Enumerei no post de ontem factos que mostram que a «operação militar especial» está a correr muito mal. A pergunta que agora vou tentar responder só faz sentido a quem tenha chegado à mesma conclusão. Para quem não concorde com a parte factual será perda de tempo continuar a ler.
Neste e noutros post que se seguirão, tentarei expor as conclusões a que for chegando sobre as causas sociais, políticas e culturais que podem explicar o desastre militar.
Uma primeira resposta, fui encontrá-la num artigo de opinião de Henrique Raposo de que passo a citar a segmento mais relevante:
«O exército de uma tirania é ultracentralizado porque não confia nos oficiais intermédios e nos próprios soldados; não sabe usar a liberdade. Quando as coisas não correm como planeado (e nunca correm), esse exército russo fica bloqueado porque os oficiais no terreno não têm liberdade para se adaptar e reagir no terreno sem ordens superiores. É o que aconteceu aos russos no último mês.
Ao invés, os oficiais ucranianos têm liberdade para se adaptarem, para terem iniciativa própria. Esta rapidez é decisiva na guerra. Ou seja, no campo de batalha, a lentidão russa e a agilidade ucraniana revelam duas visões sobre a liberdade; neste caso, a liberdade de soldados e oficiais no terreno e longe da cadeia de comando: a liderança russa teme ou desvaloriza a liberdade; a liderança ucraniana estimula-a. Os efeitos práticos desta assimetria é a espantosa vitória convencional dos ucranianos perante um inimigo numericamente superior.
A liberdade não é só um valor, é um instrumento poderoso, o mais poderoso. Esta liberdade prática e tática dá aos ucranianos no terreno um moral superior ao dos russos. E, na guerra, convém recordar a máxima de Napoleão, a condição moral vale três vezes a condição física.»
De passagem, note-se que isto explica bem porque foram mortos 7 oficiais generais russos que estavam na frente para compensar a falta de iniciativa dos oficiais e das tropas no terreno.
(Continua)
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