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23/07/2022

Vejamos os factos sobre o TVDE sem o estrabismo do jornalismo de causas, Über alles

«As revelações do Uber Leaks têm sido uma montanha a parir um rato, que não deve esconder o verdadeiro escândalo que foi a falta de concorrência nos transportes durante décadas

As secções de economia da imprensa internacional desta semana foram dominadas com a excitação sobre os Uber Leaks (ou Uber Files ou Uber Papers). Um antigo executivo da companhia Uber partilhou centenas de milhares de documentos internos da firma com um consórcio de jornalistas internacionais que as analisou extensivamente durante várias semanas e agora publicou os seus resultados. Por todo o mundo saíram artigos com títulos explosivos, prometendo revelar as práticas pérfidas da companhia. Tendo passado horas a ler o que encontrei, cheguei à conclusão que os Uber Leaks mostraram mais uma vez que a brevidade dos títulos (ou das mensagens nas redes sociais) podem causar muita indignação com pouca substância de suporte. (...)

O que espero que estas notícias não escondam é o mais importante: o que foi e o que é o negócio dos transportes dentro das cidades. Um sector protegido durante décadas, que prestava um péssimo serviço com preços altos, e em que era quase impossível entrar porque alguns incumbentes com frotas de dezenas de veículos protegiam o seu monopólio e usavam a sua força política para terem lucros chorudos. Entrou um concorrente, não com nenhuma bondade, mas usando táticas agressivas e nalguns casos pouco éticas para tentar capturar esse bolo. Para o fazer, usou o dinheiro de acionistas para ter prejuízo brutais ao dar ao consumidor preços muito abaixo do custo durante anos, esperando com esse dumping depois conseguir ela monopolizar o sector. Tudo indica que falhou, porque o sector tradicional respondeu e entraram novos concorrentes. Entretanto, o consumidor beneficiou de preços muito baratos no transporte na última década, de uma melhoria de serviço considerável incluindo nos táxis tradicionais, e de um avanço tecnológico com uma série de aplicações que permitem chamar um táxi ou outro serviço de transporte nalguns minutos nas principais cidades do mundo.

O escândalo aqui é este período estar a chegar ao fim. Aos poucos e poucos têm crescido os regulamentos sobre este sector pelo mundo fora. A maioria com boas intenções, mas o efeito prático é aumentar os custos fixos do serviço, criando economias de escala artificiais, que estão a levar a que sejam novamente só empresas com grandes frotas a dominar novamente o sector. Com tantos carros estacionados durante o dia, é pena ver nas notícias esta semana filas de horas no aeroporto de Lisboa. Os turistas estariam dispostos a pagar muito bem a um dos 308 mil portugueses desempregados para passarem umas horas a levá-los ao seu hotel.»

Uber escândalo, Ricardo Reis no Expresso

1 comentário:

Anónimo disse...

É curioso que Ricardo Reis, desfazendo o terrorismo contra a Uber e a concorrência, não resista a atribuir os títulos falsos às redes sociais e não aos media tradicionais que os oublicaram.