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25/11/2003

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: A montra alfarrabista da estação marcelista.

Secção Res ipsa loquitor
Se os primeiros meses do (des)consolado do Prof. Marcello Caetano, com dois "l", foram chamados de primavera marcellista, é justo que se diga, a propósito do seu afilhado prof. Marcelo Rebelo de Sousa, só com um “L”, que ocupa todo o ano uma só estação, que transformou a TVI na estação marcelista, só com um “L.
O Impertinente é, desde há muito, um admirador do prof. Marcelo só com um “L”, principalmente da sua costela de criador de factos políticos, costela injustamente chamada intriguista por alguns invejosos.
Contudo, há sempre um contudo, que no caso é a progressiva transformação da sua brilhante prestação televisiva numa montra de alfarrabista. Avia livros sobre tudo e mais alguma coisa: o golfe, o vinho do porto, a aldeia de Carrazeda de Ansiães, Lisboa antiga, Lisboa moderna, a zona ribeirinha do Porto, as caves de Gaia, e o diabo a sete.
Não ponho em dúvida que o prof. leia toda aquela imensa parafernália editorial – afinal ele não dorme. Também, nem no duche, me ocorre que o prof. receba umas propinas dos autores ou editores – afinal o prof., além de não parecer do género colector de propina, não precisa dela.
Mas o que procura o prof. Marcelo? Que impulso interior pode levá-lo a enfiar compulsivamente, todos os domingos, tanto metro de prateleira pelas goelas da câmara?
Será levado pelo mesmo impulso do Dr. Pacheco Pereira de nos deslumbrar com a sua erudição? Não parece. Afinal, ao contrário do Dr. Pacheco Pereira que, pelo estilo e pelo discurso, a gente ouve com um silêncio respeitoso, como se estivéssemos numa biblioteca com as paredes apaineladas de carvalho, o Prof. Marcelo, pelo estilo e pelo discurso, convoca mais o nosso instinto de basbaques de feira, inscrito no fundo da matriz popular lusa.
É um mistério. É mais fácil Cristo voltar à terra do que decifrá-lo.
Seja como for, o Prof. Marcelo merece alguns bourbons, porque sempre foi assim, desde os tempos em que se metia debaixo da cama da avó e a abanava simulando um terramoto e assustando a pobre senhora, até aos tempos mais recentes em que chamava com ternura mal disfarçada Lélé da Cuca ao Dr. Balsemão. Não sei quantos bourbons, porque não faço ideia se Cristo ainda vai demorar muito. O Impertinente leva 2 chateaubriands, por não conseguir decifrar a mente ladina do Prof.

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