Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

21/12/2009

ARTIGO DEFUNTO: os desígnios do jornalismo de causas são insondáveis (6)

[Continuação de (1), (2), (3), (4) e (5)]

Uma das conversões mais notáveis de entre os Pastorinhos da Economia dos Amanhãs que Cantam, cortesia da Nossa Senhora da Maldita Realidade, foi a do pastorinho Nicolau Santos (NS), conversão que ele partilha connosco todas as semanas desde há dois meses. Nota-se até nos títulos dramáticos: «O que vem aí é dantesco», «Amarrados à tragédia grega». Dramáticos mas enganadores. O que vem aí não é dantesco, o que vem aí é mais do mesmo e não estamos amarrados a nenhuma tragédia grega, temos a nossa própria tragédia que à força de estar em cena há séculos é cada vez mais uma comédia.

Esta semana, NS propõe-nos a sua medicina que é um «orçamento draconiano». Arrumada, face à tragédia, a tralha do investimento público nos elefantes brancos, NS põe-nos a apertar o cinto e dá-nos quatro soluções à escolha: «a la irlandesa», como lhe chama (está descrita neste post do (Im)pertinências); a solução a la Eduardo Catroga, a solução a la Sócrates (que NS, ainda agarrado à fase de antes da aparição, não ousa rotular) e a quarta que é a mistura das 3 anteriores.

A primeira solução (redução da despesa pública por corte nos salários dos funcionários públicos) e a terceira (aumento dos impostos), percebem-se. A quarta percebe-se, percebendo-se as outras. A segunda consiste no «congelamento da despesa pública total em valor absoluto por dois a três anos» e é um exemplo do paleio dos economistas da macroeconomia, descrevendo políticas que enchem a boca e não se traduzem em medidas nenhumas. Como congelar a despesa pública total? O congelamento do investimento público e das despesas correntes? A redução do investimento público e o aumento das despesas correntes? O aumento do investimento público e a redução das despesas correntes? Qual o investimento que se vai manter, reduzir ou aumentar? E, principalmente, quais as despesas correntes que se vão manter, reduzir ou aumentar? E, ainda mais principalmente, o que se faz à fatia mais grossa de todas – a dos salários dos utentes da vaca marsupial pública?

Em conclusão, os Pastorinhos da Economia dos Amanhãs que Cantam quando finalmente já não podem negar a doença receitam-nos placebos.

Sem comentários: