Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

13/08/2018

Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça (148)

Outras avarias da geringonça.

Costa é um dos maiores mas está longe de ser o único responsável pelo desastre do SIRESP, uma PPP mal negociada pelo governo de Durão Barroso com a SLN/BPN, a PT e o BES, parceiros não por acaso todos eles pendurados no regime e dois deles mais tarde falidos e vendidos deixando um rasto de dívidas para os contribuintes pagarem. Costa continuou o desastre enquanto ministro da Administração Interna de Sócrates e agora como primeiro-ministro ao apadrinhar a entrada no capital do SIRESP nas condições em que o fez.

Entretanto, tivemos a semana passada mais mais um episódio da temporada em curso da série Incêndios Florestais. Assistimos, no caso da Serra de Monchique, a uma baderna terminal na gestão dos recursos humanos e materiais concentrados numa prioridade, ditada pelo terror do governo, de extrair cegamente à força centenas de pessoas das suas casas para evitar mortes.

Durante o episódio assistimos ao espectáculo deprimente de um primeiro-ministro a fazer propaganda no Twitter com fotos em férias a fingir que estava a coordenar as tropas e no final a uma auto-congratulação tão idiota que só a um líder socialista poderia ser tolerada. «Monchique é a excepção que confirma a regra do sucesso», disse Costa, secundado pelo seu apoderado Eduardo Cabrita que acrescentou «a grande vitória é: vítimas zero. É esse o grande balanço deste incêndio». Um e outro
não perceberam que «os incêndios são tragédias para assumir a falha do Estado – não para reclamar sucessos do governo», como escreveu Sebastião Bugalho.

Passado um ano da tragédia de Pedrógão Grande e dos anúncios de grandes medidas, o zingarelho com o nome pomposo «Estrutura de Missão Para a instalação do Sistema de Gestão Integrada de Fogos Rurais» ainda não deu à luz nada de préstimo para o propósito que foi criado.

A degradação terminal da CP, consequência do corte dos investimentos na renovação do equipamento é agora impossível de esconder mesmo com a colaboração da imprensa amiga. O Ronaldo das Finanças cativou mais de 100 milhões destinados aos transportes ferroviários, o investimento da CP em 2017 foi apenas 27% do orçamentado, no 1.º semestre de 2018 só foram investidos 10,6% do total previsto para o ano (Eco) e desde 2015 (o último ano da austeridade má a que o Costa virou a página) que a CP não recebe indemnizações compensatórias, devido à austeridade boa, supõe-se.

Também consequência da austeridade boa, as compras de bens e serviços diminuíram, salvo na saúde onde aumentaram 15,5% para tentar evitar o colapso do SNS. Não obstante, os prazos da pagamento dos hospitais continuam a aumentar. Onde a austeridade socialista não chegou foi à residência oficial do primeiro-ministro que está a ter obras de reabilitação de 719 mil euros.

Ignorada pelo discurso auto-laudatório do governo há uma realidade económica e financeira que, uma vez ou outra, emerge dos relatórios das instituições europeias, sempre mais preocupadas com os delicados equilíbrios políticos do que com os riscos que a governação de cada país acarreta para a viabilidade da UE. Essa realidade emergiu agora no relatório do BCE ao apontar Portugal como o terceiro país, a seguir à Grécia e a Itália, com mais desequilíbrios excessivos em várias áreas mais carentes de reformas estruturais.


O mesmo BCE e o instituto alemão de investigação económica DIW alertam para a bolha especulativa imobiliária soprada pelo crédito hipotecário a taxas artificialmente baixas e pela entrada de capitais estrangeiros que no primeiro trimestre do ano fizeram subir face ao período homólogo o preço dos imóveis residenciais a nível do país 7,8% e 20,4% em Lisboa e 22,7% no Porto.

Consequência do aumento do consumo, em grande parte dirigido a bens importados, a balança comercial de bens continuou a degradar-se em Junho. tendo aumentado 641 milhões em relação ao défice de Junho de 2017 e atingindo 1.682 milhões (999 milhões sem combustíveis e lubrificantes). No total do 1.º semestre as importações aumentaram 8,8% contra 6,6% das exportações, apesar do efeito do T-Roc da VW ter aumentado 28,7% as exportações de material de transporte. O défice comercial atingiu no final do 1.º semestre 7.600 milhões o valor mais alto desde 2011. Onde é que já vimos este filme?

Sem comentários: