Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

30/04/2018

Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça (133)

Outras avarias da geringonça.

Abro a crónica desta semana com um delírio de grandeza da secretária de Estado da Modernização Administrativa, Graça Fonseca, cujo maior feito até à data foi ter partilhado connosco uma informação irrelevante para a governação do país. Agora partilhou connosco outra informação, se possível ainda mais irrelevante, e disse em entrevista que «nos 5 milhões de euros do Orçamento do Estado para propostas dos cidadãos (uma construção de marketing chamada Orçamento Participativo Português) nem o ministro das Finanças pode tocar».

Em resumo, fazendo as contas aos 83 mil milhões da despesa orçamentada, temos a seguinte repartição entre governantes que podem tocar no orçamento:

Graça Fonseca 5/83.000 = 0,006% / Ronaldo das Finanças 82.995/83.000 = 99,994%

29/04/2018

O ruído do silêncio da gente honrada no PS é ensurdecedor (171) - Abafado pelo ruído do nepotismo

«Não acho que seja reprovável uma pessoa viver com dinheiro emprestado de outra. Não é por isso que as coisas estão erradas, mas penso que as pessoas só se deviam pronunciar quando os casos estivessem julgados.»
Arons de Carvalho, fundador, ex-deputado do PS, secretário de Estado de Guterres e mandatário nacional da candidatura de António Costa ao cargo de secretário-geral, em entrevista ao jornal i.

ARTIGO DEFUNTO: As teorias da conspiração como álibi para não fazer nada

Segundo as conclusões de três especialistas que publicaram no Observador o artigo «As falsas “provas” da TVI sobre o incêndio da Mata Nacional de Leiria», não tem qualquer fundamento a a reportagem “A Máfia do Pinhal” emitida no Jornal das 8 de 13 de Abril da TVI que atribui o incêndio na Mata Nacional de Leiria a uma «conspiração de madeireiros para incendiar (...) com o objetivo de obter benefício económico através da depressão do preço da madeira, induzida pelo excesso de oferta e urgência de a vender antes de se começar a degradar»


Atribuir os incêndios florestais a pirómanos ou a conspirações de madeireiros não é absolutamente nada original. Pelo contrário, é bastante popular até entre os "especialistas", pois não é verdade que o semanário de reverência citou um relatório onde se concluiu que 98% dos incêndios têm origem humana, apesar de mais de metade dos incêndios em Portugal não serem investigados?

É claro que atribuir a teorias da conspiração o que resulta de um conjunto complexo de factores causais, como a geografia, o coberto vegetal, a meteorologia e a época do ano, actuando sobre um combustível cuja acumulação pelo abandono das terras, pela incúria dos proprietários e a negligência dos governos é a principal razão da magnitude dos incêndios, nos dispensa de actuar sobre os factores controláveis (essencialmente a acumulação de combustível). Daí a razão da popularidade desta visão.

28/04/2018

Faixa de Gaza, fábrica de mártires explorada pelo Hamas

«Urged on by a Hamas leader who told them not to fear death but to welcome martyrdom, hundreds of Palestinian protesters, at least two armed with handguns, stormed the security barrier from Gaza into Israel on Friday.

Israeli troops responded with lethal force, wounding hundreds, at least several fatally

(NYT)

27/04/2018

CASE STUDY: A luso-sensibilidade à desigualdade e a luso-expectativa que o governo trate disso

O Eurobarómetro «Fairness, inequality and inter-generational mobility» permitiu comparar a percepção dos 28 países em três dimensões. Em duas delas («Justiça e igualdade de oportunidades» e «Progressão temporal») não há diferenças assinaláveis entre as percepções dos portugueses e as médias europeias. Como se pode ver nos diagramas seguintes, onde se encontra um verdadeiro abismo é na «Percepção sobre as desigualdades de rendimento» em que os resultados de Portugal mostram que os portugueses: (a) são os mais sensíveis às desigualdades (apesar de Portugal não ser o país mais desigual) e (b) os que mais esperam que o governo intervenha para as reduzir.


Não há razão para surpresa. Já por diversas vezes citei as análises de Geert Hofstede que mostram os portugueses como um dos povos mais femininos do mundo (com um baixo score na dimensão cultural masculinidade do modelo de Hofstede) e também um dos mais colectivistas (com um baixo score na dimensão cultural individualismo), de onde a extrema sensibilidade à desigualdade (corolários: direitos adquiridos e progressão automática nas carreiras independente do desempenho) e a forte expectativa que o governo trate disso (corolários: tendência esquerdizante e preferência pelo nanny state).

26/04/2018

CASE STUDY: Trumpology (31) - Give a dog a bad name and hang him

Mais trumpologia.

Não faltam motivos para criticar Donald Trump pela sua errática e desastrosa presidência, o que torna difícil perceber porque o atacam sem razão em vários casos como o da performer porno Stephanie A. Gregory Clifford, petit nom Stormy Daniels.

Numa sociedade que aceita a profusão de escolhas sexuais representadas na sigla LGBTQQIAAP (L = lesbian, G = gay, B = bisexual, T = transgender e fiquei a saber que Q = queer, Q = questioning, I = intersex, A = allies, A = asexual, P = pansexual), o que tem de condenável uma transacção comercial sexual ocorrida em 2006 entre um promotor imobiliário e a citada performer?

E se o promotor imobiliário resolveu candidatar-se à presidência, sabendo-se como os mídia americanos desenterram esqueletos e coscuvilham as cuecas dos candidatos, não é razoável que faça outra transacção com a perfomer em questão, dez anos depois da primeira, propondo-lhe através do seu advogado um acordo de confidencialidade e pagando-lhe a bonita soma de USD 130 mil?

Claro que é razoável. Irrazoável seria Trump ter pressionado e intimidado uma inocente estagiária para lhe proporcionar um fellatio gratuito na Sala Oval e, em cima disso, baseado no subtil distinguo inspirado na jurisprudência do tempo da condenação das bruxas da Salém entre coitus e fellatio tivesse negado publicamente ter tido sexo com ela («I did not have sexual relations with that woman») e tivesse sido aplaudido por uma audiência de mastronç@s que vinte anos mais tarde arvorariam com a maior falta de vergonha o hashtag metoo.

Resta acrescentar a falta de vergonha da performer Stormy que, depois de ter livremente aceite vender o seu silêncio por USD 130 mil, resolver accionar o promotor imobiliário entretanto eleito e, ainda por cima, depois de ter conseguido o título de the world’s most searched for porn star atribuído por um jornal especializado.

25/04/2018

DIÁRIO DE BORDO: Um 25 de Abril impertinente

O meu 25 de Abril foi o dia em que comecei a descobrir que as coisas não eram o que pareciam ser.

Em que comecei a descobrir que o país estava coalhado de democratas, socialistas e comunistas nunca antes vistos, nascidos nos escombros do colapso por vício próprio do edifício decadente do Estado Novo. Pouco a pouco, nos dias e meses seguintes, para minha surpresa, o coalho derramou-se pelo país numa maré do coming out, como lhe chamaríamos hoje. Em cada empregado servil, venerador, de espinha dobrada e mão estendida, havia um heróico sindicalista pronto a lutar pelos direitos dos trabalhadores e pelo «saneamento» do patrão.

Em que comecei a descobrir como tinha sido possível o marcelismo ter-se mantido de pé 6 longos anos, depois do Botas ter caído da célebre e providencial cadeira. Que nunca tinha havido uma oposição digna desse nome. Que a mole imensa do povinho lá tinha feito pela vidinha, esgueirando-se pelas frestas das fronteiras, pelas cunhas da tropa e pelas veredas das guerras do ultramar.

Em que comecei a perceber que o leitmotiv do drama não era uma ditadura suportada por uma direita retrógrada e infinitamente estúpida. Nem era uma ditadura provinciana, bafienta, decadente, de brandos costumes, que mantinha um número de presos políticos que envergonharia qualquer ditadura à séria (112, depois dum mês agitado de prisões).

Em que comecei a perceber que também não era a guerra colonial, que em 25 anos fez o equivalente ao número de mortos de 4 ou 5 anos de guerra rodoviária. Nem a guerra cujo fim foi uma humilhante fuga às responsabilidades (nem mais um só soldado para as colónias, berravam os bloquistas avant la lettre) que desencadeou em Angola, Moçambique e Timor a enorme hecatombe humana dos 20 anos seguintes.

Em que comecei a perceber que o leitmotiv do drama era a resposta à pergunta: como foi possível a uma tal ditadura manter-se quase 50 longos anos sem ter sido seriamente ameaçada?

Em que comecei a perceber que o 25 de Abril foi princípio do fim das nossas desculpas como povo. Que nada adiantaria sacudir a água do capote, e mandar a coisa para cima dos eles que escolhemos para nos desgovernarem.

E foi neste 25 de Abril que descobri que já não me restava pachorra para aturar, mais um ano, as comemorações do gang do esquerdismo senil que se julga proprietário da data.

[Este post foi publicado no trigésimo aniversário da chamada revolução dos cravos. Hoje poderia escrever o mesmo, mas não foi preciso porque já estava escrito.]

SERVIÇO PÚBLICO: Causas de que o jornalismo de causa prefere ignorar

«Mas não fazer nada de jeito, nada de relevante, nada de fundo sobre a Operação Marquês é mesmo uma opção jornalística? Deve mesmo tratar-se este caso como todos os outros ou como as questões do momento que vão e voltam? Ou, neste caso, é uma profunda e determinada opção de não jornalismo?

É mesmo uma opção editorial dedicar mais recursos e tempo a falar dos dramas do consumo do abacate ou do futuro da mobilidade urbana do que da Operação Marquês? A pergunta é demagógica e capciosa, porque qualquer jornal, site, rádio ou televisão fazem dezenas de escolhas diárias em paralelo e umas não anulam as outras. Mas a resposta não é demagógica nem capciosa: não, não deve ser opção editorial não dedicar um esforço sério a este caso. Infelizmente foi a de muitos jornalistas e redações, que se esconderam na confortável sombra de um manto que explica tanto o tempo da justiça como o silêncio tático da política.

Os jornalistas não são juízes nem políticos. Não se devem confundir com eles. Mas não podem usar as limitações ou as hesitações daqueles como argumentos para a sua confortável inação, que, no limite, redunda numa profunda incompetência ou inutilidade.»

«Isto não é não jornalismo», FacebookRicardo Costa no Expresso Diário, defendendo a reportagem da SIC sobre a Operação Marquês que desencadeou uma indignação que está mais preocupada com a violação do segredo de justiça (que aliás não teve lugar porque a acusação está feita) do que com «a divulgação da acusação mais grave da nossa democracia, que cruza a maior falência bancária do pós-25 de Abril e o colapso da jóia da coroa da bolsa portuguesa».

24/04/2018

Depois de 27 (vinte e sete) meses de execução orçamental teve uma epifania

Jornal Económico

Lost in translation (304) - O senhorio dos senhorios



«Garantimos a todos os portugueses o direito a uma habitação adequada» disse Costa durante a apresentação da contra-reforma do arrendamento para habitação.

Sabendo que nem Costa, nem o governo, nem mesmo o Estado Sucial dispõe de meios (habitações para arrendar ou oferecer ou dinheiro para pagar as rendas aos senhorios) para garantir tal coisa, não percebi o enigma e recorri mais uma vez ao nosso tradutor automático (um web bot de AI com machine learning baseada numa Neural Network com acesso a servidores de Big Data), que me sugeriu a seguinte tradução:
«Vamos obrigar os senhorios a arrendarem as habitações que nós quisermos, a quem nós quisermos, pelo preço que nós entendermos. Ou melhor, estamos a pensar fazer isso e esperamos as reacções. Depois logo se vê. Até pode ser que se esqueçam.»

23/04/2018

Títulos inspirados (75) - Mais? Não estão já os suficientes?

Ciganos querem mais ciganos na política

ci·ga·no 
(talvez do francês antigo cigainactual francês tsigane ou tzigane)
adjectivo
1. Relativo a ou próprio dos ciganospovo nómadade origem asiáticaque se espalhou pelo mundo (ex.: canto cigano). = ZÍNGARO
...
adjectivo e substantivo masculino
...
6. [Pejorativo]  Que ou quem age com astúcia para enganar ou burlar alguém. = BURLÃOIMPOSTORTRAPACEIROVELHACO


"cigano", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008- 2013, https://www.priberam.pt/dlpo/cigano [consultado em 23-04-2018].

Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça (132)

Outras avarias da geringonça.

Depois de ter aumentado a despesas com salários em 530 milhões em 2016 e em 400 milhões em 2017, o governo prepara-se para a aumentar mais mil milhões de euros (valor bruto) entre 2018 e 2020 à pala do «descongelamento das carreiras» um eufemismo para esconder a promoção por antiguidade e sem mérito.

Ao mesmo tempo, escreve o Negócios, o «governo assume alívio no redução dos funcionários públicos», o que é uma maneira criativa de dizer que o governo não só não cumpriu o compromisso com Bruxelas de só contratar um por cada dois funcionários que saíssem como acabou a aumentar o número de utentes da vaca marsupial pública.

Moral da estória: manter a freguesia da geringonça satisfeita não é barato.

O ruído do silêncio da gente honrada no PS é ensurdecedor (170) - De vez em quando ouve-se uma vozinha


Instrumento de corruptos e criminosos. Esta deve ser uma das poucas coisas em que concordo com La Pasionaria do PS. Regeneração? Como regenerar um partido em que os seus órgãos estão ocupados por uma maioria de corruptos e seus cúmplices, por acção ou omissão? Como regenerar um partido em que um ex-secretário-geral e actual presidente do parlamento não vê nada de reprovável no facto de um presidente do partido que empregou no Estado toda a família receba subsídios de viagem por viagens que não paga? Sem falar no governo, atestado de gente que carregou Sócrates ao colo ou, na melhor hipótese fechou os olhos.

E não me venham dizer que todos os partidos ou todos os políticos são iguais, porque não são. E, ainda que todos fossem iguais, alguns são mais iguais que os outros, como no Triunfo dos Porcos.

22/04/2018

SERVIÇO PÚBLICO: A intervenção da geringonça no arrendamento, uma espécie de Reforma Agrária do século passado

«Aquilo que está subjacente à histeria em torno da dita crise da habitação é o velho horror ao mercado. E é também o ódio de classe da oligarquia estatista a tudo e a todos que procuram obter rendimentos que não passem pelo crivo dos subsídios, dos apoios e dos programas propagandeados por juntas de freguesia, câmaras, gabinetes, institutos, linhas de apoio…

(...)

O que interessa é o potencial de controlo político que cada intervenção estatal comporta. E no caso da habitação esse potencial é enorme. Tanta declaração de rendimento para ser passada e confirmada. Tanto sociólogo a dizer “os nossos bairros” para explorar o ressentimento. Tanta mediador cultural para servir de interlocutor. Tanta empena mal impermeabilizada mas cobertinha por murais artísticos.

Esse universo anunciado de rendas sociais, rendas reguladas, rendas acessíveis e rendas condicionadas ocupa hoje o lugar que a Reforma Agrária desempenhou no século passado: a esquerda acredita que é ali que fará a sua sementeira de votos.»

