Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

07/09/2014

QUEM SÓ TEM UM MARTELO VÊ TODOS OS PROBLEMAS COMO PREGOS: O alívio quantitativo aliviará?

Mario Draghi incluiu em Junho, no seu «whatever it takes» de Julho de 2012, as TLTRO (operações de financiamento de médio longo prazo) e adicionou a semana passada a redução da taxa directora de 0,15% para 0,05% e um novo programa de aquisição de ABS (asset backed securities) emitidos por empresas privadas não financeiras e um programa de compra de covered bonds emitidas por entidades financeiras, com vista a impulsionar o crédito à economia e estimular o crescimento.

Quase toda a gente ficou muito feliz com esta espécie de QE (quantitative easing), em particular os keynesianos que andam preocupadíssimos com a deflacção. Antes de embandeirar em arco conviria, em primeiro lugar, não esquecer que o efeito marginal da redução da taxa directora, esgotado o efeito psicológico momentâneo será provavelmente insignificante. As novas operações TLTRO são as velhas LTRO com mais o T de Targeted e passam a depender do crédito concedido pelos bancos (excepto crédito hipotecário). Quanto ao «Quantitative easing» - em português costuma-se traduzir por «alívio quantitativo» - é o nome eufemístico e politicamente correcto para a criação de moeda por via da compra de activos pelo banco central, equivalente no passado à impressora fazer horas extraordinárias. Em segundo lugar conviria ter em conta umas quantas outras coisas.

A começar porque nos EU, onde muitas empresas se financiam através da emissão de obrigações de médio e curto prazo (entre nós, papel comercial), a compra de ABS pela Fed é, de facto, um eficaz facilitador do crédito que poderá fazer sentido para financiar o investimento produtivo compensando a aversão ao risco dos bancos depois de lhes estalarem nas mãos as castanhas do mal-parado. Diferentemente, na Europa, o financiamento das empresas, salvo das grandes, em Portugal quase todas sistematicamente descapitalizadas, é pela via do crédito bancário. Por isso, a eficácia da compra de ABS pelo BCE é muito discutível, visto que as empresas privadas que se financiam principalmente por obrigações e papel comercial só marginalmente recorrem ao crédito bancário em operações de tesouraria.

A continuar porque o programa de compra de covered bonds não é exactamente uma novidade – foi pela primeira vez adoptado em Julho de 2009 e a sua principal serventia (e não foi pouca) foi permitir aos bancos continuarem a comprar dívida pública a taxa altas com dinheiro do BCE a taxas insignificantes.

Por último, por agora, pelo facto de este tipo de receitas ao fim de 6 anos e triliões de dólares derramados na economia só deu magros resultados nos Estados Unidos. A prazo poderá ter outros resultados, esses substanciais, na criação da próxima bolha, como temos alertado no (Im)pertinências - ver, por exemplo, aqui e aqui.

«The Light At The End Of The Quantitative Easing Tunnel», Jieming See, Seaking Alpha

No caso do Japão, depois de um ano e meio de Abenomics - as políticas económicas, monetárias e fiscais do actual primeiro-ministro - apesar de a deflação se ter convertido em inflação de 3,6%, a mais alta entre os países ricos, o crescimento previsto para 2014 é anémico de apenas de 1,4%, inferior até ao da Alemanha.

Sem comentários: