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15/08/2010

Mitos (21) - a economia alemã vai continuar a ser o motor da Europa

Assim tem sido, como se confirma pelo crescimento no 2.º trimestre que foi o mais alto desde a reunificação. Provavelmente continuará a ser nos próximos anos, muito graças às empresas mittelstand que representam três quartos do emprego e outro tanto das exportações.

E no longo prazo quando estaremos todos mortos, como dizia o John Maynard? Nesse horizonte, será conveniente ter em conta a arguta observação (1) do ex-esquerdista Félix Ribeiro do departamento de Prospectiva do ministério da Economia e possivelmente a sua única mente ainda lúcida. (2)

«A Alemanha tem dois problemas. O primeiro é que é uma economia muito exportadora mas não é inovadora. Não há nada de novo que a Alemanha tenha criado nos últimos 50 anos. É extraordinária a melhorar aquilo que já faz há quase 150 anos: automóveis, mecânica, química. Está muito bem adaptada para fornecer países que se industrializam, que se urbanizam e que se motorizam. Mas tem uma grande dificuldade em inovar sobretudo quando as economias desenvolvidas passaram a ser economias terciárias. No sector dos serviços, já praticamente não há um nome alemão. (3) Isso quer dizer que [o modelo alemão] está esgotado e que ainda tem vida apenas porque há economias emergentes. O segundo problema é que o modelo alemão, em termos financeiros, é totalmente oposto ao dos EUA e ao do mundo anglo-saxónico - é um modelo centrado nos bancos.

Os alemães continuam a poupar muito e a colocar muitos depósitos nos seus bancos. Esses bancos tinham tradicionalmente uma relação muito estreita com a indústria alemã, para onde canalizavam o seu dinheiro. O que acontece é que hoje a grande indústria alemã financia-se nos mercados de capitais, que são uma invenção anglo-saxónica. Com muitos depósitos a afluir e com menos negócios tradicionais para aplicar o dinheiro, eles tiveram de ir à procura de aplicações altamente rentáveis e foram comprar coisas como o subprime, do qual foram os segundos grandes compradores. Importaram um vírus que o seu sistema imunitário não tem capacidade para gerir. E, então, para tentar obter novas receitas que lhes permitissem apagar os prejuízos que aquilo ia criar, lançaram-se a comprar dívida soberana dos países do Sul
[da Europa].»

(1) Entrevista ao Público do dia 5.
(2) FR é um exemplo que o esquerdismo pode ter cura sem se transformar no neo-situacionismo. Infelizmente vai-se reformar e o departamento fica entregue aos «mais novos … a geração da procura da felicidade», como ele diz.
(3) Esquecendo os bancos que FR trata em separado, há vários nomes alemães nos serviços, como por exemplo a Allianz (maior seguradora do mundo com 100 mil milhões de prémios e 150.000 empregados em quase todo o mundo), Munich Re (maior resseguradora mundial com 40 mil milhões de prémios e 47.000 empregados), SAP (6.ª maior nos IT services, com 10,6 mil milhões e 45.000 empregados em 50 países) ou a Roland Berger Strategy Consultants (com quase mil milhões de facturação e 2.000 consultores em 25 países, entre muitos outros nomes.

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