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20/08/2018

Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça (149)

Outras avarias da geringonça.

Num país que recebe mais de 20 milhões de turistas por ano - o dobro da população residente - e para quem o turismo é um dos principais expedientes para adiar a bancarrota, um turista belga liga para o 112 numa emergência com um filho e teve a sua chamada transferida 5 (cinco) vezes até conseguir alguém que falasse inglês.

Quando Costa enaltece a redução do desemprego como uma das realizações do seu governo, é logo atacado pelos seus detractores que lhe recordam que quem cria emprego é a economia não é governo. Nada mais errado. Veja-se o contributo que o governo deu para a redução do desemprego com a contratação de 1.170 apparatchiks, de outro modo sem emprego, estacionados em S. Bento, dos quais desde 282 foram recrutados desde o final de 2015.

Ou veja-se o contributo que o governo deu desde que tomou posse com a arregimentação de 16 mil novos utentes da vaca marsupial pública cujo número atingiu 675 mil no final do 1.º semestre. Desses 16 mil, foram contratados nos últimos 12 meses 7.300, incluindo 2.900 para a administração local. Note-se que as contratações parece terem mais a ver com a engorda da clientela eleitoral do que com as necessidades reais dos serviços. Exemplo: os chefes de urgência de obstetrícia do hospital Amadora-Sintra demitiram-se por não terem sido contratados os técnicos necessários.

Em matéria de greves, onde como se sabe não há férias, os enfermeiros fizeram mais uma de cinco dias que foi um grande sucesso em termos de operações e actos médicos adiados. Apesar de tudo, essa greve ainda foi para forçar a negociação do acordo colectivo, mas a greve às horas extraordinárias (não conheço, já o escrevi, nenhum outro país onde se façam tais greves) dos trabalhadores da Unidade de Manutenção de Alta Velocidade da EMEF foi de protesto contra a falta de pessoal nessa unidade que está a prejudicar a manutenção dos Alfa Pendulares. É uma greve do mesmo tipo das greves contra o fecho de empresas. O certo é que a CP, já à beira da paralisia nesta altura do ano, depois da réentrée arrisca-se a colapsar não já por falta de investimento em novas carruagens mas por falta das velhas carruagens em condições de circular.

Apesar do talento de Costa para iludir os problemas e do pavor dos berloquistas de se tornarem supérfluos, o ruído das peças da geringonça e do óleo queimado é cada vez maior. O camarada Jerónimo já trabalha no caderno reivindicativo para aprovar o OE2019 e «puxa dos galões» em relação ao BE; anuncia-se um braço de ferro à volta da contagem de tempo dos professores com os sindicatos afectos aos comunistas a pressionarem os parceiros da geringonça para chumbarem o orçamento caso o governo não cumpra o prometido, prometido que, à boa maneira dos acordos políticos domésticos, é uma coisa para Costa e outra para Jerónimo e Catarina.

Se há coisas que florescem em Portugal, a mais florida é a dívida pública. Não só o seu total continua a engordar, como cada um dos seus componentes tem hoje um valor absoluto mais alto do que antes do resgate.

Fonte IGCP (via Eco)
Para quem imagine que o peso de uma dívida das mais elevadas do mundo e que não desce é um problema de longo prazo, conviria olhar para os efeitos de uma crisezinha de meia-tigela como a da lira turca que desde 31-07 a 17-08 viu aumentar o yield das OT a 10 anos de 1,74% para 1,85% e cair o PSI 20 de 5.620 para 5.461.

Floresce a dívida pública e floresce a dívida privada alimentada, entre outros, pelo novo crédito ao consumo, que no 1.º semestre atingiu 3,7 mil milhões, ou seja mais 18% do que no 1.º semestre de 2017 e mais do dobro do 1.º semestre de 2013.

O tão celebrado crescimento maior do século atingiu 2,3%, o que só é maravilhoso face aos crescimentos que Portugal vem apresentado há duas décadas e é apenas o nono crescimento dos 13 países de que já são conhecidos os resultados.

Para terminar a crónica desta semana, ficam duas perguntas relacionadas com o aeroporto do Montijo: (1) porque não está previsto nas projecções até 2020 do grupo Vinci, concessionário dos aeroportos, nenhum investimento?; (2) porque guarda o governo de um partido que há 20 anos anunciava o esgotamento da Portela entre 2003 e 2007, o maior silêncio sobre o novo aeroporto?

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