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07/03/2022

Semanário de Bordo da Nau Catrineta comandada pelo Dr. Costa no caminho para o socialismo (5)

Continuação das Crónicas: «da anunciada avaria irreparável da geringonça», «da avaria que a geringonça está a infligir ao País» e «da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa». Outras edições do Semanário de Bordo.

O que esperar do próximo governo socialista? Mais do mesmo

É certo que a maioria absoluta permitirá alijar a carga comunista-berloquista da geringonça. Contudo, os efeitos líquidos não serão muito significativos porque uma parte substancial das cedências orçamentais aos parceiros agora desavindos foram descontadas nas cativações e noutras manobras de engenharia orçamental em que o Dr. Centeno e o seu discípulo Dr. Leão foram mestres.

A factura da geringonça poderia ser mais aliviada nas acomodações ideológicas ao BE (identidade de género, linguagem inclusiva, racismo estrutural, etc.) que infectaram talvez irremediavelmente o Estado sucial. Ainda assim, a existência de uma facção berloquista no PS, de que o Dr. Pedro Nuno é a cabeça visível e um dos putativos herdeiros do Dr. Costa, e os complexos de esquerda moderna do PS não auguram grandes mudanças nesta matéria.

Na parte comunista da factura no que respeita à legislação laboral e em particular ao salário mínimo, também não prevejo grandes mudanças. Quanto à legislação laboral, o Dr. Costa na verdade não fez grandes concessões ao PCP e é muito provável que aproveite para pacificar as relações com as associações empresariais.

Quanto ao salário mínimo, o Dr. Costa parece firmemente determinado em aumentá-lo até que seja impossível aumentá-lo mais quando se aproximar do salário médio. Por razões que se percebem, afinal é a bandeira socialista mais barata para o governo, é um lubrificante da concertação social no que respeita aos sindicatos e não terá demasiada resistência das associações empresarias porque "apenas" põe em dificuldade umas centenas de milhares de micro e pequenas empresas. Last but not least, não compromete directamente as "contas certas", um pilar introduzido pelo Dr. Costa nas actuais políticas socialistas que ele espera seja um factor de facilitação do acesso à mineração do guito europeu.

Quanto às reformas indispensáveis para aliviar o peso do Estado sucial, melhorar a qualidade da educação, modernizar a economia, aumentar a competitividade e a produtividade, é melhor esquecer. O PS é o partido do Estado e das clientelas estatais, não é um partido reformista.

Com os dinheiros da bazuca para sossegar a clientela empresarial e proporcionar jobs for the boys, e uma oposição que inclui os restos que sobrarão do consolado do Dr. Rio, e a quem poderão ser atribuídas umas centenas de tenças na regionalização, o Dr. Costa bem poderia navegar tranquilo na sua Nau Catrineta os quatro anos de mandato, não fossem as previsões meteorológicas mostrarem no horizonte uma bela borrasca que a sua nau terá dificuldades em enfrentar.

Ainda não é o mafarrico, mas já se sente o cheiro das brasas

Nos últimos 12 meses a inflação subiu ininterruptamente nos países da OCDE e atingiu 7,2% em Janeiro, a taxa mais alta desde 1991. Por cá ainda só ia em 3,3% em Janeiro mas já vai em 4,2% em Fevereiro. Este aumento da inflação e os efeitos da pandemia e as sequelas da invasão da Ucrânia em economias ainda em recuperação podem reviver uma conjuntura já esquecida - a estaglafação dos anos 70 após o choque petrolífero - em que os efeitos de uma inflação elevada se combinaram com um crescimento baixo ou mesmo recessão, cenário que, por exemplo o Dr. Centeno, não exclui.

O Estado sucial é um caloteiro

Mesmo com os milhões da bazuca a inundarem a tesouraria, nem assim o Dr. Leão abre os cofres para pagar aos fornecedores. Em Janeiro os pagamentos em atraso aumentaram 107,3 milhões (destes, 96,1 milhões são dos hospitais do SNS) para 408,8 milhões, não obstante nesse mesmo mês o excedente orçamental ter registado um aumento homólogo de cerca de 80% para 1.834 milhões.

Depois da Boa Nova

Há um mês os jornais anunciaram a Boa Nova do recuo de 900 milhões da dívida pública, conseguido, como salientei na crónica do dia 7 de Fevereiro, à custa da redução da almofada de tesouraria. Só foi preciso esperar um mês para a dívida total retomar a sua trajectória ascendente aumentando 2,8 mil milhões em Janeiro e atingindo 272,4 mil milhões, montante superior em mais de 20 mil milhões ao do final de 2019 e atingindo um rácio ao redor dos 128% do PIB. Entretanto a Comissão Europeia já avisou esperar que os PIGS, já sem o I da Irlanda, comecem a reduzir a dívida e o défice, sem contar com a bazuca.

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