75% da mediana dos salários, um rácio que é o dobro da Espanha. Na primeira curva da economia internacional que está a puxar pelo carro de bois da economia portuguesa saímos da estrada. Até a UGT, entalada pela CGTP, também diz que quer ir par a rua. Parece-me bem - é como um exercício de aquecimento para as grandes jornadas de indignação contra a economia de casino, as agências de rating, a direita neoliberal, etc., quando o diabo chegar. E ele chegará, uns anos mais tarde do que pensava Passos Coelho - como se sabe, não se pode ter razão antes de tempo.

Enquanto não chega a grande jornada de luta de Junho, os sindicatos vão organizando greves sectoriais. Trabalhadores da saúde nos dias 2 e 3; greve do pessoal administrativo que encerrou 500 escolas (na sexta-feira, de acordo com o Manual de Agitprop); veterinários dos matadouros fizeram uma semana de greve; médicos têm greves agendadas de 8 a 10 e os professores a 19.

Alguém se lembra o pletórico crescimento do investimento público anunciado pelo PS? Nestas crónicas já foi abundantemente mostrado que o governo PS o reduziu drasticamente e, para se ter ideia em termos relativos, veja-se o diagrama seguinte que nos coloca em último lugar das 26 economias mais avançadas.
FMI - Dados de 2016 ou mais recentes (créditos: Observador)

A CE aumentou para 2,3% a projecção do aumento do PIB português, puxado pelas exportações e pelo turismo. Isso fará Costa e Centeno felizes, sem muita razão quando se olha para os nossos vizinhos cujo PIB a CE projecta cresça 2,9% numa Espanha que tem um governo preso por cordéis. Por falar em turismo, seria prudente prepararmo-nos para o fim do boom, fim cujos sinais estão no horizonte com a recuperação dos destinos no Egipto, Tunísia e Turquia e resultante baixa das taxas de ocupação no Algarve (-9,7% em Abril).

Para terminar a crónica desta semana, registemos os verdadeiros sucessos. O crescimento das vendas a retalho em Março foi o triplo da média da UE; as vendas de veículos aumentaram 11,3% em Abril e 6,4% nos quatro primeiros meses; as emissões de CO2 aumentaram 7,3% em 2017, a quinta maior subida da UE.

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