Lendo «O Fundo da Gaveta» de Vasco Pulido Valente, dei comigo a pensar que, mudando a época, as modas e os protagonistas, o Portugal do século XIX me faz lembrar o Portugal da III República. Nos posts desta série cito algumas passagens que mais intensamente evocam essa ideia.
A oposição parecida com a situação
Os inimigos da fusão, no entanto, embora exprimissem um
descontentamento real, não propunham ainda, ou não representavam ainda, uma
alternativa prática. Por enquanto, não iam além da crítica a vícios universalmente
reconhecidos. Também eles pediam reformas, ordem, moralidade e economias. O que
não era original e se tomava por fraqueza, não sem fundamento.
Esta aparente concordância no essencial de todas as
forças autónomas e activas tornava as divergências irrisória ou pouco
respeitáveis. Imediatamente, contribuía para justificar a fusão. Como os seus
chefes notavam, sob uma espécie de fusão vivera Portugal desde 1852. Os
partidos, embora combatendo-se e substituindo-se no poder, aceitavam ambos a
corrida aos «melhoramentos» e procuravam distinguir-se nela. Com frequência,
mutuamente se disputavam a autoria de certas medidas ou «a primazia nas dores
sofridas» por certos «avanços».
(…)
A reforma autárquica
Nesta ordem de ideias, não inteiramente indefensável,
Martens Ferrão, fez a sua reforma administrativa. Extinguiam-se quatro
distritos: Portalegre, Santarém, Braga e Leiria. Estabelecia-se a regra geral
de que nenhum concelho podia ter menos de 3000 fogos, o que implicava a
supressão de 178 em 295. Reduziam-se as freguesias, agora chamadas
<<paróquias civis» de cerca de 3000 para 1046. Conservavam-se 3966
paróquias eclesiásticas. De resto, diminuíam-se as responsabilidades e
prerrogativas das Câmaras e fortalecia-se a fiscalização do Estado central.
[Do capítulo Ressurreição e morte do radicalismo (1864-1870)]
(Continua)
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