O ano passado nesta data tratei do mito do 25 de Abril partilhado pela esquerdalhada. Este ano trato também da outra face do mito partilhada pelos viúvos do Estado Novo.
Tivemos os 48 anos de Estado Novo que, sendo uma ditadura sonsa e beata, não deixou de ser uma ditadura encalhada no tempo, tentando endoutrinar as crianças e os jovens com a Mocidade Portuguesa e organizar os adultos com a Legião Portuguesa, com uma polícia política que vigiava e punia uma oposição fraca quase resumida ao Partido Comunista e garantia que do simulacro de eleições saísse sempre o mesmo resultado. Um Estado Novo que nos manteve numa miséria pacata, onde para usar um isqueiro era preciso ter uma licença (as fábricas de fósforos eram propriedade de eminências do regime) e só nos anos 60 com a adesão à EFTA (European Free Trade Association) se iniciou um período de crescimento interrompido pelo golpe militar. Uma ditadura que tentou, contra as tendências da história, manter um império colonial que nunca chegou a ser império e consumiu as energias de uma geração numa guerra impossível de ser vencida.
Uma ditadura que não sobreviveu quase cinco décadas sem a adesão das elites, dos situacionistas e dos oportunistas (alguns deles viraram a casa) e com a passividade, mansidão e conformidade de um povo traumatizado pela incompetência, violência e instabilidade da 1.ª República. Uma ditadura que se desfez como um castelo de cartas com um simples golpe militar, cuja génese deve mais ao sindicalismo militar e menos à ideologia e aos grandes princípios, golpe militar cavalgado pela única força política organizada.
Com o mesmo povo, gradualmente menos passivo e menos conformado, chegámos ao PREC de onde quase saiu uma ditadura pior do que a do Estado Novo, tivemos a reforma agrária e as nacionalizações que expropriaram o "capitalismo monopolista", desmantelou-se o sector financeiro, hoje quase totalmente controlado por capital estrangeiro, a indústria foi reduzida a microempresas e PME e a uma ou outra sobra das grandes empresas industriais. Foi construído um Estado sucial pletórico, que faliu três vezes nos últimos 50 anos, controlado pelos novos situacionistas e povoado por um número de funcionários (750 mil) que é o dobro da soma dos "servidores do Estado" (200 mil) com os mobilizados para a guerra colonial (170 mil). As Forças Armadas foram reduzidas a uma tropa pelintra, desmoralizada, mal equipada e incapaz de defender o país. O ensino público foi gradualmente infectado por ideologias neo-marxistas a um grau que rivaliza com a endoutrinação no ensino do Estado Novo mas fica longe do seu grau de exigência técnica. A qualidade do pessoal político degradou-se e a maioria dos ministros do regime actual não teriam por incompetência técnica lugar num governo do Dr. Salazar ou do Dr. Marcelo. O resultado é um país ultrapassado pelos países saídos das ruínas do império soviético, com uma economia pouco competitiva de baixa produtividade, endividado e dependente dos dinheiros europeus.No final ficámos com o arbítrio mais livre e, em consequência, com menos desculpas, o que só por si é positivo.
1 comentário:
Em breve, se é que importa, um milénio de Portugal......
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