Depois de sete anos de namoro, o PS descobre uma nova paixão: a habitação. Terá as mesmas consequências indesejadas das outras paixões
O plano “Mais Habitação”, anunciado pelo governo é mais do mesmo, agora a uma escala grandiosa inspirada numa visão dirigista, centralizadora e impositiva que pretende transformar o Estado sucial em agência imobiliária. É o mesmo Estado sucial governado pela mesma gente que em sete anos lançou vários programas de habitação social, protagonizados pelos putativos sucessores do Dr. Costa, e realizou 950 contratos, equivalentes a 0,5% dos contratos celebrados desde o início dos programas.
É claro que nem tudo é negativo (como a anunciada simplificação do licenciamento ou a redução da taxa de tributação autónoma), mas os efeitos negativos, esses, são imediatos, por exemplo, a sabotagem do alojamento local que ficará na prática reservado às cadeias de hotéis. Aparte os referidos efeitos positivos, a ineficácia habitual do Estado sucial transformará o plano em mais um episódio de mera propaganda mediática para tentar abafar o ruído da corrupção e dos protestos de centenas de milhares de funcionários públicos.
O Dr. Costa diz que o perfil da economia portuguesa vai ser alterado. Sem dúvida, vai ser cada vez mais o de uma economia marginal e dependente dos fundos europeus
“Estes 245 novos produtos e novos serviços [agendas do PPR] vão multiplicar o PIB português e isso significa que, com a execução destas agendas, nós vamos (…) alterar efetivamente o perfil da nossa economia». (fonte)
O multiplicador socialista
No meio dos delírios habituais acerca da bazuca, o Dr. Costa acrescentou mais um, que vinha sendo injustamente esquecido desde o período socrático, durante o qual os pastorinhos da economia dos amanhãs que cantam anunciaram multiplicadores do investimento público que iam desde uns modestos 9,5 euros por cada euro investido até aos 18 euros por cada euro investido no caso das infraestruturas rodoviárias. Como se sabe, com grande surpresa dos pastorinhos, as autoestradas do Eng. Sócrates tiveram, sim, efeito multiplicador, mas da dívida pública e foram um dos factores que levou ao resgate pela troika.
Desta vez, os pastorinhos, escaldados com os multiplicadores socráticos. foram mais cautelosos nas sugestões ao Dr. Costa que colocou a coisa nos 5,3 euros de crescimento económico por cada euro investido, modestos para os delírios socialistas, mas, ainda assim, certamente apenas pensamento milagroso.
Uma bazuca que dispara tiros de pólvora seca
Segundo os números do Expresso, do total de 16,6 mil milhões do poder de fogo da bazuca, diz o governo que 12,7 mM é «dinheiro lançado no mercado», mas, para o governo, ele próprio faz parte do mercado. De facto, apenas 1,5 mM foram entregues aos “beneficiários”, sendo estes principalmente entidades públicas, já que às empresas apenas chegaram 153 milhões. Como já por aqui escrevi várias vezes, talvez isso seja menos mau do que entornar dinheiro dos contribuintes europeus e algum dos portugueses em projectos mal-amanhados.
(Continua)
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