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23/02/2020

COMO VÃO DESCALÇAR A BOTA? (33) - P'ra mentira ser segura... (V)

Outras botas para descalçar

Este post é uma continuação de (I), (II), (III) e (IV)

Em retrospectiva:

Quando há um ano o governo anunciou 104 milhões de euros (três quartos dos quais destinados à área metropolitana de Lisboa) para permitir reduzir o preço dos passes sociais, justificou que daí resultariam mais 100 mil pessoas por ano nos transportes públicos, mais 63 milhões de viagens e menos 72 mil toneladas de dióxido de carbono, escrevi aqui que se tratava de mais um exercício de planeamento milagroso porque as famílias com menores rendimentos já então privilegiavam o transporte público e tinham um passe social.

Os meses foram passando e os resultados milagrosos não aparecerem ou só apareceram do lado dos passes que têm vindo a aumentar, o que se explica pelo acréscimo da procura induzido pela redução dos preços de quem não é passageiro regular, nomeadamente as centenas de milhar de reformados nas zonas metropolitanas.

Já no post anterior se mostrou que os dados apontam para uma redução de apenas cerca de 13 mil dos 370 mil veículos que diariamente entram em Lisboa, inferior a 4%. O inquérito recente Automóvel 2020 do Observador Cetelem, citado pelo Jornal Económico, concluiu que mais de 1/3 dos portugueses têm intenção de comprar carro este ano e nas cidades de Lisboa e Porto essa intenção sobe para 47%.

É claro que é apenas uma declaração de intenção mas mostra que os urbanitas alfacinhas e tripeiros não levam a sério o pensamento milagroso do Dr. Costa e do seu sucessor Medina que os vê a deixarem os seus popós à porta de casa para usarem os poucos, sujos, irregulares e dessincronizados transportes urbanos, transportes que não existem para transportar comodamente e rapidamente os clientes (a quem chamam "utentes") mas para proporcionarem um emprego vitalício aos funcionários das respectivas empresas.

Também é claro que o insucesso destas políticas não é um problema para o governo socialista e dele não retirarão nenhuma consequência. O propósito destas políticas não é terem sucesso e melhorar a vida dos portugueses. O propósito esgota-se em anunciar e retirar os supostos benefícios de imagem e, subsidiariamente, criar mais uns lugares para a clientela eleitoral.

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