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03/10/2020

Dúvidas (288) - Ele é um f. da p., mas será o nosso f. da p.?

Franklin D. Roosevelt justificou em 1939 o seu apoio ao ditador Somoza dizendo: «he may be a son of a bitch, but he's our son of a bitch». É o que baptizámos como doutrina Somoza. Vem isto a propósito de um artigo de Rui Ramos no Observador que termina assim:  

«Há duas visões da América. Em 2020, uma dessas visões é representada por Trump e outra por Biden. Dir-me-ão: Trump é um “filho da mãe”. Até pode ser, mas é o “filho da mãe” dos que preferem um Estado pequeno e uma economia livre, tal como Biden – acusado e suspeito dos mesmos pecados que Trump – é o “filho da mãe” dos que preferem um Estado maior e uma economia dirigida. Não devia ser assim? É assim.»

Concordo frequentemente com Rui Ramos, mas não desta vez. Ou, para ser exacto, desta vez discordo absolutamente. Não há só duas visões da América e, ainda que Trump fosse «o "filho da mãe” dos que preferem um Estado pequeno e uma economia livre», ninguém pode concluir que prefira um Estado pequeno e uma economia livre, sendo igualmente certo que também não se pode concluir que prefira um Estado maior e uma economia dirigida. Trump já mostrou que pode preferir e defender qualquer coisa e o seu contrário. O que prefere ou defende tem exclusivamente a ver com o que em cada momento imagina aumenta as suas chances de manter o poder. Ele já mostrou que pode preferir um Estado de qualquer tamanho em que ele ocupe a presidência. O seu programa é ele próprio, e é por isso que o seu narcisismo patológico é tão perigoso.

Se do ponto de vista da realpolitik pudesse ter feito sentido o apoio de Roosevelt a um Somoza alinhado com a versão New Deal da doutrina Monroe, não faz sentido apoiar uma criatura errática cujo programa é ele próprio e que é uma ameaça para uma democracia americana em crise. 

E não, ameaça não é retórica. A resposta de Trump no final do debate com Biden sobre a aceitação dos resultados das eleições era algo que só era habitual ouvir de Mugabe ou outros déspotas africanos. Desde o princípio de 2017 as sondagens do Voter Study Group mostram que a percentagem de americanos que pensam ser aceitável o uso da violência pelo seu partido para conseguir os objectivos vem aumentando consistentemente de 8% para mais de 30% (fonte: newletter Checks and Balance da Economist).

3 comentários:

Afonso de Portugal disse...

«Ninguém pode concluir que prefira um Estado pequeno e uma economia livre, sendo igualmente certo que também não se pode concluir que prefira um Estado maior e uma economia dirigida.»

Absurdo. Trump baixou a carga fiscal nos meses imediatamente a seguir a ter tomado posse; Biden quer aumentá-la novamente para os níveis da era Obama. Trump eliminou os programas de “treino contra o racismo” das agências federais norte-americanas; Biden quer repô-los. Biden quer reinstituir o Obamacare que o Presidente Trump suspendeu. Mais do que isso, Biden quer baixar a idade de acesso ao sistema público de seguros de de saúde para reformados (Medicare) dos 65 para os 60 anos. Biden também quer aumentar as reformas daqueles que usufruem dos benefícios da segurança social há 20 ou mais anos. Nas suas propostas eleitorais, o velho senil do partido “democrata” promete aumentar em 20% as pensões de viuvez. Biden também quer aumentar drasticamente o investimento em “energias renováveis”, sob o pretexto de combater as alterações climáticas. Já o Presidente Trump diz que as alterações climáticas não passam de impostura. Há diferença sim, senhor! Há uma diferença abismal entre os dois candidatos!


«Ele já mostrou que pode preferir um Estado de qualquer tamanho em que ele ocupe a presidência.»

Ai, mostrou? Muito bem, desafio o Pertinente a dar um exemplo de uma única medida tomada pelo Presidente Trump -excluindo os investimentos do governo federal para combater a imigração ilegal- no sentido de aumentar a dimensão e o poder do Estado. Uma só que seja!


«Desde o princípio de 2017 as sondagens do Voter Study Group mostram que a percentagem de americanos que pensam ser aceitável o uso da violência pelo seu partido para conseguir os objectivos vem aumentando consistentemente de 8% para mais de 30%»

E quem tem protagonizado esse aumento? O Pertinente acha mesmo que aqueles que acreditam na violência são maioritariamente apoiantes de Trump? Então porque é que as cidades que têm estado a ferro e fogo, Seattle, Portland, Kenosha, etc. são todas governadas por políticos afectos ao partido “democrata”? Porque é que os mé(r)dia se focam nos Proud Boys, mas não têm uma única palavra de condenação em relação aos Antifa?

Seja mas é coerente e declare o seu apoio ao Bidão de uma vez por todas, Pertinente! Junte-se à Assunção Cristas, ao Pacheco Pereira, ao Paulo Rangel, ao Rui Rio e a tantos outros farsantes que se dizem de direita, mas que depois apoiam o que de pior a esquerda tem para oferecer! Assuma-se de uma vez por todas e pare de insultar a inteligência dos seus leitores!

Carlos Conde disse...

O Pertinente é um Never Trump vulgaris.
E acham todos que a democracia é a melhor coisa que há.

Anónimo disse...

Eu cá, concordo com o Afonso.

(Concordo com o pertinente sobre quase tudo, não concordo sobre a leitura que faz do Trump)

Nos EUA tal como cá, a esquerda populista de chavões, só pode ser combatida por alguém como o Trump. (não concordo com tudo que ele faz, claro que não)

Mas tb o Trump não é do mal o menos.

Vejo o Trump necessário como ele o é, o Trump mediático tem que ser assim, não pode ser menos.

Ontem dei por mim a meio da noite a pensar, na ucrania, na primavera arabe, no EI e chego a uma conclusão, graças a deus o Trump é como é.

Mais uma mensagem para o pretinente, não devemos ter vergonha em apoiar um populista de direita.