Lendo «O Fundo da Gaveta» de Vasco Pulido Valente, dei comigo a pensar que, mudando a época, as modas e os protagonistas, o Portugal do século XIX me faz lembrar o Portugal da III República. Nos posts desta série cito algumas passagens que mais intensamente evocam essa ideia.
O desenvolvimento e a “descentralização”
Os males do desenvolvimento só se curavam com mais
desenvolvimento. Aumentasse a produção que aumentaria a receita fiscal,
diminuiria o défice e os preços desceriam. Tratava-se de persistir na mesma
direcção. Não de negar os «grossos subsídios» indispensáveis à construção de
comunicações e portos ou de restringir a liberdade do mercado.
Quanto ao resto, a fusão oferecia as consolações
habituais, copiadas do programa clássico do progressismo. Oferecia-as, porém,
com restrições e sem descer a pormenores. Prometia conter as despesas do
Estado, mas pela abolição das despesas inúteis e a «severa restrição das
acessórias e secundárias», não, como insistia em sublinhar, pela «supressão» ou
«cerceamento» das restantes. Aludia, de passagem, à injustiça fiscal, sem declarar
qualquer intenção de a corrigir. Falava em «simplificação e descentralização»
administrativas como meios de reduzir o défice e de promover a iniciativa
local, abstendo-se de mencionar formas e prazos. Não esquecia o tropo obrigado
sobre as vantagens da moralidade na governação. Finalmente, acabava com o usual
elogio à instrução e, implicitamente, dava-se como objectivo organizar uma
instrução profissional, «adaptada às conveniências e aptidões regionais»; e
difundir a instrução primária «até às últimas camadas».
As omissões do manifesto da fusão eram tão importantes
como a sua letra. Não existia nele palavra sobre reformas políticas.
[Do capítulo Ressurreição e morte do radicalismo (1864-1870)]
(Continua)
2 comentários:
O Portugal moderno é muito progressista pá! https://portugalnonevoeiro.blogspot.com/2022/05/estamos-bem-entreguesnao-devemos.html
A falta que este Homem faz...
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