A propósito da profusão de notícias sobre o anúncio, a candidatura e a eleição de Morais Sarmento para um órgão inócuo do PSD (a assembleia distrital de Lisboa) foram plantadas dezenas de notícias nas últimas semanas que levariam um leigo como eu a imaginar que Morais Sarmento de mão dada com Ferreira Leite e Rui Rio iriam disputar a liderança ao suicidado Passos Coelho.
Na tentativa de perceber o que pretendiam os notáveis, cheguei ao artigo «Também sou candidato
contra Passos» de Sebastião Bugalho no SOL (sem link disponível), do qual transcrevo alguns parágrafos.
«Sete anos depois, finalmente, Passos Coelho tem um adversário assumido para disputar a liderança do PSD. «Nuno Morais Sarmento candidata-se contra Passos» lê-se por aí. Milagre. Só pode. Passado mais de uma década de sair da política ativa, Morais Sarmento abandona o estatuto de eterno candidato e lança-se contra Passos. Quem ler 'Sarmento candidata-se contra Passos' concluiria isso mesmo. Mas é mentira.
(…)
O mais lastimoso não é a dissimulação da tática, quando há militantes que já confundem órgãos dentro do seu partido e imprensa que confunde reuniões internas com congressos, mas os participantes nessa tática.
O Morais Sarmento que foi ministro de Durão Barroso nunca seria candidato a uma 'assembleia distrital de militantes' para morder calcanhares a um líder, enfrentava-o. A Manuela Ferreira Leite que foi presidente de partido não se sentaria à mesma mesa com alguém em tempos acusado de agredir um antecessor já de idade. Eu, pelo menos, achava que não.
O cúmulo da mesma lástima foi ver Rui Rio, que tantos louvam pela sua distinta moral e retidão política, vir a Lisboa massajar os ombros ao dito 'cacique' - citando o termo utilizado por Observador, Expresso e etc.
É esta a alternativa no PSD? Rio, que precisa de resguardar-se em Sarmento para fazer títulos nos jornais? Rio, que quer sacos de votos lisboetas por receio do congresso do próximo ano?
Essa, na verdade, não é a pergunta que mais interessa da referida lástima. É saber porque é que sete anos depois de Passos, o reformista, tomar finalmente o partido, não há uma cara decente para a sua direção candidatar às duas maiores câmaras municipais do país nem uma cara decente sequer para fazer frente a essa direção. É o deserto em ambas as frentes.
O PSD, não vendo futuro, olha para o passado. E o passado, pelos vistos, envelheceu mal. Se ser cabeça-de-lista à tal assembleia distrital de militantes, sendo que as quotas que votarão nele têm tanto de militância quanto um pombo, faz Morais Sarmento passar a 'candidato contra Passos', tenho a dizer que também eu me candidato à assembleia de condóminos do meu prédio. Contra Passos, claro. Quem mais?»
Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)
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Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
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