Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

03/03/2023

A proposta chinesa à luz do bullshit test

A China tem mantido uma posição ambígua em relação à invasão da Ucrânia pelo regime putinesco, o que se percebe porque se o Novo Império do Meio aprecia tanto o Ocidente como a Rússia e lhe convém mantê-la como aliada, por outro lado, os seus "clientes" estão no Ocidente e não lhe convém hostilizá-los abertamente. De onde resultou a lógica de apresentar um plano inócuo para um "acordo de paz" na Ucrânia em doze pontos:

  1. O respeito pela soberania dos países
  2. O abandono da mentalidade da Guerra Fria
  3. O fim das hostilidades
  4. O regresso das conversações de paz
  5. A resolução da crise humanitária
  6. A proteção dos civis e dos prisioneiros de guerra
  7. A salvaguarda das centrais nucleares
  8. A redução dos riscos estratégicos
  9. O encorajamento às exportações de cereais
  10. O fim das sanções unilaterais
  11. A manutenção da estabilidade das cadeias de abastecimento
  12. A promoção da reconstrução pós-conflito
Submetamos o "plano" ao bullshit test que consiste em verificar se faz sentido propor o contrário, e, se não for o caso, concluir que a proposta é uma inútil trivialidade.
  1. O desrespeito pela soberania dos países
  2. A continuação da mentalidade da Guerra Fria
  3. A continuação das hostilidades
  4. O abandono das conversações de paz
  5. A não resolução da crise humanitária
  6. A desproteção dos civis e dos prisioneiros de guerra
  7. A não salvaguarda das centrais nucleares
  8. O aumento dos riscos estratégicos
  9. O desencorajamento às exportações de cereais
  10. A continuação das sanções unilaterais
  11. A manutenção da instabilidade das cadeias de abastecimento
  12. O abandono da reconstrução pós-conflito
Podemos assim concluir que, com excepção do fim das sanções unilaterais, o contrário das propostas chinesas é simplesmente um disparate que ninguém, nem mesmo o Czar Vlad, teria o descaramento de apresentar, pelo que as restantes onze são irremediáveis bullshit. Não por acaso, essa proposta é a única que só depende do Ocidente.

1 comentário:

Anónimo disse...

Concordo. Não faz sentido nenhum propor o fim das hostilidades e o estabelecimento de conversações de paz. Resolver a crise humanitária também não me parece boa ideia. Salvaguardar as centrais nucleares para não haver lugar a catástrofes ou respeitar a soberania dos países, proteger civis e prisioneiros, já me parece uma loucura. Os chineses não devem estar bem da cabeça.
Eu vou pelo plano do Bidé. Mandar mais armas e munições até que a Ucrânia fique reduzida a cinzas e a população dizimada.
A única alternativa que admito é um conflito nuclear global.
E ainda bem que nos livramos do Trump, pá. Imagine-se como seria. Provavelmente estaríamos num daqueles periodos horríveis de paz entre as nações. Isso dava-me cabo dos nervos, pá.