«Tenho saudades das greves do Metro porque a sua ausência é o melhor sinal de que o serviço público se está a degradar. Ao mesmo tempo, o algodão não engana: estando os sindicatos calados e sossegados, é porque estão a atingir os seus objectivos, e estes, numa empresa pública dependente do dinheiro dos contribuintes, são inevitavelmente contraditórios com o interesse dos utentes e de todos os que pagam impostos.
Os sinais estão aí (...): há muitas carruagens avariadas à espera de intervenção e há mesmo 11 unidades fora de circulação porque estão a ser utilizadas para fornecer peças às que estão a circular; o fornecimento dos cartões de plástico “Lisboa Viva” esteve, e porventura ainda está, racionado; já os cartões “Viva Viagem”, esses esgotaram-se pura e simplesmente; a sujidade acumula-se nas estações; o número de carruagens por composição diminuiu; o espaçamento entre cada composição é maior e tornou-se corriqueiro ouvir avisos que “o tempo de espera pode ser superior ao normal”.»
«Já tenho saudades das greves no Metro», José Manuel Fernandes no Observador
Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos
de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos
de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)
09/10/2016
O (IM)PERTINÊNCIAS FEITO PELOS SEUS DETRACTORES: O mistério do Angoche (4)
Uma espécie de conto em fascículos, a pretexto do misterioso caso do Angoche há 45 anos, sobre a aventura de Ulisses Trinta e Quatro a bordo do dito Angoche. O autor APS, de quem já aqui publicámos há dez anos os «Contributos para a Teoria Geral do Prego» é um dos detractores mais impertinentes do (Im)pertinências.
48. Leviatã [continuação de (1), (2) e (3)]
De volta ao portaló o imediato fixou os termos em que poderia contratar o senhor Ulisses:
1) Começaria a trabalhar imediatamente preparando o almoço dos oficiais. Se a qualidade de cozinheiro corresponder às suas palavras fica contratado para esta viagem e para todas as que se seguirem desde que mantenha a qualidade da cozinha e execute as restantes tarefas em que se declarou preparado;
2) Viajará sempre na qualidade de passageiro e será pago pela tripulação e não pela empresa proprietária do navio;
3) O contrato poderá ser cancelado por ambas as partes em qualquer momento não se carecendo de uma causa para esse efeito.
Obviamente que nem é necessário colocar a questão de se saber se o senhor Ulisses aceitava ou não as condições: o homem estava nos sétimos céus. Mas o imediato ainda tinha umas quantas questões, para além da verdadeira razão de o contratar como mainato ter mais a ver com o nome do que com as promessas do próximo futuro passageiro tripulante do navio:
Porque lhe fora dado aquele nomes Ulisses Trinta e Quatro e para esta ingente questão a resposta foi coerente e satisfatória:
Os povo aqui não tem registo e não sabe idade e os pai de eu resorver botar ano nos nome, mas os comandante poder mudar para outro número. Não far mal!
O imediato nem se sentiu lisonjeado por ser tratado por comandante informando o futuro cozinheiro de que se o pai lhe tinha dado aquele número como nome não seria ele que o ia alterar. Abordou a outra questão que o intrigava e que era o entendimento que o Ulisses tinha de horas, ventos e marés:
Eu saber sempre as hora dos dia e das noite sem ter máquina. Saber sempre o tempo que faz nos semana que vem e saber sempre as altura dos maré
O homem estava a gozar ou era doido. Então que horas são?
9 hora e 43 minuto!
Eram mesmo mas o Ulisses poderia ter visto as horas no relógio do comandante ou algures no navio. Faltava, ainda o teste da maré. Qual era a altura naquele momento?
Um metro e dez centímetro!
Uma olhadela aos papéis de navegação dava conta exactamente daquela altura. O homem não estava a gozar mas, por certo, era doido.
48. Leviatã [continuação de (1), (2) e (3)]
De volta ao portaló o imediato fixou os termos em que poderia contratar o senhor Ulisses:
1) Começaria a trabalhar imediatamente preparando o almoço dos oficiais. Se a qualidade de cozinheiro corresponder às suas palavras fica contratado para esta viagem e para todas as que se seguirem desde que mantenha a qualidade da cozinha e execute as restantes tarefas em que se declarou preparado;
2) Viajará sempre na qualidade de passageiro e será pago pela tripulação e não pela empresa proprietária do navio;
3) O contrato poderá ser cancelado por ambas as partes em qualquer momento não se carecendo de uma causa para esse efeito.
