Na primeira edição do evento escrevi aqui: a mim parece-me excelente termos 50 mil forasteiros, com um razoável poder de compra, durante quatro dias em Lisboa a lotarem os hotéis, os restaurantes e os bares e a gastarem umas dezenas de milhões de euros (a estória das centenas de milhões é mais do foro da ficção) que tanta falta nos fazem para pagar as dívidas. O que tenho dificuldade em acompanhar são os delírios antecedentes e subsequentes.
Quanto às consequências do evento na transformação deste jardim à beira-mar numa espécie de pátria de startups e de Silicon Valley manifestei as maiores reservas. Um vale do silicone talvez.
Pois bem, agora é oficial. Nicolau Santos, o nosso pastorinho favorito dos amanhãs que cantam, já emitiu o seu veredicto. Ora lede:
«Depois da Web Summit de 2016 não houve un1a startup portuguesa que surgisse e se tornasse uma estrela no mundo das tecnologias de informação. E o ano de 2017, "será dos mais fracos dos últimos anos, porque não têm existido transações relevantes em Portugal este ano, com exceção da Série A da Codacy [€5 milhões] e da Série B da Feedzai [cerca de 50 milhões de dólares]", diz Stephan Morais, ex-administrador da Caixa Capital (capital de risco da CGD), num trabalho do meu colega João Ramos que publicamos amanhã no caderno de economia do Expresso. E conclui: "Duas transações não fazem um ecossistema."
Por outras palavras, a Web Summit não só não dinamizou a aposta nas empresas tecnológicas portuguesas, como não conseguiu atrair nem novas ideias nem investidores estrangeiros para startups portuguesas. Aliás, a falta de investin1ento português privado é o grande calcanhar de Aquiles do modelo de financiamento deste tipo de en1presas, muitas das quais correm o risco de morrer precisamente porque não conseguem obter os fundos suficientes para dar um salto em frente, internacionalizando-se e atacando os mercados externos.»
Ora, se ele, que foi capaz de acreditar no vigarista Artur Baptista da Silva, não acredita na miraculosa visão que no nosso jornalismo promocional nos quer implantar no nosso cérebro reptiliano, então podemos tomar como certo que a Web Summit, sendo boa para a hotelaria, a restauração e o alojamento, é igual ao litro para o resto.
Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
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