Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

25/11/2019

Crónica da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa (7)

Avarias da geringonça e do país seguidas de asfixias

Em defesa do SNS, sempre

Lembram-se do tempo em que tudo ia bem no SNS, do tempo em que a falta de resposta era uma invenção da oposição? Pois bem, subitamente, dois bonzos-em-chefe do PS reconhecem o caos do SNS. A líder parlamentar Ana Catarina Mendes - a mesma que é citada no título Em defesa do SNS, sempre - reconhece em entrevista à Visão que a coisa está preta no SNS. No mesmo dia (o SNS pode falhar mas a central de manipulação não falha), o presidente do partido Carlos César em entrevista à TSF diz que o governo «ou inverte esta tendência de degradação do SNS nesta legislatura, ou vai ter uma dificuldade muito grande para explicar aos portugueses».

O que mudou? Há a explicação ingénua - o PS teve finalmente uma epifania e reconheceu a realidade. E há a teoria conspiratória - a queda do Dr. Centeno no ranking do aparelho vai desarrolhar o orçamento do SNS para evitar a «dificuldade muito grande» nas próximas eleições.

Uma nova estrela no firmamento socialista

O governo do Dr. Costa pode deixar o SNS à míngua de investimento ou descurar a governação da coisa pública mas não descura a sua propaganda, como é visível na promoção da nova ministra do Trabalho que, aproveitando o know-how da pasta do Turismo por onde passou, vê a sua imagem e as suas palavras polvilharem a imprensa do regime (a pesquisa Google "ana mendes godinho" "ministra do trabalho" site:pt na secção Notícias apresenta quase 2,8 mil resultados em menos de um mês). Em contrapartida, o Ronaldo das Finanças está a ficar na penumbra mediática, acompanhando a sua cotação em perda e antecipando a sua reforma no BdP.

As dívidas não são para se pagar, foi isto que ele aprendeu

O endividamento da economia, isto é a dívida total bruta das empresas, sem o sector financeiro, das famílias e do Estado aumentou novamente em Setembro em 1,9 mil milhões (200 milhões do Estado e 1,7 mil milhões do sector privado) para 725,8 mil milhões. É claro que isto, como qualquer outra coisa na vida, pode ser visto numa óptica positiva (o sujeito que cai do vigésimo andar pode sempre gritar ao passar pelo décimo «até agora está tudo a correr bem»). Daí o poder dizer-se que em percentagem do PIB está no mínimo de 10 anos, o que é verdade, apesar de estar 24 pontos percentuais acima do rácio de há... 11 anos.

«Temos resultados, temos contas certas»

O cartaz do Dr. Centeno em Bruxelas, como por cá, parece estar a empalidecer. A CE avisa que o melhor do Ronaldo das Finanças não é suficientemente bom e coloca Portugal no grupo dos oito países em risco de incumprimento do PEC no que respeita às metas de consolidação do défice estrutural e à redução da dívida. Nada que não soubéssemos.

Boa Nova

Como parte da campanha para limpar a imagem de João Galamba, secretário de Estado da Energia, suspeito de envolvimento nos negócios do lítio e borrado de medo do povo de Boticas, o visado anunciou urbi et orbi uma «mega fábrica de hidrogénio em Sines». Tomemos nota do anúncio para memória futura.

Neste capítulo o anúncio mais arrojado deve ser creditado ao Ronaldo das Finanças que prometeu «reforço de investimento em 2020 seis vezes maior do que em toda a legislatura». O arrojo talvez se deva ao facto de tudo indicar já estar no sossego do BdP quando lhe poderiam pedir contas pelo arrojo.

O choque da realidade com a Boa Nova

Recordam-se do programa Ferrovia 2020 anunciado com grande estrondo em 2016 por aquele ministro que agora reside em Bruxelas? 18 das obras previstas foram adiadas ou estão atrasadas e uma foi cancelada.

Lembram-se do programa Regressar que haveria de trazer legiões de imigrantes de volta à pátria? Até agora candidataram-se 481 emigrantes. Para disfarçar a coisa, o semanário de reverência Acção Socialista, publicado sob a marca Expresso, titula uma peça «Todos os dias regressam 40 emigrantes» onde mistura o regresso normal com as candidaturas ao programa Regressar que implicitamente reconhece no meio de um oceano de prosa estar a ser um fiasco. Porém, escamoteia cuidadosamente o facto de o fluxo de emigrantes continuar no período 2016-2018, tendo saído cerca de 100 mil, incluindo 37 mil licenciados, durante o mandato do Dr. Costa, o mesmo Costa que dizia do governo de Passos Coelho «obrigou os portugueses a emigrar» (ver este post do Insurgente).

E vem a propósito referir que Portugal, não obstante o «conseguimos! Portugal tornou-se no país chave da revolução tecnológica» de S. Exª na Web Summit, desceu 6 posições no ranking IMD World Talent de atracção e retenção de talento.

Mais coelhos tirados da cartola

Desta vez é a descentralização, sob a forma da mudança de residência de três secretários de Estado ou, como refere com humor involuntário uma das notícias, «Governo instala secretarias de Estado em “casa” dos governantes».

Outro coelho é a proposta que o governo vai apresentar à concertação social com um referencial para os aumentos dos salários dos jovens licenciados e para a continuação do aumento do salário mínimo. É como colocar a parte produtiva da economia a pagar as campanhas do Dr. Costa, já que estes aumentos não têm nenhum suporte no incremento da produtividade. Aliás, o governo socialista está até a trabalhar para a reduzir ao injectar facilitismo na avaliação escolar que a prazo contribuirá para piorar a qualificação dos trabalhadores.

Tirar coelhos da cartola é um truque partilhado por todo o governo, incluindo secretários de Estado, como o da Juventude e Desporto que na cerimónia onde a Federação de Desportos de Inverno de Portugal lhe atribuiu a medalha de Personalidade do Ano prometeu um Pavilhão do Gelo para a prática de desportos com «financiamento público também», financiamento que anda a faltar nos equipamentos para a prática de medicina nos hospitais públicos.

Hoje há conquilhas, amanhã não sabemos

O ano passado as contas externas (balanças corrente e de capital) apresentaram até Setembro um saldo positivo de 3,2 mil milhões de euros, este ano o saldo desceu para 689 milhões, apesar do aumento do turismo que é o que está a manter as contas a flutuar.

Sem comentários: