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18/05/2022

Lembrai aos ocidentais ressentidos que o Ocidente não é um mito e se fosse era um belo mito

«Ocidente não é um mito e se fosse era um belo mito. Mas é uma realidade tangível, feita de instituições morais e sociais. O Governo constitucional, assente na minimização do arbítrio e na maximização do direito não é um mito. É um legado da república romana. A faculdade democrática de despedirmos os nossos governantes e escolhermos outros também não é um mito. É um legado de Atenas. A inviolabilidade dos direitos, liberdades e garantias individuais também não é um mito. Funda-se na proclamação da dignidade da pessoa humana e na fundamental igualdade entre todos os Homens, cada um sendo um fim em si mesmo. É um legado do cristianismo, uma religião nascida no Médio Oriente helenizado. O espaço público aberto à livre expressão das opiniões e das ideias também não é um mito. É o segredo do progresso e da adaptabilidade das democracias liberais às circunstancias novas e imprevistas, condição indispensável da inovação e da mudança. Sócrates foi condenado porque Atenas era democrática mas não era liberal. Platão e Aristóteles não se restabeleceram dos abusos democráticos. Não acreditavam que o bom, o belo e o justo fossem alcançáveis de braço no ar. As suas admoestações e advertências vigoraram até ao século XVIII, no cristianismo e no governo dos Homens, até à grande revolução.

O comunismo foi uma aberração do racionalismo e do elitismo platónico, metastizado no vanguardismo. Resultou numa experiência histórica atroz, que converteu parte do Ocidente numa sucursal sem Deus das teocracias orientais. O parto do Ocidente foi doloroso, repleto de crimes e padecimentos. O Ocidente, carregado de cicatrizes, é a síntese a que chegámos, sofridamente, e a que não podemos renunciar, pois fora dele só há trevas, como diriam os romanos do mundo exterior.

O Ocidente há muito deixou de ser um conceito geográfico. O Gabão pode ser ocidental, se assim o escolher e se disso for capaz. A internet e a aviação fizeram com que o Gabão esteja hoje infinitamente mais perto de nós do que nós, nosso canto ocidental, estávamos da Atenas do século V a.c.. O Ocidente não é um mito, mas pode ser uma meta.

A China levanta-se da servidão coletivista porque decidiu ocidentalizar-se. A força da China advém do seu sistema económico, tecnológico e militar copiado do Ocidente. A dívida da China ressurgente para com Mao é zero. Mao é apenas o legitimador da dinastia reinante, a dinastia do imperador coletivo.

Nenhuma fatalidade histórica empurra a Rússia para a autocracia. Os ocidentais ressentidos com o Ocidente — uma agremiação heterogénea — imaginam a Rússia como uma nova Esparta, feita de guerreiros indiferentes ao baixo materialismo de um Ocidente corrompido pelo luxo, que marcham com uma arma na mão esquerda e “Os Irmãos Karamazov” na direita. Os russófilos de direita pensam que estão perante o exército branco do almirante Kolchak. Os de esquerda imaginam Trotskys aos pontapés a desaguar no Donbas, saltando de comboios blindados.

Tudo isso integra a grandeza do Ocidente: trocámos um mundo de servos e senhores pelo caótico pluralismo democrático e pela concomitante e inevitável abundância de maluquinhos. Podem abjurar o Ocidente, onde têm a cautela de residir, mas não o podem substituir pelas fantasias da sua predileção. E é assim que deve ser, para nosso merecido descanso.»

Os maluquinhos, Sérgio Sousa Pinto

2 comentários:

Bilder disse...

Para nosso merecido descanso?(lol) A Europa(e o dito Ocidente em geral) é uma babilõnia de loucos e uma bomba relógio prestes a rebentar de tanta diversidade e direitos liberais(libertinos)mais ou menos coloridos(nisso concordo com as criticas vindas dos lados orientais e afins).

Bilder disse...

Os globalistas querem contruir um mundo novo,na crença de que o caminho que temos percorrido até agora(texto editado em fevereiro antes de rebentar a invasão da Ucrânea)é errado e levou-nos a um beco sem saída.Esse projeto de um novo mundo é conhecido como Nova Ordem Mundial,um conceito que ultrapassa muito a ideia de ummero ordenamento da política externa para incluir um recheio ideológico muito preciso.Contudo ,não nos esqueçamos de um ponto muito importante: tudo isto afecta fundamentalmente o Ocidente. A Nova Ordem Mundial assenta numa série de pilares: A. No ideológico,a supressão das culturas nacionais através do multiculturalismo,caminho certo para a destruição do Ocidente.Há que eliminar as fronteiras e impedir toda a protecção nacional.Essa destruição cultural vem acompanhada da supressão da moral social tradicional para substituí-la por moralidades parciais ou pela ausência de toda a moral. B. Pelo económico,um capitalismo liberal,ou um capitalismo público,tanto faz,que desemboque num capitalismo transnacional. C. No espiritual,o sincretismo religioso deverá substituir o cristianismo pela Nova Era,uma espécie de espiritualismo não confessional;pelo agnosticismo ; e,sobretudo, pelo indiferentismo. Para alcançar esses objectivos o globalismo sustenta-se num conjunto de contribuições(ideologia não sistematizada) que reúnem uma concepção materialista do mundo,procedente de uma corrente de esquerda(marxismo cultural)e de uma corrente de direita(liberalismo globalista). ---do livro Acorde de Fernando Paz