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19/11/2003

CASE STUDY: Tese nº 3 sobre os públicos de O Meu Pipi. Diferentes públicos, mas nem todos distintos.

Prometida há mais duma semana e sempre adiada, é altura de tratar da tese dos públicos do Pipi, enquanto ainda há Pipi. Públicos para o Pipi é que nunca faltarão, dada a pletora de grunhus vulgaris lusitanicus que, não sendo o único público, são o mais persistente e abundante, como já se tinha concluído no Prelúdio à Tese nº 3.

Não tendo o produto sexo um target específico, é difícil ser exaustivo quando quase todas as criaturas são consumidores potenciais da prosa do Pipi. Potenciais mas não actuais, porque para estes se requerem as seguintes condições:
1) Um módico de literacia - com boa vontade 3 ou 4 milhões de criaturas
2) Ter acesso à Internet - o que reduz os 3 a 4 milhões a uns 300 ou 400 mil
3) Navegar na bloguilha, isto é ser bloguilhéu - talvez 10%, ou seja 30 a 40 mil
4) Conhecer o blogue do Pipi - talvez 60 a 80% dos bloguilhéus
5) Frequentá-lo - talvez uns 8.000 a 9.000 (*) bloguilhéus, o que dá um share extraordinário ao redor de 1/4.
(*) Nas últimas 10 semanas o Pipi arrotou 20 postas e teve aproximadamente 200.000 visitas, cerca de 10.000 por posta; a maioria das visitas é de grunhus vulgaris. Se admitirmos que uns 10-20% do público vomita e nunca mais lá volta, e que os restantes não perdem uma, a audiência total fidelizada do Pipi deve rondar as 8.000 a 9.000 almas. É claro que estou a esquecer as visitas redundantes, quer do visitante que gostou tanto que volta outra vez ao lugar do creme, quer do visitante ansioso que vai lá 3 dias ver se já há uma nova posta e só a encontra ao quarto. Retirando estes, a audiência seria eventualmente muito menor.

Até aqui é só aritmética do actual 9º ano, equivalente à 3ª classe da primária com a Dona Gertrudes e a sua palmatória didáctica. Vamos agora ao prato de sustância, com a ajuda da Doutora Ana, psicóloga pela Sorbonne e socióloga e antropóloga nas horas vagas. Esquecendo os 10-15% de leitores acidentais, afinal quem são essas 8.000 ou 9.000 criaturas? Se não as conhecemos, podemos ao menos arrumá-las nos seguintes segmentos:

Leitores reticentes
Leitores que conseguem aguentar irregularmente as visitas, sacrificando a agonia à qualidade delirante da prosa do Pipi.
Exemplo: o Impertinente e umas quantas outras almas.

Grunhus vulgaris
São leitores contumazes do Pipi e de longe a espécie mais abundante, representando talvez 70-80% da audiência. Entre os Grunhus vulgaris há que distinguir a variedade commentarius que se caracteriza por uma verbalização incipiente, resultado de só usar a parte mais primitiva do cérebro. A variedade commentarius é responsável por quase todos os comentários às postas do Pipi, que ao ritmo de cerca de 1.300 por posta conspurcam a bloguilha, que no caso deles se reduz a uma braguilha.
Exemplos: abundantes.

Grunhus literattus
É a elite dos grunhos. Distinguem-se dos grunhus vulgaris por serem portadores de literacia.
Exemplos: não muitos.

Épater le bourgeois
Por incrível que pareça, nestes tempos em que o tema sexo se banaliza, exala dos écrans da televisão generalista para os doces lares lusitanos, escorre das revistas, verte-se das conversas das viúvas de todos os S. Lourenços de Mamporcão, parece haver quem pense que o Pipi é a vanguarda do ataque aos tabus que deixa os patetas embasbacados.
Exemplos: vários.

FLM - Frente de Libertação do Macho
São militantes da causa que sofrem com a decadência do macho em geral, e do lusitano em particular, sucumbido ao paradigma do homem sensível, que chora, usa cremes, se meneia delicadamente, avia beijinhos, e é portador de todos os outros trejeitos peculiares que fazem as delícias da mulher distraída, que se julga emancipada. O Pipi é o seu herói.
Exemplo: O Belo Menir da Vareta Funda.

Cultores da Língua
Vêem no Pipi a redenção, pelo bom uso da língua, da parte escatológica do sexo. Gostariam da prosa do Pipi mesmo que ele escrevesse sobre jardinagem.
Exemplos: Bomba Inteligente, Dicionário do Diabo.

(Continua?)

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