Continue a ler este artigo imperdível de Helena Matos

A geringonça tem visão que Ronald Reagan caracterizou com ironia e rigor assim: «If it moves, tax it. If it keeps moving, regulate it. And if it stops moving, subsidize it

A metalúrgica do regime afunda-se com ele (10)

Actualização de (1), (2), (3), (4), (5), (6), (7) , (8) e (9)

Recordando: a Martifer, dos irmãos Martins, foi em tempos um dos exemplos de sucesso de José Sócrates e uma das meninas dos olhos do jornalismo promocional (uma variante do jornalismo de causas). Quando começou a afundar-se foi acolhida em 2007 pela Mota-Engil, a construtora mais emblemática do regime, de que foi presidente executivo Jorge Coelho que agora voltou à administração como lóbista em chefe. A Martifer teve mais 137 milhões de euros de prejuízos em 2014 e esteve desde Abril de 2015 a tentar vender 55% da Martifer Solar que contribuiu com metade dos prejuízos do grupo. Em Agosto de 2016 uma participação de 55% da Martifer Solar foi finalmente vendida à francesa Voltaliad. Nessa altura a Martifer Solar foi avaliada em de nove milhões de euros, uma fracção do que lá foi torrado.

Sem surpresa para ninguém, o principal financiador da Martifer foi o BES, à época o banco do regime, créditos que foram herdados pelo Novo Banco que entretanto já havia perdoado 26 milhões à Estia, uma imobiliária dos Martins. Entalado com os restantes muitos mais milhões, o Novo Banco pressionou a Mota-Engil (outro dos grandes devedores do Novo Banco) a tomar conta da gestão afastando os irmãos Martins. A estória está aqui relatada no Expresso num tom eufemístico e fantasista, como seria de esperar de um jornal promotor da Martifer pela pena de Nicolau Santos.

Assim continua a purga dos 6 anos do festim socrático e se consuma mais um episódio da defesa dos centros de decisão nacional.

21/04/2018

CASE STUDY: A doutrina Somoza como modo de vida (4)

A acrescentar aos múltiplos exemplos de gente que não é de esquerda e de empresários que foram constituídos arguidos, condenados e presos pela justiça brasileira, temos agora Aécio Neves, senador e ex-candidato presidencial pelo PSDB, constituído arguido na Operação Lava Jato. Aécio Neves foi incriminado com base em gravações feitas em maio de 2017 pelo empresário Joesley Batista que beneficiou do regime de delação premiada.

Alguém clamou que se tratava de um golpe da esquerda revolucionária, socialista, comunista? Alguém ouviu Aécio Neves discursar em cima de um telhado contra a justiça e a comunicação social?

Dúvidas (220) - Se metade dos incêndios não é investigada como se sabe que 98% têm origem humana?

Mais de metade dos incêndios em Portugal não são investigados

Relatório conhecido esta sexta-feira revela que 98% dos incêndios em Portugal têm origem humana...

20/04/2018

COMO VÃO DESCALÇAR A BOTA? (16) - A "competividade" e a "protividade", segundo Costa

É certo que um Costa que em 25-01-2015 nos diz "Vitória do Syriza é um sinal de mudança que dá força para seguir a mesma linha" e decorridos 3 anos nos diz em 16-04-2018 que aspira a bater o recorde europeu de redução da dívida ao mesmo tempo que em valor absoluto a tem vindo a aumentar, merece pouco crédito. Ainda assim, a capacidade de nos surpreender permanece intacta como mostram as suas declarações no jantar do 45.º aniversário do PS, junto ao Cristo Rei, um local apropriado para nos anunciar novos milagres:
«A direita dizia que para Portugal recuperar competitividade era preciso baixos salários e fragilização dos direitos laborais. A verdade é que aumentámos o salário mínimo em 2016, em 2017, este ano – e ficam já a saber que voltaremos a aumentá-lo em 2019 (Expresso)
Confrontemos o discurso de Costa sobre a recuperação da "competividade", como ele lhe chama, com a realidade baseada em dados actualizados na véspera desse discurso.

Labour productivity and unit labour costs (Eurostat)
Entre o ano anterior ao resgate e o último ano do governo PSD-CDS a produtividade (ou "protividade", segundo o costês) aumentou 1,9%. Nos dois anos do consolado de Costa a produtividade desceu 0,3% e em relação a 2010 Portugal foi o quarto país da EU28 em que a produtividade menos progrediu. Vamos ver como Costa descalça a bota quando a festa acabar, ruir o palanque das fantasias e os salários reais voltarem a cair para compensar a perda de competitividade. Os seus antecessores fugiram, um para Genebra e outro para Paris. Tentará Costa fugir para Belém desalojando o inquilino actual, outro contador de estórias?

Lost in translation (303) - Ronaldo das Finanças sobre o resgate do Montepio


Mário Centeno, o Ronaldo das Finanças aka o Vítor Gaspar do PS, disse em entrevista ao Negócios, a propósito da misericórdia da entrada das Misericórdias no capital da Associação Mutualista Montepio Geral que «se formos chamados a ajudar o Montepio temos de estar disponíveis» porque «o garante último da estabilidade financeira é o Governo, e dentro do Governo o ministro das Finanças».

Confundido com o enigmático pensamento de Centeno, recorri, uma vez mais, ao nosso tradutor automático (um web bot de AI com machine learning baseada numa Neural Network com acesso a servidores de Big Data), introduzi o seu discurso e obtive o seguinte output:
«O dinheiro destinado às obras sociais que mandámos as Misericórdias injectar na instituição controlada pelas maçonarias chamada Associação Mutualista, não chegará para a resgatar. Por isso, os contribuintes têm de estar disponíveis para lhes ser extorquido mais dinheiro para a manter a flutuar.»

19/04/2018

A mentira como política oficial (42) - "Como se finge que não se está a fazer fazendo"

«Durante quase dois anos e meio, o Governo disse uma coisa e fez outra, como se alertou várias vezes neste espaço a partir determinada altura. Reduziu o défice público e caminha para o excedente orçamental, está a conseguir controlar a dívida e tem consciência que está longe de ter o problema das contas públicas resolvido. Mais do que tudo isso, concretizou em 2017 uma política orçamental que segue as melhores práticas de política económica: contra-cíclica, como salienta o Conselho de Finanças Públicas.

Fez tudo isso à socapa, dizendo que não o estava a fazer – afinal estavam a ser repostos rendimentos com a eliminação dos cortes salariais na função pública e das pensões e o fim da sobretaxa. E como é que se concretizar uma política de redução do défice público mascarada de expansionista, como se finge que não se está a fazer fazendo? Cortando em despesa pública que não tem representantes, que não está capturada, que é de todos e não é de ninguém. Despesa pública que só se nota que faz falta a prazo. É assim que chegamos aos cortes no investimento público.

O importante, dirão os pragmáticos, é atingir os objectivos. Os meios com que se atingem esses objectivos não são relevantes. Se é preciso fingir, finge-se. Se é preciso cortar em despesa, que se corte na que não tem associações ou sindicatos que a defendam. Esta pode ter sido a táctica que conseguiu conciliar os objectivos económico-financeiros (de redução do défice e conquista da confiança na economia) com os objectivos políticos (de conquista e estabilização do poder). E deste ponto de vista António Costa e Mário Centeno foram brilhantes na frieza com que traçaram e concretizaram este caminho. Mesmo sabendo que, se corresse mal, o país pagaria um preço elevado. Mesmo sabendo que não estava a dizer toda a verdade ao seu povo. Mesmo sabendo que cortar despesa pública sem voz é desproteger os mais frágeis, os que precisam dos serviços públicos básicos. Mas tudo isso só se vê a prazo, como só a prazo um dia o povo poderá perceber os fingimentos.»

Excerto de «Temos um novo António Costa?», Helena Garrido no Observador

Acrescente-se que o sucesso desta mistificação só foi possível aproveitando a extrema infantilização do eleitorado português com a cooperação do jornalismo de causas que infesta as redacções arregimentado à volta da geringonça. E não, o importante não é apenas atingir os objectivos. O que distingue as sociedades democráticas é que nem todos os meios são legítimos.

De resto, os objectivos, isto é as metas que foram fixadas no programa de governo, não foram atingidos: a austeridade não terminou, modificou-se; o investimento público não aumentou, reduziu-se significativamente; a descapitalização da economia prosseguiu e o crescimento não foi por via da distribuição de rendimentos e do consumo, como pretendia o PS, mas por via do turismo e das exportações. E quando chegar a próxima crise - a única certeza quanto às crises é que acabarão por chegar - já não teremos os 170 mil milhões de dívida pública que tínhamos no início do resgate de 2011 mas 250 ou 300 mil milhões.

18/04/2018

Tradition? Tradition is no more what it used to be

Quando há mais de duas décadas tive os primeiros contactos com a SAP, o gigante alemão que criou o conceito de ERP (Enterprise Resource Planning) e desenvolveu os sistemas mais populares nesta área (R/2, R/3 e actualmente R/4Hanna), era ainda uma empresa quase tipicamente alemã com uma imagem relativamente tradicional e conservadora.


Este ano um dos seus eventos vai ser em Lisboa no dia 23 de Maio. Vejam-se três dos artistas que destacou para o show alfacinha: Chiefs Futurist & Evangelist.

Profissões de risco na Rússia do czar Putin: ex-espiões e repórteres desalinhados

Em Março tivemos a quase morte de Sergei Skripal, um ex-espião duplo, alegadamente envenenado com uma substância que por acaso é produzida na Rússia de Putin e não se vende nas drogarias. Em Abril foi a vez de Maxim Borodin, jornalista russo que recentemente publicou uma reportagem sobre a morte na Síria de centenas de mercenários russos recrutados por um capanga de Putin.

Pouco antes de ter caído do 5.º andar onde morava, Borodin tinha telefonado a amigos dizendo ter visto pessoas com máscaras e camuflados a rondarem o seu apartamento. Foi 38.º jornalista desalinhado a morrer nos últimos quatros anos. De onde podemos concluir que na Rússia de Putin o desalinhamento apresenta uma elevada taxa de mortalidade.

16/04/2018

CASE STUDY: Trumpologia (30) - «Morally unfit»

Mais trumpologia.

Em entrevista ao canal ABC News, a propósito do livro (A Higher Loyalty: Truth, Lies, and Leadership) que acaba de publicar sobre a sua experiência como director do FBI, demitido por Trump em Maio do ano passado, James Comey classificou-o como mentiroso compulsivo («serial liar»), eticamente desajustado ao cargo («morally unfit») e não reflectindo os valores dos Estados Unidos («This president does not reflect the values of this country»). É difícil discordar.

Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça (131)

Outras avarias da geringonça.

A que passou foi a semana Centeno, em que o Ronaldo das Finanças, ou o Vítor Gaspar socialista como lhe começam a chamar pela sua "obsessão" com o défice, ocupou o palco ajudando (malgré lui?) Costa a poupar-se e proporcionando a Catarina e Jerónimo um bode expiatório mais acessível e um saco mais barato da porrada destinada a Costa, e também ajudando o próprio Centeno a posicionar-se melhor para o olimpo da Comissão Europeia.

Como motivo adicional de notoriedade de Centeno e das suas cativações, neste caso partilhada com o Adalberto, tivemos o escândalo da ala pediátrica do hospital S. João (recorde-se a propósito o boicote à iniciativa da Associação Joãozinho promovida por Pedro Arroja) e ficámos a saber que segundo os últimos dados do Ministério da Saúde de 30-11-2017, «pelo menos 74 consultas espalhadas por todo o país apresentavam prazos médios acima de um ano, o que afectava cerca de cem mil doentes».

15/04/2018

CASE STUDY: Catarina, um caso extremo de personalidade múltipla

«Um dos fenómenos mais bizarros da vida política portuguesa é a existência de duas Catarinas Martins (como se uma não chegasse). A ‘Catarina Martins I’ vota a favor dos orçamentos deste governo. E já votou a favor de três, todos eles da responsabilidade do ministro das Finanças. Mas, depois, a ‘Catarina Martins II’ anda pelas ruas das nossas cidades, com as televisões atrás, a protestar contra o orçamento que a versão número um da senhora aprovou. A nossa Catarina Martins deve achar que os portugueses são estúpidos ou então julga que a política não é mais do que um palco de teatro. Em Portugal, o populismo, a demagogia e o oportunismo juntaram-se no Bloco de Esquerda e são levados ao palco pela Catarina.»

«O Bloco transformou Centeno no novo Vítor Gaspar», João Marques de Almeida no Observador

Mitos (273) - O capitalismo é o maior responsável pela degradação do ambiente

Que o capitalismo desde a revolução industrial tem causado danos ao ambiente parece inquestionável. Ainda assim, está longe de rivalizar com o socialismo real na sua versão soviética e maoista, como o demonstram a ex-URSS e a China que infligiram (e infligem) danos ao seu ambiente que não encontram paralelo nos países capitalistas. Entre parêntesis: ao contrário do socialismo real, o socialismo utópico está inocente a este respeito; os únicos danos que costuma infligir são ao cérebro dos seus prosélitos.

E antes do capitalismo e da revolução industrial seria o mundo um paraíso bucólico? Segundo a lengalenga na versão rousseauniana, no mundo pré-capitalista o homem e a natureza viviam em perfeita harmonia.


Pois parece que não. Há vários exemplos, e hoje cito o da Islândia que antes da chegada dos vikings no final do século IX tinha um quarto da sua superfície coberta por floresta e com o abate em grande escala de árvores para a construção de barcos e libertar terra para a agricultura que se seguiu ficou praticamente desflorestada. Apesar do esforço constante de reflorestação, iniciado com uma homérica tempestade de areia em 1882, a área coberta é ainda insignificante e ao ritmo actual estima-se que para atingir o objectivo de 5% da área total serão precisos 150 anos. (Fonte)

14/04/2018

Dúvidas (219) - Quem disse que o mundo está cada vez pior?

Tal como a mentira circula mais depressa e chega mais longe do que a verdade, no Twitter e noutros sítios, o mesmo se passa com as más notícias e as visões catastrofistas. O mundo parece um palco de tragédias, um vale de lágrimas e está cada vez pior, diz-se.

Para quem pensa assim, provavelmente a maioria dos que já abandonaram a adolescência (no passado no final dos teens, actualmente cada vez mais nos entas), a leitura recomendada é «Enlightenment Now: The Case for Reason, Science, Humanism and Progress» de Steven Pinker.

Alguns exemplos para contrariar a ideia de que tudo está cada vez pior. O mundo actual é 100 vezes mais rico do que há 200 anos e é menos desigual. A parte do PIB mundial com origem em países em vias de desenvolvimento (alguns em vias de subdesenvolvimento, digo eu), que em 1990 era de 20% e actualmente é quase metade, estima-se que seja de 55% em 2020. A proporção anual de vítimas mortais em guerras é inferior a um quarto dos anos 80 e a meio por cento do período da II Guerra Mundial. O número de armas nucleares diminuiu 85% desde o seu máximo. Durante o século 20 a probabilidade de um americano morrer num acidente de automóvel, num incêndio ou no trabalho diminuiu 96%, 92% e 95%, respectivamente.

Em todo o mundo os QI médios aumentaram 30 pontos em 100 anos, devido a uma melhor alimentação e melhores estímulos ao desenvolvimento mental. Há 200 anos apenas 1% da população vivia numa democracia e actualmente vivem dois terços (nem que seja numa democracia limitada, digo eu).

A tolerância também progrediu significativamente. Os gays e outros praticantes de sexo alternativo que ainda há poucas décadas eram perseguidos são hoje uma minoria influente que dita as modas. Em 52 países, 45 aumentaram a felicidade em 1981 e 2007.

13/04/2018

NÓS VISTOS POR ELES: O segredo da social-democracia de Costa é ser apenas um aparelho eficaz para o manter no poder

A geringonça vista pelo cartunista da Economist
«Even Mr Costa’s opponents concede that he is a canny operator. But his success has been oiled by a healthy squirt of good luck. The Socialists assumed office as Portugal’s recovery took off, aided by growth in the European markets that take 70% of its exports, and built on the measures taken by the previous government. The European Central Bank’s bond-buying had calmed markets. Tourism has boomed, thanks to instability in other warm countries. Perhaps most importantly immigration, the issue tearing apart so many European parties of the left, does not animate Portuguese voters. It is the departure of people that causes a bigger headache: during the crisis 250,000 Portuguese, disproportionately of working age, upped sticks in four years.

