Nunca houve tanto Estado nas nossas vidas, em democracia, e nunca ele foi tão incapaz de formar cidadãos completos. O que resulta desta invasão subtil, permanente e insistente nas esferas privadas é um povo anestesiado e dependente, que protesta sobre tudo e com tudo, mansamente, surdamente, e aceita tudo o que lhe vendem todos os dias como bom procedimento, embora desconfie o tempo todo de que está a ser enganado. O Estado é o que se poderia designar como Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo.
As pessoas têm medo do Estado. A carta no correio, a multa, o requerimento, o selo, o imposto, o sobrescrito picotado da Autoridade Tributária. Exceto quando um antigo ministro da Economia tem o topete de dizer que cometeu fraude fiscal durante anos e que recebeu dinheiro do BES através de offshores, e que tal era prática normal no grupo e toda a gente fazia a mesma coisa, dentro e fora do grupo, e que o dinheiro, os milhões, diz ele, que recebeu do grupo enquanto era ministro, eram “prémios” atrasados. Mas “o que lá vai lá vai”, diz o distinto político socialista, ou ex-político, ou mesmo ex-socialista, quem sabe? Se é para o dom Fradique... é o que quiser.
Isto não parece provocar no povo de mão estendida, um povo de subsidiados que não ganham um salário ou reforma dignos e suficientes para comprar ovos e fruta e arrendar ou pagar a casa, qualquer protesto operacional, embora as redes sejam um esgoto compensatório.»
A Dr.ª Clara Ferreira Alves, a Pluma Caprichosa, uma vez ou outra, como agora, faz uma pausa na demonstração do seu cosmopolitismo erudito que verte na sua coluna da Revista do semanário de reverência, é vítima de uma epifania e escreve coisas como esta que agora cito. Infelizmente não retira todas as consequências da sua visão do excesso de Estado nas nossas vidas a começar por não se distanciar dos promotores desse excesso.
2 comentários:
O artigo desta "Woman for all seasons" é uma resposta à estafada pergunta " Para que é que se fez o 25 A.? "...
«Até um relógio parado está certo duas vezes ao dia.»
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