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16/09/2019

Crónica da avaria que a geringonça está a infligir ao País (205)

Outras avarias da geringonça e do país.

«Os portugueses não gostam de maiorias absolutas». Nós gostamos

As duas sondagens divulgadas nos últimos dias (Expresso-ICS/ISCTE e SOL-Eurosondagem), apontam no mesmo sentido que é de uma maioria absoluta, respectivamente provável ou possível, com pequenas diferenças, salvo no que respeita ao próprio PS a que a primeira sondagem dá 42% e a segunda 38,3%.

Assim, na pior hipótese o PS estará perto da maioria absoluta e consegui-la-à escolhendo um entre pelo menos quatro partidos, incluindo o CDS que, retornado à época do táxi e com Cristas em risco de ser crucificada, estará disposto a quase tudo.

Temos estes princípios. Se não gostarem temos outros

Com a sua cintura de borracha, Costa andou a semana passada a anunciar em Trás-os-Montes a criação de programa um «Erasmus Interior», o mesmo programa que o PS tinha chumbado há 6 meses proposto pelo PSD.

Tão amigos que nós fomos

Resplandecente de rigor nas contas, o BE atira-se agora à falta dele no programa do PS e o tele-evangelista Louçã, retirado da primeira linha de combate, escreve no Expresso sob um surpreendente título de «Os saborosos milagres das contas do PS»: «As contas do PS demonstram que não haverá aumento relevante para a função pública, que algumas prestações sociais serão reduzidas, não se sabe como, que o programa de habitação não tem dinheiro suficiente e que o investimento público continuará medíocre»,

A frustração berloquista pelas "traições" de Costa é tão grande que, depois de quatro anos a engolirem sapos, ressuscitaram a campanha para reestruturação da dívida pública, agora sob o nome mais palatável de renegociação.

«Em defesa do SNS, sempre»

A demissão de dez chefes de equipa de urgência do Hospital Garcia de Orta por terem sido retirados os cirurgiões, poderia ser um fenómeno isolado mas, como sabemos, não é. O panorama das estruturas do SNS é o da decadência por falta de investimento e manutenção (leia-se este artigo de Leal da Costa, antigo ministra da Saúde) e de recursos por redução do horário de 40 para 35 horas.

Por isso, não deveria surpreender ninguém as conclusões do estudo da OMS a 33 países que mostram que Portugal é um dos apenas quatro países que entre 2000 e 2017 reduziram a percentagem do PIB para despesas em saúde,

Boa Nova

A promessa mais recente de Costa é modesta: erradicar a pobreza e aumentar complemento solidário para idosos; dentro de 4 anos dirá que a erradicação é um processo e em curso e o complemento foi aumentado em x euros por mês.

A promessa do amigo ministro da Economia é mais ousada: «dez novos pactos com dez clusters vão acelerar as exportações. E querem aumentar a competitividade»; dentro de 4 anos ninguém se lembrará destes ou doutros quaisquer clusters, a não ser os empresários que receberam uns subsídios que por muito pouco impacto nas exportações e na competitividade sempre melhoram a bottom line.

Outra boa nova muito celebrada foi a nomeação de Elisa Ferreira (a do «dinheiro do Estado, do PS»
para a pasta da coesão e das reformas porque, reza o discurso oficial, é uma pasta de grande vulto e importantíssima para Portugal - é por isso que toda a gente recorda a antecessora de Elias, a romena Corina Creţue que, como se sabe, também teve um papel importantíssimo para a Roménia

O choque da realidade com a Boa Nova

Já dei referi algumas vezes os Programas de Arrendamento Acessível como exemplo das boas novas repetidamente anunciadas que aterraram, programas que em matéria das políticas de habitação, como explica o antigo presidente do IHRU, fariam merecer a «um Governo que alcançou um feito inédito na política de habitação: em quatro anos conseguiu produzir mais anúncios que casas» a inclusão no Livro de Recordes do Guinness»

«Temos resultados, temos contas certas»

«Contas do PS revelam desvio de 800 milhões face ao Programa de Estabilidade» escreve o Público, apesar de tudo um jornal amigo, explicando que o próprio PS já assumiu que o seu programa eleitoral prevê um aumento adicional de despesa pública de 600 milhões de euros e uma redução da receita fiscal de mais 200 milhões de euros.

Privados? E não se pode exterminá-los?

O Programa Compete 2020 tem como objectivos estratégicos aumentar a intensidade de tecnologia e conhecimento e o peso de actividades produtoras de bens e serviços transaccionáveis. Com estes objectivos o caro Leitor imaginaria que seriam as empresas privadas as beneficiárias do programa já que a tralha pública é um peso morto a este respeito. Desiluda-se, porque nos 10 maiores beneficiários dos fundos só há 3 empresas privadas e o principal beneficiário é a Infraestruturas de Portugal, que, tratando mal da rodovia e pior da ferrovia, beneficia de investimentos em curso do programa em montante quase igual aos dos outros 9 beneficiários e para aqueles objectivos estratégicos conta tanto como a CP. (fonte Expresso)

Cuidando da freguesia eleitoral

Os dados do Eurostat mostram que Portugal é um dos países da EU28 com menor número de alunos por professor no ensino primário: 13 contra a média de 14,7 e muito menos do que França e outros países com quase 20. Ainda em matéria de professores, um dos segmentos do mercado eleitoral mais disputado pelos partidos da geringonça (e, reconheça-se, também pelo PS-D e o CD-S de Rio e Cristas) um outro estudo da OCDE mostra que em todos os anos os professores portugueses são em média 30% melhor pagos do que os outros licenciados.

Hoje há conquilhas, amanhã não sabemos

Apesar da fé dos consumidores revelada pelo novos máximos do crédito à habitação e ao consumo em Julho, a realidade económica não suporta tanta fé o comportamento da balança comercial de bens começa a lembrar-nos cada vez mais os tempos socráticos pré-troika: as exportações em Julho aumentaram 1,3% e as importações 7,9% o que elevou o défice da balança comercial de bens em 452 milhões em relação a Julho do ano passado.

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