Portugal’s squeeze on spending had to be financed from somewhere. The axe has fallen on public investment, which was slashed in 2016 to the lowest level in the EU. Mario Centeno, the finance minister, says this was largely the result of a temporary drop in EU subsidies, and chuckles at the sight of “so-called neoliberals” who now consider Keynes their “god”. He prefers to draw attention to Portugal’s healthier banks and buzzing universities, though he adds that investment is climbing again. Another fear surrounds Portugal’s huge debt, which explains Mr Centeno’s relentless focus on the deficit.

As this suggests, Portugal’s left-wing government is thriving partly because it is not especially left-wing. For now it is fixated on deficits and debt rather than investment and public services. A centre-right government would be doing much the same. And so, despite Mr Costa’s warm words, the contraption will surely prove to be a temporary marriage of convenience; his party is already said quietly to be putting out feelers to the Social Democrats. European leftists may find inspiration in Portugal. But they will have to seek ideas elsewhere.»

Excerto de «Social democracy is floundering everywhere in Europe, except Portugal», The Economist

Registe-se o notável descaramento de Centeno ao referir-se aos so-called neoliberals” who now consider Keynes their “god”. Um Centeno que foi o principal autor do relatório «Uma década para Portugal» onde escreveu:
«O investimento é o motor da economia, ... O investimento privado espera-se que cresça 25% ao longo da legislatura, acompanhado por uma aceleração do investimento público de cerca de 11%.»
E um Centeno que foi o principal responsável em parceria com Costa por ter reduzido o investimento público em 2016 e 2017 em 32% e 16%, respectivamente, e ter passado Portugal de terceiro país na UE com mais investimento público em 2010 para o país com menos investimento público em 2017. Isto não tem nada a ver com Keynes, isto tem a ver com a paralisia da máquina administrativa de um Estado agora apenas focado na satisfação das freguesias eleitorais do PS, PCP e BE.

O ruído do silêncio da gente honrada no PS é ensurdecedor (169) - O polvo socialista no seu habitual


«CML fez pagamentos ilegais de 96 mil euros a histórico do PS

Fernando Medina e Manuel Salgado poderão ser obrigados a repor nos cofres municipais os montantes que a Câmara de Lisboa pagou a Joaquim Morão. Além disso, parte da responsabilidade pela devolução das pensões indevidamente recebidas pelo ex-autarca poderá ser atribuída aos dois autarcas de Lisboa

(Uma peça de José António Cerejo no Público, o jornalista que investigou vários casos envolvendo José Sócrates e um dia disse que «todas as direcções que o Público teve (...) tentavam ... expurgar (os seus artigos) ou levar-me a expurgá-los de aspectos que eles tinham o direito de não partilhar e de não aceitar mas que, para mim, eram muitas vezes sentidos como formas de condicionamento».

ACREDITE SE QUISER: Para os cépticos que pensavam que Guterres não faria diferença nenhuma na ONU

«Despite accusations that it perpetrated yet another deadly chemical weapons attack on Saturday, Syria will next month chair the United Nations disarmament forum that produced the treaty banning chemical weapons, sparking calls by an independent monitoring group for the U.S., the EU, and UN chief Antonio Guterres to strongly protest, and for their ambassadors to walk out of the conference during the four weeks of the Syrian presidency. »

UN Watch

Como escreveu O Insurgente, ter a Síria a presidir ao fórum de desarmamento das NU sobre armas nucleares e químicas, é como ter pedófilos na creche, sob o olhar desaprovador do director Guterres, acrescento.

12/04/2018

Estalinista, disse ele

«O PS é um partido estalinista» disse em entrevista ao jornal i Ricardo Gonçalves, antigo deputado do PS, explicando que «as estruturas intermédias do PS são hoje dominadas por Pedro Nuno Santos».

Ricardo Gonçalves deve saber do que fala. Ainda assim, é um exagero - Costa ainda não inaugurou uma colónia correctiva administrada por um Gulag. Seria mais rigoroso dizer que o PS de Costa tem tiques de partido estalinista, como de resto toda a esquerda (e parte da direita, já agora). Tiques como, por exemplo, o agitprop, o controlo sobre a imprensa amiga, a política da mentira, a incomodidade com a divergência e, last but not least, a doutrina Somoza.

ACREDITE SE QUISER: Depois de sermos todos Centeno, fomos todos Adalberto e agora descobrimos que Centeno é o Adalberto

Primeiro foi o Adalberto a dizer que «Somos todos Centeno». Depois foi Centeno a dizer que «Somos todos Adalberto». De seguida foi Catarina postulando que «para Centeno brilhar, os serviços públicos não podem ficar às escuras».

Por fim Centeno escalpelizou o problema da ala pediátrica do Hospital de S. João, demonstrando que mais do que sermos todos Adalberto, o Adalberto é ele.

11/04/2018

CASE STUDY: O agitprop das rendas a triplicarem para cem mil famílias de Lisboa

Ontem e hoje, os tambores do agitprop rufaram em uníssono nos jornais e nas televisões (por exemplo: Eco, Observador, SIC, Sábado, Económico, SOL) a notícia originária do DN a propósito do final do regime transitório de actualização das rendas que vigorou entre 2012 e 2017 e foi adiado o ano passado por mais 3 anos, até 2020.

A «denúncia» feita por Romeu Lavadinho, presidente da Associação dos Inquilinos Lisbonenses e creditado pelo PCP como apoiante da CDU (do you know what they mean?), foi replicada em todos os jornais de forma idêntica à do título do DN: «Há cem mil famílias em risco de ver a renda triplicar a partir de 2020».

Vejamos a coisa mais de perto. Cem mil famílias em risco? Em 2011 existiam em Lisboa 237.438 alojamentos familiares. Cem mil famílias são 42%. Logo numa cidade que tem um rendimento per capita 2,14 vezes a média nacional ou quase 23 mil euros por habitante ou quase 50 mil por alojamento com dois habitantes.

Segundo o próprio Lavadinho, «terminado o período transitório, o valor da renda a apurar será igual a 1/15 avos do valor patrimonial do imóvel». Admitindo-se que em média o valor patrimonial tributável (VPT) em Lisboa é 1/3 do valor de mercado, o senhorio virá a receber uma renda representando 2,2% (= 1/15 : 3) do valor de mercado do alojamento (VMA), isto é do capital que tem investido. Com este rendimento bruto terão de ser pagas as despesas correntes, tais como:

  • 28% de IRS sobre a renda bruta, isto é 0,62% do VMA
  • IMI 0,3% do VPT, ou seja 0,1% do VMA
  • Condomínio 0,3% a 0,6% do VMA

Chegados aqui, sobram entre 0,9% e 1% do VPT que dificilmente chegarão para obras de manutenção, quanto mais para remunerar o capital correspondente ao valor de mercado.

Renda a triplicar? Para triplicar uma renda que não poderá ultrapassar 1/15 do VPT, então a renda actual teria de ser 1/45 do VPT e um T1 com um VPT de 30 mil euros onde vive um casal de velhinhos pagaria agora uma renda mensal de 56 euros (30.000/45 : 12). Essas rendas existem? Se existem os proprietários já terão morrido de inanição.

Mas vamos imaginar que sim, que tudo isto não é apenas agitprop e que o Estado Sucial entende que os inquilinos pobres devem ser apoiados. Faz algum sentido obrigar os senhorios (que com rendas desse valor só podem ser pobres) a fazerem o papel hipotético do Estado Sucial?

