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05/08/2021

CASE STUDY: A coragem da desistência ou o culto dos desgraçadinhos e os portugueses na vanguarda

A propósito da decisão da ginasta Simone Biles - a melhor do mundo, diz-se -  não competir em várias provas, alegando que estava a enfrentar problemas mentais, uma comovente onda de solidariedade percorreu os mídia nacionais e internacionais e, ao que parece, as redes sociais (não tenho a certeza porque não consumo o produto) enaltecendo frequentemente a «coragem de uma desistência».

É claro para mim que, não havendo nada a censurar à mocinha por ter sucumbido ao peso da responsabilidade e à enorme expectativa dos fãs, também não haveria nada a exaltar. Afinal trata-se de uma atleta profissional de alta competição em dedicação exclusiva que deveria estar preparada para enfrentar estas situações. Mostrou que não estava e, no seu pleníssimo direito, desistiu, mas daí a legiões de jornalistas de causas várias e patetas de várias outras profissões se curvaram perante o feito, ou melhor perante o não feito, vai uma grande distância.

O assunto não justificaria gastar tinta com ele, não fora o facto da unanimidade à volta da exaltação da desistência ser em si mesmo muito revelador das mudanças ideológicas e culturais introduzidas pelos movimentos politicamente correctos, da identidade de género, etc., em suma pelo chamado marxismo cultural que contamina uma boa parte da intelectualidade (mais uma batalha que a direita está a perder na guerra das ideias). A unanimidade foi tão evidente que as únicas vozes dissonantes que encontrei foram, et pour cause, de dois humoristas (José Diogo Quintela e Tiago Dores).

E, já que estou com a mão na massa, sempre acrescento que um fenómeno induzido por essas mudanças é a crescente feminização das sociedades, feminização caracterizada pela prevalência do estereotipo feminino (sim isso existe, como existem os cromossomas sexuais X e XY), o que, como mostra o modelo 5-D de Geert Hofstede (amplamente citado neste blogue) inclui a simpatia pelo desafortunado, a valorização do underdog e o ciúme pelo sucesso. É nesta matéria das sociedade femininas que podemos dizer com toda a propriedade que os portugueses estão desde há muito no topo do mundo entre os países mais femininos (ver em especial este post).

1 comentário:

Anónimo disse...

Caro Senhor

Agradeço-lhe o excelente comentário, no só no que se refere à divinização da (loser) Biles, mas sobretudo pela caracterização de "sociedade feminina", que descreve bem a perversão de transformar qualidades humanas singulares (mãe, mulher, filha, ...) em estereótipos, generalistas e redutores.

Melhores cumprimentos

Vasco Silveira