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27/08/2018

Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça (150)

Outras avarias da geringonça.

O discurso do Dr. Centeno, na qualidade de presidente do Eurogrupo, sobre a saída da Grécia do programa de resgate poderia ter sido lido pelo Dr. Vítor Gaspar e quem o ouviu não imaginaria que o Dr. Centeno era o Sr. Mário que nos finais de 2015 fustigava a «saída limpa» do governo neoliberal. Não espantou por isso que a coesão da geringonça tenha sido uma vez mais posta à prova com esse discurso que suscitou por parte dos berloquistas reacções indignadas comparando o Dr. Centeno a Jeroen Dijsselbloem - para o berloquismo Jeroen encontra-se no mesmo departamento do ministro das Finanças do III Reich. É claro que isso, só por si, não impedirá berloquistas e comunistas de aprovarem o orçamento do Sr. Mário.

Durante a semana foram conhecidas mais 95 medidas para aprimorar o Estado Sucial, entre elas a autorização que o governo da geringonça se propõe conceder aos sujeitos passivos de levantarem até 50 mil euros do seu próprio dinheiro nas suas próprias contas bancárias sem que tenham de dar explicações ao fisco. É muita generosidade da parte de um governo que esconde os nomes dos políticos que recebem «subvenções vitalícias» com o argumento do novo regulamento de protecção de dados, regulamento que, no entender do mesmo governo, também impede que se conheçam os nomes dos detentores dos calotes da Caixa, mas não impede a divulgação dos nomes dos devedores ao fisco.

Um dos falhanços do governo PSD-CDS foi a reforma da administração local num país com população inferior a qualquer das 12 maiores cidades do mundo, que tinha 308 municípios e 4.259 freguesias, com respectivamente áreas médias de cerca de 300 km2 e 22 km2 e populações residentes de 33,7 mil e 2,4 mil e um número de funcionários que andava perto dos 200 mil. Pois bem, a redução do número de freguesias de 4.260 para as 3.092, a única coisa que o governo PSD-CDS conseguiu, está ser objecto de «reversão» e o governo socialista prepara-se para desagregar de novo freguesias que tinham sido agregadas.

A austeridade socialista e as cativações do Ronaldo das Finanças não poupam nem o Tribunal Constitucional que se queixa de não ter dinheiro nem para mandar cantar um cego, quanto mais para fazer obras.

Está provadíssimo que as PPP na área da Saúde, ao contrário das PPP rodoviárias, têm tido um relativo sucesso, com custos por doente padrão muito mais baixos do que os hospitais públicos (cf o estudo da Católica Lisbon School of Business & Economics). Este sucesso é uma razão adicional para comunistas e berloquistas exacerbarem a sua oposição a estas parcerias. Como parte das cedências aos seus parceiros da geringonça, o governo anunciou em 2016 que o contrato da PPP do hospital de Cascais (que tem um custo por doente padrão inferior em 30% ao do hospital público de referência) não seria renovado. Felizmente, essa promessa não impediu o governo - que engana toda a gente incluindo os seus parceiros - de ter publicado há dias o despacho de prolongamento do contrato até ao final de 2021.

O turismo, apesar de ter dado mostras de desacelerar em Julho, gerou receitas no 1.º semestre de 7 mil milhões de euros (aumento de 14%, representando mais de 7% do PIB). Num país para quem, como se verifica, o turismo está a ser o salva-vidas, o que dizer do seu aeroporto principal ser o 10.º pior em 1.194 aeroportos no ranking de pontualidade da OAG?

Depois do fim de semana da rentrée do PS em Caminha, iniciado com uma viagem num dos poucos comboios que ainda funcionam com garantia escrita da CP que "aceita os atrasos" noutros comboios para que o do PS vá do Pinhal Novo a Caminha sem delongas, estava anunciada mais uma greve da CP que foi desconvocada à última hora, depois do governo ter feito cedências para evitar mais escândalos.

E, falando de greves, os enfermeiros já anunciaram mais uma com um mês de antecedência e os sindicatos da função pública preparam-se para reivindicar aumentos em 2019 entre 3% e 4% o que poderia ter virtualidades de gerar uma onda de greves. Poderia, se 2019 não fosse ano de eleições em que o governo muito provavelmente abrirá os cordões à bolsa. Duvida-se é que a bolsa chegue para tudo, incluindo a celebrada contagem do tempo de serviço de que a Fenprof jura não abrir mão e até já ameaçou que «se não for com este Governo, será com o seguinte».

A dívida total do sector não financeiro aumentou 5,3 mil milhões no 1.º semestre atingindo um total de 721,1 mil milhões (3,7 vezes o PIB), incluindo 318 mil milhões do sector público que aumentou 2,5 milhões no mesmo período

O défice da balança comercial continuou a aumentar em Junho, devido ao crescimento de 1.061 mil milhões do défice da balança de bens só parcialmente compensado pelo aumento de 662 milhões do excedente da balança de serviços à custa do turismo. O saldo conjunto das balanças corrente e de capital atingiu em Junho -1.678 milhões de euros, quase o dobro do saldo negativo no mesmo período do ano passado.

Não admira por isso que no final do 1.º semestre a dívida externa portuguesa, tenha aumentado para 209,5 mil milhões de euros (106,8% do PIB, mais 1,1% do que no final de 2017). Já vimos isto várias vezes e da próxima vez também não vai ser diferente.

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