Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

22/04/2019

Crónica da avaria que a geringonça está a infligir ao País (184)

Outras avarias da geringonça e do país.

Um estudo sobre Segurança Social patrocinado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos tornou público um segredo de Polichinelo: a longo prazo o sistema de pensões é insustentável. Depois de várias reformas "definitivas" da Segurança Social da iniciativa de governos socialistas, o ministro socialista do pelouro desvalorizou as conclusões com os truques habituais que fazem soar a campainha de milhões de idiotas atribuindo ao estudo o propósito de «abrir o mercado aos privados», aproveitando para anunciar um novo aumento real das pensões em 2020, a que se seguiu o recado de Costa na imprensa amiga de taxar os lucros para financiar as pensões. É a reacção lógica de quem mede o interesse nacional pelo impacto nos seus resultados nas eleições deste ano.

Um dos exemplos mais notáveis, e eles não faltam, do desinteresse pelos conflitos de interesse da casta socialista, dos novos situacionistas, como lhes chamou com propriedade Helena Matos, é o bonzo jurídico do regime, Eduardo Paz Ferreira, que na sua qualidade de especialista em Finanças Públicas facturou quase 600 mil euros a organismos públicos durante o governo em que sua mulher é ministra da Justiça. Mais notável do que ter facturado - já o tinha feito quase à mesma escala no governo anterior - é ele não ter visto nisso qualquer problema ético, mesmo quando actua como advogado para contestar o Tribunal de Contas.

Outra área onde não faltam exemplos notáveis é a da mentira de perna curta. O último deles foi a palhaçada da negociação da Lei de Bases da Saúde que a incontinência verbal berloquista nos fez saber que já estava resolvido proibir as Parcerias Público-Privadas na gestão dos hospitais que a experiência tem mostrado ser o modelo mais eficiente e, por isso, mesmo odiado pela esquerdalhada, sempre obcecada em ampliar a sua freguesia eleitoral pela expansão da administração pública. Usando o Expresso o governo apressou-se a desmentir na quarta-feira, mas o próprio Expresso confirmou na edição do fim de semana que foi o governo no documento que entregou ao BE e ao PCP que incluiu a extinção das PPP - se o semanário de reverência, sempre procurando limpar a folha do governo, escreve algo que o entala somos obrigados a dar-lhe crédito.

E também não faltam exemplos das golpadas, como a da presidente da Administração Central do Sistema de Saúde que manipulou as listas de espera para consultas com a eliminação administrativa de utentes e a falsificação dos indicadores. Deve ter sido isso que a qualificou para Costa a nomear mais tarde ministra da Saúde.

A greve dos motoristas de combustíveis veio tornar mais evidentes, em primeiro lugar, a vulnerabilidade da economia de um país que com ao fim de poucos dias de uma greve de 800 motoristas fica quase paralisado e à beira de um ataque de nervos e, em segundo lugar, a emergência de novos sindicatos com iniciativas mais radicais fora do controlo das centrais sindicais e do PCP. A vulnerabilidade não é novidade, o que é novidade, confirmando outros sinais como as greves dos enfermeiros e dos estivadores, é a gradual perda de influência da CGTP que é o preço que os comunistas estão a pagar pelo apoio à geringonça. Esse preço, que tenderá a ser cada vez mais pesado, é por isso uma força centrífuga da geringonça e, estou certo, levará o PCP a ter de escolher entre a irrelevância na geringonça e estar fora dela tentando prolongar uma influência em declínio.

A governação de Costa atingiu um descalabro tão visível que até o mortiço e conformado eleitorado português parece começar a ver. Se as últimas sondagens conhecidas das intenções de voto já mostravam um PS em queda, as da Aximage sobre as eleições europeias, em que tradicionalmente o voto útil tem menos expressão, evidenciam o PSD a 2,5 pontos percentuais do PS aproximando-se perigosamente apesar da inépcia de Rui Rio.

Depois de dois anos a combater o alojamento local, a geringonça está mais perto do sucesso.«Entre Janeiro e Março de 2019, os registos de alojamento local em todo o país diminuíram cerca de 40% face ao período homólogo. Dos 82.363 registos existentes, 7057 proprietários pediram a anulação da licença», escreveu o Público. É a confirmação do princípio orientador deste governo que Reagan, definiu: «If it moves, tax it. If it keeps moving, regulate it. And if it stops moving, subsidize it.»

Em Fevereiro deste ano a dívida do SNS atingiu quase 2,8 mil milhões e a dívida com mais de 90 dias era de 1,6 mil milhões. Não é necessário lembrar que os credores são os «privados» como a esquerdalhada gosta de chamar àquela parte produtiva do país.

A herança que o ministro das Finanças vai deixar ao seu sucessor justifica as suas reticências em continuar e a ansiedade de Costa em o manter - ler este artigo de Miranda Sarmento que explica muito bem os porquês. Isso também explica a razão porque aqui no (Im)pertinências fazemos figas para que o próximo putativo governo de Costa possa a contar com a sua prestimosa prestação.

Uma parte da herança até o próprio Centeno já tem dificuldade em esconder e aparece reflectida nas revisões das projecções orçamentais e económicas do Programa de Estabilidade 2019-2023 que apresenta maior carga fiscal, mais despesa pública (incluindo mais pensões e despesas com pessoal que aumentarão 2,4 mil milhões na próxima legislatura), menos investimento público, maior endividamento e menor crescimento. [Leituras recomendadas: Um Programa de Estabilidade a “navegar à vista”, O Programa de Estabilidade que é uma poça de água e Não nos deixemos iludir]

Apesar disso, a realidade pode ainda ser pior, como mostram as projecções de crescimento do FMI em todos os anos inferiores às do governo (ver diagrama seguinte), as dúvidas do Conselho de Finanças Públicas e a projecção do BBVA de 1,5% de crescimento do PIB este ano.

Fonte
A respeito do investimento público vale a pena acrescentar que Centeno a encolheu 10% em apenas três semanas e que o governo apoiado pela esquerdalhada, para quem o investimento público era o alfa e ómega da governação socialista, só em 2020 prevê (sublinho prevê) atingir o montante investido pelo governo "neoliberal" que o precedeu. Seria uma vergonha, se eles a tivessem,

No pacote da herança aparece em destaque a caixa de Pandora que Costa abriu para conseguir governar, a saber: a muito celebrada reposição de direitos da sua freguesia eleitoral que continua a agitar professores e, por arrasto, o resto da freguesia, enquanto governo, parceiros da geringonça e oposição competem em inanidades e até humor involuntário como a declaração do ministro da Educação e assistente da Fenprof que disse no parlamento, sem se rir, «como somos governo não temos a hipocrisia de prometer tudo sem explicar onde e a quem retiramos recursos».

Prosseguindo um padrão que já vimos nas últimas décadas com os resultados que se conhecem, as exportações desde há 7 meses crescem mais do que exportações aumentando o défice comercial, ao arrepio da tendência da Zona Euro.

Fonte
Para terminar esta crónica com uma nota de humor, uma vez mais involuntário, desta vez dos portugueses que responderam ao inquérito do Observador Cetelem Consumo 2019: à cabeça das intenções de consumo dos portugueses estão para 61% as viagens e lazer e para 43% os electrodomésticos, o que não impede que 64% dos portugueses tenham uma preocupação de economizar o que coloca Portugal no topo da lista dessa prioridade logo a seguir à Noruega com 71%, isto num país que tem a taxa de poupança da famílias mais baixa da UE. Não será por acaso que esse país tem na sua sabedoria popular o conselho não se pode ter sol na eira e chuva no nabal.

1 comentário:

Anónimo disse...

Na minha Educação Primária em Português, aprendi que havia duas palavras — privado e privada — com significados basto diferentes. Ainda não se dizia que a 'coisa' tinha dois géneros.
Ora, quando leio ou oiço tais coisas só me lembram os significados dados em Brasileiro.
Vós também esclareceis bem, adaptando as novas modinhas: «como a esquerdalhada gosta de chamar àquela parte produtiva do país».