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06/11/2017

Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça (108)

Outras avarias da geringonça.

A peça de teatro burlesco do alegado roubo de armas e munições em Tancos, que segundo o palhaço de serviço no MD até pode não ter acontecido, em exibição nos mídia há cinco meses, teve um novo acto: foi encontrado mais material do que o perdido, facto que para o CEMA é uma «ligeira discrepância perfeitamente compreensível». Perfeitamente compreensível é um exército assim, tipo república das bananas, ser de ligeira utilidade para a defesa da soberania nacional.

O burlesco não se esgota em Tancos e também passou no Congresso dos Bombeiros onde o primeiro-ministro ouviu o cacique presidente da Liga dos Bombeiros ameaçá-lo com um «nunca nos queira ver nas ruas por outras razões, mas não temos medo de o fazer» ao que, metendo o rabinho entre as pernas, Costa respondeu com votos de «que reforçaremos a nossa amizade».

As relações no seio da geringonça já viram melhores dias. Depois da estrondosa derrota autárquica do PCP, os comunistas ressabiados rejeitaram geringonças locais em Lisboa (onde o PCP se recusou a ser «mero executor» da política de Medina e o sempre disponível BE se prontificou, não sem um preço pesado, a servir de muleta a Medina que perdeu a maioria, em grande parte para Cristas), em Almada (Inês Medeiros que só conhecia a vista do lado do Terreiro do Paço fez um acordo com o PSD) e no Barreiro (esta derrota numa câmara que foi uma espécie de soviete autárquico deve ter doído...).

Até a doce Catarina azedou acusando Costa de copiar do governo espanhol a condenação da declaração de independência da Catalunha. Sem esquecer o concurso entre bloquistas e comunistas para saber quem consegue mais cedências na negociação do OE 2018, sem esquecer uma nova greve de professores convocada para dia 15 (não, desta vez vez não é uma sexta-feira), nem uma nova manifestação que a CGTP convocou para dia 18 em Lisboa.

Entretanto decorre a Web Summit, um evento que Costa puxou para Lisboa quando presidente da câmara e como primeiro-ministro anunciou no ano passado a criação de um fundo de 200 milhões de capital de risco para startups, fundo que se ficou até agora pelo agitprop socialista no papel. Para além dos efeitos positivos no turismo (e que só por si, justificariam o evento se não fosse a pesada factura que o governo tem de pagar por ele), a Web Summit revelou-se um flop sem outras consequências práticas na dinamização da economia, como reconheceu Nicolau Santos, em tempos um fervoroso crente. E até talvez com consequências perversas no turismo já que os preços nesta altura dispararam para níveis acima de Bruxelas ou Berlim e não se está a ver que esse nível seja sustentável, tanto mais que a taxa de ocupação da hotelaria que cresceu continuamente até Julho desceu ligeiramente em Agosto.

E o turismo é ainda mais importante se a exportações começarem a derrapar como já ameaçaram nos últimos meses e nomeadamente se a economia internacional, que está a puxá-las, arrefecer ou se o conflito independentista se exarcebar na Espanha, que representa um quinto do aumento das exportações.

Voltando à vaca fria do OE 2018, releve-se que as despesas de capital que foram reduzidas de 8,8% da despesa total em 2015 para menos metade em 2016 (4,3%), em 2018 aumentarão para cerca de 5%, como se pode ver do diagrama seguinte que também evidencia o peso das despesas incomprimíveis a curto prazo (pessoal e prestações sociais).

Observador

E a coisa lá ser vai ajeitando com o aumento da receita de impostos, a continuação da compressão das despesas de capital, as clássicas cativações que atingirão 1,2 mil milhões em 2018, uma poupança de 300 milhões nos juros dos empréstimos do FMI e uns 160 milhões de dividendo do BdeP.

Falando das cativações, veja-se até onde podem ir com o exemplo da verba autorizada pelo governo PSD-CDS para abrir mais um bloco operatório do IPO, onde as fila de espera continuam a crescer, que foi congelada pelo MF. É claro que é necessário cortar nalgum lado para comprar a clientela eleitoral, como seja com o novo prolongamento da regularização dos «precários» ou em vez a regra vigente em 2017 de pela saída de cada 2 funcionários públicos entrar apenas um, o governo contratou 1,1 por cada saída. E é também necessário ir buscar mais dinheiro aos «ricos» como o aumento de 37% para 45% da taxa de IRS entre os 36,9 mil e os 40,5 mil euros ou o fim do regime simplificado das despesas dos trabalhadores independentes.

Para dizer a coisa em poucas palavras mas acertadas palavras de Helena Garrido, este orçamento é um exercício de ciência eleitoral que ignora as chamadas de atenção da Comissão Europeia e as reservas do relatório da UTAO.

Quanto à execução do OE 2017, o Ronaldo das Finanças continua a marcar golos (de penalti em faltas inexistentes) anunciando a descida do défice até Setembro para 569 milhões, esquecendo-se de relevar que a extorsão de impostos aumentou no mesmo período 6%, o equivalente a 1,76 mil milhões sem os quais o défice teria aumentado 1,2 mil milhões.

Para não variar, os veículos particulares continuam a vender-se como pãezinhos quentes (mais 20 mil em Outubro e um crescimento de 8,3% face aos dez primeiros meses do ano passado) e a poupança das famílias continua a baixar aproximando-se dos 5% do rendimento disponível, ao mesmo tempo que, estranhamente mas não inexplicavelmente, o número de famílias endividadas continua a aumentar. Enquanto isso, o governo através dos seus megafones na imprensa já considera um sucesso a subida da dívida pública de «apenas 0,8% (do PIB) face a 2016», sendo que o «apenas» significa em valor absoluto mais 5 mil milhões de euros.

1 comentário:

Unknown disse...

Pacatos funcionários públicos fardados,acomodados à pacatez da manjedoura...