«Uns e outros projectam em Donald Trump os seus particulares e entranhados ódios e amores. Uns e outros sublinham aquilo com que concordam e desculpam ou ignoram tudo aquilo que não lhes é palatável. Funcionam basicamente como clubes de fãs, cultos idólatras, ou grupos de ódio. (...)
Pontapear a ideologia woke para fora das instituições, reforçar o apoio a Israel face ao tsunami do antissemitismo, disciplinar a balbúrdia das fronteiras abertas, recuperar o orgulho nacional, acabar com a roda livre de burocracias e intelectuais orgânicos instaladas na manjedoura do orçamento e nas instituições, impor o bom senso nas questões da energia e do clima, etc., são coisas saudáveis, fazem bem à América e ao mundo ocidental, se nos servirem de exemplo.
Dirigir a economia, esfaquear aliados, passear de braço dado com criaturas medonhas como Putin, intimidar os mais fracos e deslizar o estado de direito pelo fio da navalha são, pelo contrário, acções desastrosas para as mesmas entidades. Até porque atrás de tempos, tempos vêm, e quem trata mal aqueles por quem passa ao subir, vai dar-se mal quando voltar a passar por eles ao descer. (...)
A parte positiva disto tudo? Embora não acredite que tenha sido essa a intenção (basta atentar no modo condescendente e até de desprezo com que Donald Trump e a sua entourage se referem a nós, europeus), se o que se está a passar for assumido como um acordar violento a obrigar à acção, ainda poderemos vir a agradecer ao presidente americano este choque de realidade.
Tempos difíceis criam pessoas fortes e estas fazem tempos fáceis.»
A Administração Trump, entre o melhor e o pior, José António Rodrigues do Carmo no Observador