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10/02/2023

¿Por qué no te callas? (31) - Enfiando a cabeça na areia até ser atropelado por um camelo

O Eng. Moedas sofre de uma maleita que ataca cada vez mais os políticos do Portugal dos Pequeninos. Maleita para cuja difusão tem contribuído o Dr. Marcelo a quem assenta bem o epíteto picareta falante, inventado para o Eng. Guterres pelo falecido Vasco Pulido Valente, 

Pois bem, o Eng. Moedas é também um picareta falante cujas falas o seu public relations espalha com zelo pelos mídia. A última dessas falas foi acerca do risco sísmico na zona de Lisboa, um problema especialmente crítico, que o homem irresponsavelmente minimizou:
«Gostava de deixar aqui alguma tranquilidade sobre a preparação que Lisboa tem em relação a potenciais sismos, e todos sabemos que vivemos numa zona do país em que estes sismos podem acontecer. Como engenheiro civil e como alguém que trabalhou nesta área, a nossa cidade está extremamente preparada depois dos anos de 1980, infelizmente não nos bairros mais antigos, mas muito, muito, preparada em termos de engenharia e de construção.»
Lembrando que o Eng. Moedas se está a dirigir a uma audiência de luso-criaturas cuja atitude predominante é enfiar a cabeça na areia até ser atropelado por um camelo, sem entrar em pormenores técnicos, cito um outro engenheiro civil, que no mesmo dia em que o Eng. Moedas desatinou, disse que «se houver um sismo em Lisboa será catastrófico porque os edifícios não estão preparados» e cito ainda um generalista, fundador do QUAKE – Centro do Terramoto de Lisboa, que, por coincidência, publicou também no mesmo dia um artigo de opinião onde explicava:

«Portugal situa-se na Placa Euroasiática, limitada a sul pela falha ativa Açores-Gilbraltar, correspondente à fronteira entre as Placas Euroasiática e Africana, e a oeste do continente localiza-se a falha dorsal do Oceano Atlântico. A maioria dos sismos registados em Portugal deve-se às várias falhas ativas na região, mas existem outras capazes também de gerar sismos destrutivos em terra. Algumas dessas falhas são bem conhecidas, mas há ainda muitas outras que permanecem por descobrir e estudar.

Este contexto onde estamos inseridos tem uma particularidade: a deformação das placas é muito lenta, estamos a falar de poucos milímetros por ano, pelo que os sismos podem acontecer com grandes intervalos de tempo, acumulando grandes quantidades de energia que um dia, inevitavelmente, será libertada. Isto explica porque temos tendência a esquecê-los no dia-a-dia, embora os seus efeitos possam vir a ser devastadores. Achamos que estas desgraças só acontecem aos outros – não temos consciência sísmica em Portugal.

A responsabilidade de preparar as infraestruturas base (hospitais, escolas, regulamentos de construção, etc.) cabe ao Estado mas não é esse o foco deste texto. Nem me atrevo, sequer, a tentar descrever o caos que vivemos nessa perspetiva. Gostaria, sim, que nos focássemos no risco cultural e naquilo que depende de nós, cidadãos, para termos consciência sísmica.

Tudo começa com a nossa atitude – necessitamos de ganhar consciência (sísmica) e cultura de autoproteção. É óbvio que o estado também desempenha um papel ativo, entre várias vertentes, como educador e regulador, mas isso não esvazia o nosso papel de cidadão responsável.»

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