Com poucos dias de intervalo o professor Louçã voltou a provar uma de duas coisas, ou ambas: a) é um rematado demagogo, sem o menor pingo de honestidade intelectual, para quem o rigor ou a verdade são indiferentes; b) é um rematado incompetente. Primeiro demonstrando que não sabe calcular os juros e agora demonstrando que não faz a menor ideia do que sejam custos e perdas, proveitos e ganhos e resultados, prejuízos ou lucros.
Comentando o modelo para a RTP, o insigne mestre, com a sua habitual linguagem colorida, acusou o governo de criar «um negócio pró menino e prá menina. Vai ser a primeira privatização na história de Portugal, em que a empresa que fica com o que é público não só não paga nada como vai receber».
E vai receber o quê? Segundo os termos com que a maioria dos jornais resumiu a lengalenga, coincidência que indicia o manipulado berloquista, «lucros na ordem dos 140 milhões de euros por ano com a taxa cobrada aos contribuintes», ou seja com a «Contribuição audiovisual» cobrada na factura de electricidade.
Primeira asneira: os 140 milhões não são lucro, isto é resultados, são proveitos. Os lucros ou os prejuízos podem até ser centenas de milhões, dependendo dos custos e dos restantes proveitos, por exemplo da publicidade.
Segunda asneira: ao denunciar o alegado negócio da China para o futuro concessionário, o professor Louçã implicitamente assume a inferioridade da gestão pública que em termos líquidos até hoje não deu um chavo aos depauperados cofres do Estado Sucial. De facto, a gestão pública da RTP tem contado além da «Contribuição audiovisual» com as chamadas indemnizações compensatórias pagas a título de prestação do serviço público de televisão. Nos últimos 5 anos os Fundos Públicos e os resultados líquidos foram os seguintes:
Fontes: Relatórios e contas da RTP e Resolução do Conselho de Ministros 53/2012 |
Do quadro se conclui que os proveitos próprios, essencialmente publicidade, foram sempre insuficientes em mais 200 milhões para cobrir os custos totais. Sem os fundos públicos pagos com impostos dos contribuintes, a exploração da RTP teria tido prejuízos em cada um dos 5 anos de 2007 a 2011 entre 222 e 276 milhões.
A empresa privada concebida no prolixo cérebro do professor Louçã, para realizar 140 milhões de lucros sem as indemnizações compensatórias teria em alternativa: aumentar a publicidade mais de 6 vezes, dos 40 milhões de 2011 para 250 milhões ou despedir todo o pessoal poupando 108 milhões e aumentando «só» 4 vezes as receitas de publicidade.
Resultado desta segunda avaliação: cinco ignóbeis pela demagogia e/ou incompetência e cinco chateaubriands por insultar a inteligência dos infiéis.
Declaração de interesse:
Não concordo com a solução divulgada como sendo do governo. Não vejo qualquer razão para a existência de uma empresa pública de televisão e/ou de rádio ou qualquer outro mídia que na verdade só serviu e servirá de câmara de eco do governo da ocasião. Por isso, extinguiria a câmara de eco poupando um mínimo de 200 milhões por ano do dinheiro dos contribuintes.
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