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10/02/2018

O funeral de Soares visto por um comunista

Mário Soares tornou-se gradualmente uma figura indiscutível, uma espécie de Pai da Pátria, ou pelo menos Pai da Democracia (tudo com maiúsculas). Será conveniente dizer que há vários Soares no Mário Soares e aqui no (Im)pertinências apreciamos pelo menos um deles.

No Portugal dos Pequeninos, muito dado aos consensos e aos unanimismos que só deixam espaço para a idolatria e os ódios de estimação, por definição as figuras indiscutíveis não se discutem.

É por isso refrescante, ler a entrevista a Ribeiro Cardoso, operário eleito director de “O Século”, despedido por participação no 25 de Novembro, especialmente o seguinte trecho que deve ter gerado ondas de indignação e espumas de raiva entre os indefectíveis de Soares mas foi muito bem aceite pelo Avante:

«Isto é um país filho da puta. Veja o que se diz de Kim Il-sung, Kim Jong-il e Kim Jong-un. O funeral do Mário Soares foi uma coisa digna da Coreia do Norte, com a sua imensa cobertura mediática. Quando morreu, parece que morreu o pai da pátria. Falaram de tudo, algumas coisas bem, porque ele teve uma vida muito rica, mas não falaram do lado subterrâneo dele. Há uma história toda por contar do Soares. O que foi Macau?
...
O Rui Mateus vendeu todos os livros numa tarde, um enorme êxito editorial. Tudo comprado pelo Soares. E nunca mais foi reimpresso e mais ninguém falou no assunto

Corrigindo Ribeiro Cardoso, sempre acrescento que, para ser uma coisa digna da Coreia do Norte,  não chegou ao funeral de Mário Soares a imensa cobertura mediática porque lhe faltou a adesão popular - afinal de contas o PS ainda está longe do Partido dos Trabalhadores da Coreia. Mais próximo esteve o PCP no funeral de Cunhal.

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