Lendo «O Fundo da Gaveta» de Vasco Pulido Valente, dei comigo a pensar que, mudando a época, as modas e os protagonistas, o Portugal do século XIX me faz lembrar o Portugal da III República. Nos posts desta série cito algumas passagens que mais intensamente evocam essa ideia.
A fusão como prenúncio do bloco-central
Qualquer alternativa definida rejeitaria por natureza uma
ou várias facções, quanto mais não fosse a unha branca do próprio Loulé, e,
nessa medida, agravaria o conflito, já intenso; provocaria mais divisões; e,
admitindo que conseguisse prevalecer, não conseguiria com certeza governar. Um
postulado estava implícito ao pensamento da oposição: o de que só o Estado
poderia estabelecer alguma disciplina política. O objectivo consistia por isso
em associar ao Estado o máximo de personalidades, grupos e interesses,
distribuindo igualitariamente as benesses e a influência e não afastando senão
os inconciliáveis. Criticava-se Loulé, como antes Costa Cabral, pelo seu
«exclusivismo», isto é, por usar os lugares, 0 dinheiro e a autoridade do
Estado em exclusivo proveito dos históricos; queria-se inverter este critério,
diluindo as fronteiras partidárias e criando uma única força, coesa e
universal.
A este programa se chamou apropriadamente a «fusão».
[Do capítulo Ressurreição e morte do radicalismo (1864-1870)]
(Continua)
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