Manifestações de paranóia/esquizofrenia (25) - Catarina, a inimputável

«Esquizofrénico é alguém que perde a capacidade de pensar de uma forma lógica e, consequentemente, de comunicar e de se relacionar, passando a viver num mundo paralelo e sem as normas pelas quais se regem as pessoas ditas normais».
Exemplo:
«Sabemos, por isso, que o que se está a passar no PT é um golpe contra a democracia, sabemos que é um golpe da direita reacionária, racista, fascista, a mesma que destituiu Dilma, que matou Marielle e prende Lula. E aqui sabemos de que lado estamos, com todos aqueles que não desistem da democracia, a solidariedade à esquerda tem de ser sempre solidária.» 
Catarina Martins, num almoço comemorativo do 19.º aniversário do Berloque de Esquerda.

10/04/2018

CASE STUDY: A doutrina Somoza como modo de vida (3)

«Lula da Silva faz um discurso interminável em cima do telhado de um sindicato, insultando a comunicação social, enlameando a justiça, afirmando que a sua prisão irá provocar “orgasmos múltiplos” aos seus detractores, e chegando ao ponto de garantir que foram os tribunais brasileiros a apressar a morte da sua mulher. Em qualquer lugar do mundo, este seria o discurso de um demagogo e de um populista. Se acaso Donald Trump fosse preso, diria mais ou menos aquilo, só que de fato e gravata, em inglês e na Trump Tower. A demagogia, a manipulação, o ressentimento e o recurso às teorias da conspiração seriam iguaizinhas. E, no entanto, para a esquerda portuguesa, Lula da Silva, o homem do Mensalão, é um preso político e a pobre vítima – palavras de Catarina Martins, grande pilar do governo da República Portuguesa – de “um golpe da direita reaccionária, racista e fascista”»

«De Lula a Bruno de Carvalho: olhar e não querer ver», João Miguel Tavares no Público

A Justiça brasileiro já julgou e condenou quase duas centenas de arguidos no caso Lava Jato - ver uma lista desactualizada aqui. Entre eles encontramos gente de vários partidos e de várias profissões.(*) Excepto no caso de José Dirceu, guerrilheiro, second-in-command no primeiro governo de Lula e organizador do «Mensalão» (o esquema de compra de votos dos deputados federais de outros partidos para votarem as propostas do governo Lula), as condenações e prisões não geraram protestos, algumas até suscitaram satisfação - as de empresários e de gente de direita.

Agora com Lula condenado com base em provas irrefutáveis está a ser o que se vê, não há esquerdalho lusitano que não saia em sua defesa. Deviam dizer como Franklin D. Roosevelt em 1939 a propósito do apoio ao ditador Somoza: «he may be a son of a bitch, but he's our son of a bitch».

(*) Aditamento: leiam-se aqui múltiplos exemplos de gente de direita e empresários que foram condenados e presos pela justiça brasileira.

ESTADO DE SÍTIO: Quem se mete com o PS, leva, ou de como a sucial-democracia do PS transforma a liberdade numa formalidade

«É mais do que sabido que uma das razões do sucesso do actual governo está no controlo da contestação social organizada – factor para o qual contribuem PCP e BE, diminuindo a crispação nas suas estruturas sindicais e profissionais. O que menos vezes é assinalado é que esse controlo da máquina do protesto não serve só para influenciar o ambiente do debate político e a tomada de decisão quanto a medidas concretas. Esse domínio do poder e do protesto organizado, estendido às redes sociais através de contas (algumas anónimas) com milhares de seguidores, é também uma arma de intimidação constantemente apontada a quem ousa desafiar os planos dos seus titulares. A retaliação é implacável: acusações, pressões institucionais, agressões pessoais e envolvimento da família – o que for necessário para, mais do que abafar a mensagem, fazer o mensageiro pagar o preço. E, assim, lançar também um aviso público: quem ponderar seguir pelo mesmo caminho fica a saber o que esperar.

Do outro lado da barricada, surge a pergunta que, goste-se ou não, é inevitável: valerá a pena passar por isto, tornar-se saco de pancada e arriscar consequências pessoais e profissionais? São muitos mais os que decidem que não, não vale a pena: basta ouvir o que tantos empresários, políticos, jornalistas e académicos dizem em privado e depois não repetem em público. Poder-se-ia, então, concluir que esta máquina de intimidação funciona porque a cobardia é mais numerosa do que a valentia. Por mais que tudo isso seja desanimador, o ponto que importa não é esse. O verdadeiro ponto está na pergunta de partida ter de ser colocada: algo está mal quando o poder se alimenta da intimidação e quando o exercício concreto da liberdade ascende a acto de coragem.»

Excerto de «Coragem», Alexandre Homem Cristo no Observador

09/04/2018

Do óbvio ululante de Rio poderá resultar a inutilidade da sua liderança

Dizer, como parece que Rui Rio disse no Conselho Nacional do PSD, «as eleições não se ganham, perdem-se» não será um pensamento muito original, porque já foi dito por vários outros há muito tempo. O que não impede de ser uma inferência razoavelmente sustentada pela história política das últimas décadas no Portugal dos Pequeninos.

Se lida à letra, essa inferência tem um pequeno problema: significa que qualquer apparatchik poderia ocupar o lugar de líder da oposição o que teria como consequência a inutilidade do lugar, ocupado desde há um mês precisamente pelo mesmo Rui Rio.

Se lida no contexto histórico, que é a queda dos governos por desgaste, quando deixam de poder satisfazer os fregueses a que têm de atender por esgotamento do combustível que os mantinha a flutuar, essa inferência significa que o governo socialista e a geringonça cairão quando acabar o dinheiro, para dizer a coisa de uma forma simplista.

De onde, o líder da oposição terá de governar com as medidas de austeridade que os credores impuserem e, nessas circunstâncias, talvez o líder mais adequado a essa situação não seja Rui Rio.

De onde...

Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça (130)

Outras avarias da geringonça.

Na semana passada o país assistiu a mais um número de prestidigitação do mago Costa a pretexto do financiamento do «teatro independente» que, como se sabe, é o teatro que depende do estado. De caminho, Costa, apertado pelos «artistas», começou por cornear o ministro e o secretário de Estado e acabou a abrir os cordões à bolsa dos contribuintes para pagar espectáculos que não têm espectadores.

Se Costa é um experimentado prestidigitador, o Ronaldo das Finanças não lhe fica atrás, como se ficou a saber pela hermenêutica do termo «carga fiscal» versus «esforço fiscal» com que nos tentou atirar poeira para os olhos iludindo o facto dos 67 mil milhões extorquidos o ano passado representarem 34,7% do PIB e representarem o rácio mais alto desde 1995 (ou antes, porque foi este o primeiro ano que o INE o divulgou). E fazendo que se esquecia que quando apresentou o OE 2017 propôs-se reduzir ... a «carga fiscal», pois claro. Para que não haja dúvidas aí vem um novo imposto pudicamente baptizado de taxa de rotatividade e aplicável às empresas com utilização de contratos a prazo superior à média.

08/04/2018

Mitos (272) - Diferenças salariais entre homens e mulheres (8)

Outros mitos: (1), (2), (3), (4), (5), (6) e (7)

Foram há poucos dias publicados os resultados de mais um estudo sobre o celebrado gender gap, baseado nos inquéritos que as empresas britânicas com 250 ou mais empregados são obrigadas a divulgar sobre os salários horários de homens e mulheres.

Segundo a Economist, as 10 mil empresas que responderam mostram uma diferença salarial média de 12%, e o grupo a que pertence a revista - um bastião da não discriminação sexual no trabalho - apresenta uma diferença salarial de quase 30%.

Uma vez mais, estes dados não levam em conta os postos de trabalho, isto é as funções desempenhadas e os níveis, e por isso, como a própria Economist reconhece, os executivos são comparados directamente com as suas secretárias.

Outro exemplo são as companhias de aviação onde 94% dos pilotos são homens (os pilotos têm um salário médio de £ 92 mil) enquanto 69% do pessoal de cabine são mulheres (o salário médio do pessoal de cabine é um quarto dos pilotos). Daí que, ainda segundo a Economist, não existe neste caso um problema de discriminação mas um problema de recrutamento.

