A propósito da entrevista a Manuel Machado, escreveu Alberto Gonçalves na sua crónica no Observador:
«Um indivíduo, condenado em tempos por envolvimento num homicídio com motivações raciais e admirador confesso de Salazar, foi a um programa televisivo de variedades. Os censores saltaram com previsível indignação. Infelizmente, no meio da gritaria não se percebeu bem o que os indignou, se a jovialidade com que se entrevistou um criminoso, se o tempo de antena dado a entusiastas de ditaduras.
No primeiro caso, concordo que o tratamento “mediático” (bela palavra) de criaturas responsáveis pela morte de inocentes não deve ignorar o pormenor de as criaturas serem responsáveis pela morte de inocentes. Ou seja, a referida conversa justifica-se em programas de temática criminal ou psiquiátrica, e não em programas “light”, cujos convidados podem incluir, suponho, cançonetistas, cozinheiros, actrizes de telenovela, nutricionistas chamadas Isabel do Carmo, Otelo, o sr. Mortágua e artistas similares.»
Tendo a concordar e acrescentaria que a esquerdalhada indignada em massa pela presença de um admirador de Salazar na televisão, é a mesma esquerdalhada que não consta que se tenha indignado com a presença frequente nas televisões de admiradores de Estaline, Trotsky, Mao e outros ditadores responsáveis pelos gulags, grandes saltos em frente, limpezas étnicas e milhões de mortes.
Por isso, essa indignação a propósito do Botas, uma criatura com um currículo modestíssimo em matéria de atrocidades, além de manifestamente exagerada, é mais um exemplo de uma variante do que costumamos chamar aqui em casa de doutrina Somoza. Neste caso, Roosevelt teria dito «he is a son of a bitch, but he is not our son of a bitch».
Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)
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Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
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05/01/2019
TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: Indignações selectivas
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2 comentários:
E como serve bem à actual classe politica(ou pulhitica melhor dizendo)que tais alarvidades aparecam em nome do nacionalismo(como se uma nação com quase 900 anos devesse depender de tais personagens que levantam bandeiras ideológicas estranhas e estrangeiras)ao contrário do que parece quando mostram desagrado(ver as tais palavras de desagrado do sr ministro Cravinho).Com tais situações(planeadas ou não) o Socialismo globalista vai de "vento em popa".
O último parágrafo do Gonçalves merece ser lembrado: "No segundo caso, não vejo razão para o chinfrim. O tal indivíduo gosta de Salazar? É lá com ele. Em quase todos os canais, quase todas as horas, há apóstolos descarados de genocidas mil vezes piores a dissertar livremente, sem que daí venha mal ao mundo, comichões à ERC ou chiliques a um ministro qualquer. Se se silenciasse a propaganda de déspotas, não seriam apenas as televisões a calar-se: com larga probabilidade, o país ficaria mudo." (do post no observador)
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