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01/04/2019

Crónica da avaria que a geringonça está a infligir ao País (181)

Outras avarias da geringonça e do país.

É possível enganar quase todos durante algum tempo, é possível enganar alguns toda a vida, mas não é possível enganar quase todos sempre. É este adágio que me ocorre quando leio os resultados das sondagens da Aximage sobre as eleições europeias que mostram os socialistas com os mesmos 34,1% e o PSD com 29,1% (mais exactamente, Paulo Rangel) a dobrar as intenções de voto em dois meses e a ressuscitar dos mortos.

Em parte, é o resultado de ser cada vez mais difícil esconder a teia nepotista tecida por Costa que na última contagem aloja mais de 50 aranhas de 20 famílias. Com o futuro incerto é previsível, portanto, que redobrem os expedientes habituais em momentos de aperto de inundar o espaço mediático com anúncios dos amanhãs que cantarão. Não totalmente confiante que a propaganda maciça da redução do preço dos passes, que segundo a lenda retiraria 42 mil carros de Lisboa, seja suficiente para contrariar o descrédito, Costa manda avançar os criativos e aí estão planos para criar creches nos quartéis e para ir buscar bebés e mulheres de jiadistas à Síria, planos que seriam uma espécie de insulto à inteligência dos eleitores se muitos deles não fossem dela desprovidos e outros não estarem interessados em aplicá-la por, constituindo a clientela da geringonça, temerem o seu fim.

Se alguém dentro de algum tempo fizer uma avaliação dos resultados desses planos irá provavelmente concluir que são comparáveis aos de outros, como o dinheiro prometido às câmaras para limpeza das florestas, do qual não viram um chavo, ou a linha de crédito de 40 milhões para limpeza das florestas, até agora utilizada por zero proprietários.

A semana que passou foi pobre em greves. Foram apenas os trabalhadores dos portos (anunciada para 11 a 14 de Abril), os funcionários do fisco (29 de Março), com o sindicato a garantir que não haveria impacto na extorsão dos sujeitos passivos (pudera! se houvesse lá se ia a galinha dos ovos de ouro), e os trabalhadores das IPSS (27 de Março).

Veio agora a saber-se que, dos muitos milhares de milhões de perdas por imparidades do malparado da Caixa, pelo menos 519 milhões registados em 2014 e 2015 devem-se ao BES. E teriam sido muitos mais se Passos Coelho tivesse cedido a Ricardo DDT Salgado que lhe pediu em 2013 para mandar a Caixa emprestar-lhe uns milhares de milhões.

Uma vez mais, a dupla Costa-Centeno atribui-se outro grande sucesso com o défice de 0,5% em 2018 no que eles chamam consolidação orçamental, a qual consistiu na cobrança além do orçamentado de mais 1,4 mil milhões de IRS e IRC e em menos 170 milhões de juros pagos, que se devem tanto ao governo como ao Santo António de Pádua. O que se deve ao governo está do lado da despesa e aí houve duas grandes realizações: menos 560 milhões de investimento público do que o orçamentado e mais 285 milhões de salários para manter a clientela satisfeita.

Sem esquecer as outras grandes realizações como a degradação do SNS, o colapso das empresas públicas de transportes (a CP orgulha-se de ter suprimido mais de 12 mil comboios o ano passado), o sufoco financeiro dos museus que estão sem cheta, obras de um governo que se baba quando fala de saúde pública e das artes. Ainda assim, a maior realização, essa sem rival, é a carga fiscal de 35,4% do PIB a maior de sempre.

Fonte
Não faria sentido responsabilizar o governo e a geringonça pelo arrefecimento da economia, agora também confirmado pela previsão do BdP de 1,7% este ano. E não faria sentido porque o crescimento dos anos dos últimos três anos ficou a dever-se ao dinheiro que os turistas gastaram e às exportações dos empresários portugueses. Entretanto, os nossos vizinhos espanhóis, mesmo a passar por um período de instabilidade política e sem poderem contar com o Ronaldo das Finanças (nem o Cristiano, já agora), cresceram 2,6% em 2018, quase meio ponto percentual acima dos milagres do Costa.

E as perspectivas futuras não são melhores. Esgotado o aumento do emprego, o crescimento do PIB dependerá exclusivamente do aumento da produtividade e esta, como reconhece o Conselho para a Produtividade, está em desaceleração nos últimos anos devido ao baixo nível de intensidade capitalística (quantidade de capital disponível por trabalhador). Chegados a esta conclusão, temos dois problemas: a falta de investimento e a falta de capital. Ora, como concluiu um economista mediático, décadas depois de qualquer empresário lorpa com a quarta classe, «sem poupança não há investimento e sem investimento não há crescimento» o que nos leva a outro problema: «a taxa de poupança das famílias atingiu um novo mínimo, ao recuar, em 2018 para 4,6%».


Para ajudar à festa, com as exportações estão a desacelerar o saldo da balança de bens e serviços continua a degradar-se e o equilíbrio das contas externas fica completamente dependente do turismo e da sua volatilidade.

1 comentário:

Anónimo disse...

Pelo menos fiquei a saber de onde veio a frase, tantas vezes repetida, "a maior carga fiscal dos últimos 23 anos". O que continuo sem saber, é como o gráfico evoluiu entre 1973 e 1995 (calculo que tenha sido sempre a subir).
A frase podia ser "a maior carga fiscal dos últimos 45 anos"? Podia. Mas, como dizia o anúncio, "não era a mesma coisa"...