Chegada a esta conclusão, a Economist não explica como se resolve este problema de recrutamento, que na verdade é mais um problema de preferências femininas na escolha da profissão baseada em estereótipos do mesmo tipo que levam os rapazes a preferirem brincar com carros e as raparigas com bonecas. Talvez administrando testosterona nas meninas e estrogéneo aos rapazes e, já agora, manipulando a uns e outros o hipotálamo em escolas onde se ensine o newspeak.

Mas então a verdadeira discriminação sexual nos salários não existe?


Existe sim e tem a importância que a própria Economist já conclui ter.

07/04/2018

DIÁRIO DE BORDO: Senhor, concedei-nos a graça de não termos outros cinco anos de TV Marcelo (53)

Outras preces.

Com bastante atraso, registo um retrato de Marcelo Rebelo de Sousa pelo seu amigo (?) José Miguel Júdice na TVI de há 3 semanas, com um sumário no Jornal Eco («Marcelo, é difícil vencer a natureza profunda»), que evoca muito justamente a fábula do escorpião e do sapo (que Júdice troca pelo boi) para caracterizar Marcelo.

Vale a pena ler esse retrato do qual, à laia de teaser, respigo algumas passagens, começando por uma que explica porque razão quando leio o semanário de reverência fico com a impressão que têm um correspondente residente na área de Broca do cérebro presidencial:

«As mais recentes informações que o Presidente da República quis fazer circular (e ele afirmou que seria o único porta-voz de Belém…), sobretudo como é habitual em notícias de Ângela Silva do Expresso, mostram a outra face da moeda.

Basicamente, o Presidente continua (e agora de forma descarada, o que me parece institucionalmente grave) a ter como principal objetivo impedir a maioria absoluta do PS, e só tem estado mais calado para dar espaço a que Rui Rio se afirme como líder forte da oposição.

[...]

Infelizmente, estou a convencer-me que a história do escorpião (que no meio do rio pica o boi e acaba a morrer afogado com ele) não é de recusar como hipótese explicativa. É pena que assim seja, dirão os seus verdadeiros amigos? É verdade. A um homem que se aproxima dos 70 anos “nada se recusa”, como disse Mário Sá Carneiro a outro propósito? Claro que sim.

Mas o que mais lamento é que isto me faz lembrar demasiado o famoso “Super-homem” da minha infância: tinha tudo para salvar o mundo e dedicou-se a ajudar velhinhas a atravessar as ruas. Hoje, dir-se-ia que seria recordado pelos milhares de “selfies” com que encheria o Instagram dos portugueses e não por aquilo que realmente a longo prazo é essencial

06/04/2018

Vivemos num estado policial? (15) - Sim, vivemos. E talvez por isso os polícias nunca são suficientes

Outros casos de polícia.

Recapitulando:

Segundo o relatório da OCDE divulgado há um ano, Portugal «tem 432 polícias por 100 mil habitantes, um valor que torna a polícia portuguesa 36% mais bem equipada do que as polícias na média dos países europeus» (jornal Eco). Note-se que os GNR são polícias com outro nome e são contados como tais nas estatística da OCDE. Acrescente-se que na Europa só somos ultrapassados por Malta e a Irlanda do Norte.

Novos desenvolvimentos:

Diário de Notícias
«Há um "Vertical", outro "Independente", outro "Autónomo", outro "Livre" e até um dos "Polícias do Porto". Já resta pouca imaginação para dar nomes a tantos sindicatos na PSP, que atingem o número recorde, inigualável noutro setor, de 16. O mais recente - Organização Sindical dos Polícias - nasceu em fevereiro e conta com 459 dirigentes e delegados para 451 associados. [...]

Segundo o regime em vigor, cada dirigente tem direito a quatro folgas por mês para atividade sindical. Os delegados têm 12 horas. Tudo somado, de acordo com os dados da Direção Nacional da PSP, em 2017 o total de 3680 dirigentes e delegados tiveram mais de 36 mil dias de folga.»

Encalhados numa ruga do contínuo espaço-tempo (81) - O «teatro independente» 153 anos depois

Registemos as palavras da actriz-encenadora Maria João Luís, demonstrativas do direito divino dos «artistas independentes» ao subsídio dos contribuintes, que à SIC disse não poder preencher o formulário a pedir o subsídio porque não sabe «como é que vai ser o espectáculo [...] daqui a dois ou três anos. Como é que posso dizer quais são os actores que vão entrar, o porquê daqueles actores, se eu ainda não sei o que vou fazer? Tenho a ideia do projecto, mas não tenho de saber o que é que vai ser».

E passemos a um episódio de há 153 anos recordado por Pedro Sousa Carvalho no Jornal Eco:

«A discussão a que estamos a assistir sobre o financiamento da Cultura e do Teatro faz lembrar uma outra, tida em 1866, e contada por Camilo Castelo Branco. 

“A Queda dum Anjo” de Camilo Castelo Branco conta a história de Calisto Elói de Silos e Benevides de Barbuda, um deputado da província que chegou à capital para ser deputado no Parlamento. Um dia, em Lisboa, Calisto foi à ópera ver Lucrécia Bórgia e ficou chocado com o espetáculo que qualificou de tripúdio. E mais chocado ficou quando descobriu que o Estado subsidiava o Teatro de S. Carlos com vinte contos de réis anuais.

No dia seguinte, quando chegou ao Parlamento, estava um deputado do Porto a discursar e a reclamar mais um subsídio para o lírico Teatro de S. João. Foi então que Calisto Elói de Silos e Benevides de Barbuda resolveu pedir a palavra para fazer um daqueles discursos, cheios de arrebiques de retórica, para explicar a sua tese de que o Teatro não deveria ter dinheiros públicos. Este é um excerto da intervenção de Calisto:
“Eu sou de um país, Sr. presidente, em que se pede ao povo o subsídio literário para pagar com ele as tramoias da Lucrécia Bórgia. Eu sou de um país pobríssimo em que a vaia da Nação exangue sofre cada ano a sangria de algumas dúzias de contos para sustentar comediantes, farsistas, funâmbulos e dançarinas impudicas!”»
Após 153 anos, os Calistos actualmente estacionados no parlamento ficaram incapazes de tomar as suas distâncias em relação ao «teatro independente» e o governo socialista, secundado por comunistas e berloquistas, transforma-se no público que os artistas são incompetentes para atrair, borra-se de medo e cede às chantagens dos agentes cólturais com o dinheiro dos contribuintes.

05/04/2018

QUEM SÓ TEM UM MARTELO VÊ TODOS OS PROBLEMAS COMO PREGOS: O alívio quantitativo aliviará? (60) Unintended consequences (XX)

Outras marteladas.

Em retrospectiva:

Têm-se multiplicado as advertências sobre os efeitos das políticas não convencionais dos bancos centrais poderem desencadear a próxima crise financeira, algo para o qual temos vindo à chamar a atenção há uns cinco anos, pelo menos desde este post de 2012 (duas semanas antes do «whatever it takes» de Draghi): «ainda não saímos de uma e já estamos a trabalhar para criar a próxima. Vai acabar mal.»

The Economist
Nesta altura, depois da Fed e o BoE há dez anos a bombarem dólares e libras, o BCE e o BoJ há 6 anos a bombarem euros e ienes, ninguém sabe bem como descalçar a bota das dezenas de biliões despejados sobre as economias que multiplicaram os activos dos bancos centrais por cinco em relação ao início da crise.

Entretanto, ficámos a saber que o BCE em três anos comprou quase 2 biliões de dívida pública. Para que não haja a dúvida de Mário Soares, que confundia os biliões com os milhões e os milhares de milhão, estamos a falar de quase dois milhões de milhões, algo como 10 vezes o PIB português.

Et voilà!

«Ronaldo é o talento sustentado por uma inquebrável, e inquebrantável, ética de trabalho incomum num país que se entrega facilmente ao desenrasca.»

