[Continuação de (1), (2), (3), (4), (5) e (6)]
Tal como Nicolau Santos, outro Pastorinho da Economia dos Amanhãs que Cantam, Daniel Amaral, também está a entrar na fase das soluções para os problemas que ainda recentemente não existiam. No seu artigo da passada 6.ª feira «O crescimento», começa por efabular sobre a equivalência entre investimento público e privado. Cometendo uma vez mais o pecado capital do macroeconomistas de inspiração samuelson-keynesiana fala dos agregados como se fosse indiferente a caldeirada ser de peixe ou de carne ou ter mais batatas ou mais tomates. Qual o investimento que aumenta mais a capacidade produtiva: uma auto-estrada de sítio algum para sítio nenhum com um tráfego de 2.000 veículos por dia que custa 100 milhões, construída pela construtora do doutor Coelho e financiada com dinheiro dos impostos retirado ao consumo e à poupança ou um hotel de 4 estrelas que custa 10 milhões ao grupo Pestana e factura 80% a hóspedes estrangeiros?
Prossegue as suas efabulações sobre o consumo e a poupança, os empréstimos, o capital e o trabalho, a eficiência. De caminho, espera que «os nossos empresários [dêem] uma explicação ao país» sobre a insuficiência dos ganhos de eficiência. Sintomaticamente, apesar de até agora acreditar que o governo tinha a chave dos problemas da economia, passa distraidamente a pedir contas aos empresários por aquilo que, segundo o seu pensamento recente, já estaria há muito conseguido pela acção virtuosa do governo.
Por último, lembra-se que afinal existem mercados e que ou consumimos ou exportamos. Para consumir não temos dinheiro e para exportar não têm os outros dinheiro, conclui. Termina com uma notável contribuição para o pensamento económico pós-moderno: «A ideia de crescer é boa. Mas tem de ter pernas para andar.» Diferentemente do pastorinho Nicolau Santos, que quando finalmente admitiu a doença receitou placebos, Daniel Amaral ainda está na fase do médico que, não fazendo a menor ideia das causas do padecimento do seu doente que supunha ter uma saúde de ferro, lhe deseja as melhoras. Se quisermos olhar as coisas pelo lado positivo, poderemos dizer: antes isso do que fotocopiar as receitas que tem na gaveta e lhe prescreveu nos últimos 30 anos.
Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
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