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01/08/2021

Otelo, um actor medíocre que representou um herói e encarnou um vilão, por esta ordem (continuação)

Escrevi há dias que muita da prosa sobre Otelo Saraiva de Carvalho a pretexto da sua morte tem motivação ideológica, reflectindo quase sempre e sobretudo os amores ou os ódios em relação a um personagem contraditório. E quanto ao contraditório divirjo totalmente de Rui Ramos que vê Otelo como uma criatura unidimensional em que «tudo nele faz sentido», quando, a meu ver, nada nele faz sentido a não ser a sede de protagonismo e uma certa megalomania. 

Dei como exemplo de objectividade o artigo de José Miguel Júdice no Expresso e acrescento outro, ainda mais factual, de Nuno Gonçalo Poças no Observador focando um outro aspecto praticamente omitido pela legião de comentadores, a saber: a cumplicidade das elites intelectuais «num país estruturalmente endogâmico» e a sua tentativa de branqueamento das actividades criminosas de Otelo que acabou por ter sucesso alguns anos depois com a amnistia.

2 comentários:

Anónimo disse...

Se interpreto bem o que se poderá dizer deste ignóbil criminoso e do seu pseudo defensor, é que não há martelada que possa endireitar tão sinistra figura saída dum golpe militar que segundo alguns foi engendrado por ele próprio.
É obra... obra de obrar!

Afonso de Portugal disse...

«(...)quanto ao contraditório divirjo totalmente de Rui Ramos que vê Otelo como uma criatura unidimensional em que «tudo nele faz sentido», quando, a meu ver, nada nele faz sentido a não ser a sede de protagonismo e uma certa megalomania. »

É este o grande problema do (Im)Pertinente. Tal como a generalidade dos direitinhas, é muito ingénuo na sua compreensão da natureza humana e subestima grosseiramente a malevolência dos marxistas. Não há nada no Otelo que seja desculpável ou sequer aceitável no seu devido contexto. E reduzir tudo a uma "sede de protagonismo" é minimizar a maldade ideológica que o criminoso trazia no seu coração, o indesculpável ódio marxista que tantos milhões de mortos causou ao longo da História. Mesmo quando participou no 25 de Abril, a intenção de Otelo era tomar o poder para instaurar uma ditadura comunista, e poderia até tê-lo conseguido se não fosse o 25 de Novembro. Ele nunca quis saber de democracia e de liberdade para nada! As FP-25 foram o resultado inevitável da sua idiossincrasia.

Rui Ramos, personagem de quem eu nem sequer gosto, tem toda a razão em tudo o que escreveu. Um criminoso não deixa de ser um criminoso só porque um dia fez uma coisa boa. Não há nada de razoável nem de sensato na croniqueta do Júdice, muito menos de objectivo. Ao reduzir o Otelo a um mero “actor”, Júdice faz uma tentativa descarada de humanizar um monstro, branqueando as suas verdadeiras intenções e, pior do que isso, encobrindo a ideologia marxista que o inspirava, mesmo que a sede de protagonismo também estivesse lá.

Um comentador de Direita não pode aspirar a mudar Portugal se continuar a separar as personalidades marxistas -e as suas acções- da sua mundivisão ideológica e dos objectivos políticos norteados por essa mundivisão. Este erro continua a ser cometido pela esmagadora maioria dos direitinhas portugueses e é absolutamente imperdoável.