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29/06/2021

NÓS VISTOS POR ELES: Salazar, o fantasma do fascismo e o fascínio da esquerda

O historiador Tom Gallagher, professor emérito na Universidade de Bradford, publicou vários livros sobre Portugal e recentemente «Salazar — O Ditador Que Se Recusa a Morrer”, a primeira biografia de Salazar por estrangeiro. Numa entrevista ao Expresso exprimiu opiniões ao arrepio do pensamento único vigente, entre as quais destaco o que disse sobre as confusões acerca do fascismo e sobre o fascínio da esquerda pela soluções autoritárias.  

«Permita-me sugerir que não há nenhum reviver do interesse no fascismo. Essa doutrina, porém, nunca deixou de ser uma preocupação da esquerda europeia. Embora eleitoralmente em declínio, com exceção de alguns lugares como Portugal e a Escandinávia, a esquerda domina os media, as universidades, e publicidade e o marketing, bem como as burocracias nacionais e locais. Obviamente, já se desenham planos para um vendaval de eventos mediáticos em torno do centenário da ascensão de Mussolini, para sublinhar o perigo do fascismo. Eu diria que provavelmente nunca houve tão poucos fascistas na Europa como atualmente. Alguns poderão dizer que traços essenciais do fascismo, como o desejo de arregimentar pessoas e de permitir ao Estado intrometer-se profundamente nas suas vidas privadas, fazem parte do armamento dos que agora proclamam em voz alta o seu antifascismo. (...)

 A ala conservadora da política não tem necessidade de ficar na defensiva por causa do desprezo de Salazar pelas eleições e a sua inclinação para depender da censura e de elites restritas. Pelo contrário, será talvez a esquerda que precisa que recuperar a sua fé na democracia, na liberdade de expressão e na limitação dos poderes da elite, em especial os que controlam a informação. Salazar talvez ficasse espantado por elementos da sua fórmula de governação terem sido abraçados por elites corporativas. Logo desde a revolução de 1974-75, tornou-se claro que os comunistas, alguns dos militares radicais e muitos dos extremistas radicais (muitos dos quais viriam a ocupar posições de grande influência) preferiam uma ordem política onde o poder corporativo essencialmente não era contestado, e o cidadão votante tinha pouco a dizer. Será interessante ver em que medida as intenções autoritárias de muitos que estiveram no núcleo da revolução serão reconhecidas durante as comemorações do cinquentenário, ou apenas varridas para debaixo do tapete.»

1 comentário:

Unknown disse...

Estes últimos 40 anos, plus chose, moins chose , foi o que de melhor podia ter acontecido para ilustrar a figura e a Obra de Salazar...