Pedro Candeias no Expresso Curto

04/04/2018

A mentira como política oficial (41) - A arte de furtar o corpo à indignação dos «artistas»

Há mais de uma década que aqui no (Im)pertinências definimos «teatro independente» como o teatro que depende do estado; o teatro a quem o estado diz «toma lá dinheiro e faz qualquer coisa» (A. Feio). Por extensão, o conceito pode aplicar-se a qualquer outra arte «independente» cujo público é um qualquer júri a quem pagam para dar pareceres.

O rigor desta definição já foi muitas vezes confirmado e está a sê-lo uma vez mais com esta manifs de «artistas» cobrando de Costa o seu oportuno e interessado apoio durante a caminhada para S. Bento.

Vem a propósito relevar mais uma das costumeiras mentiras de Costa furtando o corpo à reacção dos «artistas» e tirando o tapete ao seu secretário de Estado da Cultura que em conferência de imprensa se descoseu assim:
«Desde que anunciou o reforço de 1,5 milhões de euros no Museu Nacional de Arte Antiga o primeiro-ministro está completamente a par daquilo que se passa. Portanto, não percebo porque é que ele possa ter ficado surpreendido».

03/04/2018

A mentira como política oficial (40) - A arte de bem preparar orçamentos

«1 – Faz do orçamento uma arma de combate partidário. Esquece isso da estratégia a prazo

2 – Faz o orçamento que garante o apoio do Parlamento, não o que prevês executar

3 – Promete tudo o que é bom. Depois faz o que tens mesmo que fazer

4 – Não faças nunca um Orçamento Rectificativo. Vai rectificando mês a mês

5 – Aumenta os impostos indirectos que são mais discretos

6 – Quando os números desmentem a tua narrativa diz que são eles que estão errados»

«Uma cartilha orçamental para totós», Paulo Ferreira no jornal Eco

Cada país tem as elites que merece. Nós temos a tribo do Lux

«A estranheza está na desproporção das reacções, e na capacidade que uma certa elite lisboeta tem de transformar o particular em universal. Manuel Reis não transformou o país, nem sequer Lisboa. Manuel Reis – sobretudo para aqueles que lhe chamavam Manel – transformou as vidas da elite artística, jornalística e cultural de Lisboa, e de todos os que fazem da noite burguesa, intelectual, endinheirada e libertina (não é uma crítica) uma primeira casa. Foram estes, e só estes, que reagiram na semana passada como uma tribo que acabou de perder o seu xamã. Não há mal nisso. É até muito compreensível – desde que a tribo saiba que é apenas uma tribo. Ou, para citar a mais famosa frase da carreira de Mário de Carvalho, desde que não confunda o género humano com o Manuel Germano.

Infelizmente, esta tribo em particular, até por estar muito habituada a pôr-se ao lado dos “excluídos”, tem nítidas dificuldades em admitir o quão elitista é o seu mundo. Ela nunca teve de esperar nas filas do Lux, e pode chamar Guida Gorda a Margarida Martins sem ser acusada de body shaming, mas não percebe que o elogio exorbitante a Manuel Reis é também uma autocongratulação pelos seus próprios privilégios. O texto mais emblemático que li sobre Reis foi escrito por José Couto Nogueira no Sapo24, e é muito revelador quanto a isso: “E os que não conseguiam passar da porta [do Frágil]? Uma amiga que viveu esses tempos contou-me o que era passar a franquia da zona dos comuns para o espaço lá dentro – e como, ao entrar, se sentia a validação de fazer parte do clube exclusivo da elite cultural.”»

Excerto de «Nós, os que esperámos à porta do Lux», João Miguel Tavares no Público

Estas, como outras elites merdosas que nos parasitam, vivem numa espécie de huis clos sartriano imaginando que o inferno são os outros que ficam do lado de fora da porta... do Lux.

02/04/2018

Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça (129)

Outras avarias da geringonça.

Os deputados da geringonça, menos os comunistas que nestas coisas das causas fracturantes do politicamente correcto se resguardam e empurram para a frente os camaradas verdes por fora, estão prestes a dar um grande salto civilizacional: reconhecer que qualquer gaiato(a) com 16 anos pode escolher para o cartão de cidadão o sexo género que entender (em breve poderá ser uma das variedades de entre o número que já vai nos dez de LGBTQQIAAP) e com 18 anos poderá exigir aos contribuintes que lhe paguem uma operação para mudar o sexo género.

O «diálogo», preconizado pelo Bourdieu de província que gosta de malhar na direita, para reagir ao assassinato com uma arma biológica proibida a mandado do putinismo, assassinato que teve como resposta da maioria dos países da UE com as excepções do costume a expulsão de espiões russos travestidos de diplomatas, é mais um exemplo do carinho com que o PS e os seus governos costumam tratar a Rússia de Putin, a somar às visitas de Sócrates com dormida no Kremlin e jogging na praça Vermelha.

01/04/2018

SERVIÇO PÚBLICO: As redes sociais como instrumentos do bem ou do mal (cortar como mais convier)

Agora que o Tweeter e o Facebook, em tempos ferramentas de eleição intensamente usadas em boas causas como as duas campanhas de Barack Obama, deixaram de ser instrumentos do bem e se transformaram em instrumentos do mal, como a campanha de Trump, conviria prestar atenção ao estudo de Soroush Vosoughi sobre a propagação de histórias no Tweet citado no artigo «A lie is halfway round the world while the truth is still putting on its shoes» da Economist.

«No interior da França, no verão de 1789, surgiram rumores sobre aristocratas vingativos empenhados na destruição da propriedade dos camponeses. Não era verdade. O Grande Medo, como é agora conhecido, levou a França à revolução com uma enxurrada de boatos e rumores sem fundamento.

Dois séculos depois, os métodos para espalhar o absurdo foram muito melhorados. Num paper publicado na Science em 8 de março, Soroush Vosoughi e outros investigadores do MIT demonstraram que, pelo menos no Twitter, as histórias falsas espalham-se mais rapidamente e vão mais longe do que as verdadeiras.

O estudo, realizado no Laboratory for Social Machines do MIT, concluiu isso examinando tweets enviados entre 2006 e 2017. Os investigadores usaram modelos estatísticos para classificar os tweets como falsos ou verdadeiros, aplicando dados de seis organizações independentes de fact-checking. Isso permitiu que eles categorizassem mais de 4,5 milhões de tweets sobre 126.000 histórias diferentes. Essas histórias foram classificadas de acordo com a forma como se espalharam entre os utilizadores do Twitter.

Os resultados foram claros. As informações falsas foram retweetadas por mais pessoas do que as verdadeiras, e mais rapidamente acedidas. As histórias verdadeiras levaram, em média, seis vezes mais tempo do que falsidades para atingir pelo menos 1.500 pessoas. Apenas cerca de 0,1% das histórias verdadeiras foram compartilhadas por mais de 1.000 pessoas, mas 1% das histórias falsas foram partilhadas entre 1.000 e 100.000 vezes.

A razão pela qual a informação falsa se espalha melhor do que a verdadeira é simples, dizem os investigadores. As coisas espalham-lhe pelas redes sociais porque são atraentes, não porque são verdadeiras. Uma maneira de tornar a notícia atraente é torná-la nova. Quando os investigadores verificaram o quão novo era um tweet (ao compará-lo, estatisticamente, com outros tweets), descobriram que os tweets falsos eram significativamente mais novos do que os verdadeiros. Histórias falsas também eram mais propensas a inspirar emoções como medo, repulsa e surpresa, enquanto as genuínas provocavam antecipação, tristeza, alegria e confiança, levando à conclusão bastante deprimente de que as pessoas preferem compartilhar histórias que geram fortes reacções negativas. Talvez não por acaso, as notícias políticas falsas foram as mais prováveis ​​de se tornarem virais.

O paper também faz luz sobre o impacto de "bots" - contas automáticas que se apresentam como pessoas reais. A ideia de que os bots, em particular russos, ajudaram a influenciar a eleição presidencial dos EUA instalou-se firmemente na opinião pública. No entanto, o artigo conclui que, pelo menos no Twitter, a presença de bots não parece aumentar a disseminação de falsidades em relação à verdade.»