Obviamente que nem é necessário colocar a questão de se saber se o senhor Ulisses aceitava ou não as condições: o homem estava nos sétimos céus. Mas o imediato ainda tinha umas quantas questões, para além da verdadeira razão de o contratar como mainato ter mais a ver com o nome do que com as promessas do próximo futuro passageiro tripulante do navio:
Porque lhe fora dado aquele nomes Ulisses Trinta e Quatro e para esta ingente questão a resposta foi coerente e satisfatória:
Os povo aqui não tem registo e não sabe idade e os pai de eu resorver botar ano nos nome, mas os comandante poder mudar para outro número. Não far mal!
O imediato nem se sentiu lisonjeado por ser tratado por comandante informando o futuro cozinheiro de que se o pai lhe tinha dado aquele número como nome não seria ele que o ia alterar. Abordou a outra questão que o intrigava e que era o entendimento que o Ulisses tinha de horas, ventos e marés:
Eu saber sempre as hora dos dia e das noite sem ter máquina. Saber sempre o tempo que faz nos semana que vem e saber sempre as altura dos maré
O homem estava a gozar ou era doido. Então que horas são?
9 hora e 43 minuto!
Eram mesmo mas o Ulisses poderia ter visto as horas no relógio do comandante ou algures no navio. Faltava, ainda o teste da maré. Qual era a altura naquele momento?
Um metro e dez centímetro!
Uma olhadela aos papéis de navegação dava conta exactamente daquela altura. O homem não estava a gozar mas, por certo, era doido.
(Continua)
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delírios pontuais,
se non è vero
08/10/2016
DIÁRIO DE BORDO: Contra as inevitabilidades marchar, marchar?
Há 4 anos, no auge da «austeridade» imposta pelo governo «neoliberal», escrevi um post com o mesmo título deste sem interrogação, de onde respigo os dois parágrafos seguintes.
Embora as paranoias políticas sejam transversais às ideologias e às classes sociais e tenham graus muito variados, fui percebendo ao longo dos anos serem mais frequentes à medida que se caminha para os extremos do espectro político e ou nos indivíduos com ocupações e vidas mais arredadas do mundo real, do quotidiano de sobrevivência, dos horários e das metas que é preciso cumprir, do fim do mês que custa a chegar, dos engarrafamentos ou do aperto dos transportes públicos, das fraldas, das noites mal dormidas por causa dos dentes dos filhos, etc. – um grande etc.
Ocorreram-me estas reflexões a propósito de manifestações recentes de indignação de dois intelectuais da nossa praça, as quais, sem preocupações de rigor científico, classifico como paranoia política mitigada. Uma das manifestações são as indignações recorrentes nos últimos tempos de Pacheco Pereira nos seus comentários no Público, revoltado contra as «inevitabilidades» em geral e, em particular, contra as políticas de austeridade e contra a ditadura da economia, isto é dos constrangimentos do mundo real.
Quatro anos depois, o mesmo Pacheco Pereira, no mesmo Público, escreve um artigo (a que cheguei através de João Miguel Tavares, porque já não tenho pachorra para ler a prosa da criatura) que é uma espécie de auto-crítica do sua luta contra as «inevitabilidades». Nesse artigo Pacheco Pereira para justificar a tortura que António Costa, a quem se prestou servir de trampolim, o PS e a geringonça estão a fazer aos seus programas para se manterem a flutuar, descobre uma macro-inevitabilidade, a saber: «uma política imposta de fora pelo Eurogrupo, cujos resultados na estagnação da economia são reconhecidos por todos».
Não é extraordinário? Onde andou Pacheco Pereira nos últimos 30 anos? Como foi possível aquela mente superlativa só agora descobrir esta macro-inevitabilidade? E, ainda assim, não fez a descoberta mais importante: a política imposta de fora pelo Eurogrupo não tem sempre os mesmos resultados. No caso do Portugal socialista e da Grécia esquerdista é de facto a estagnação da economia. Mas por que terá a mesma política imposta de fora resultados completamente diferentes na Irlanda e na Espanha, por exemplo?
Embora as paranoias políticas sejam transversais às ideologias e às classes sociais e tenham graus muito variados, fui percebendo ao longo dos anos serem mais frequentes à medida que se caminha para os extremos do espectro político e ou nos indivíduos com ocupações e vidas mais arredadas do mundo real, do quotidiano de sobrevivência, dos horários e das metas que é preciso cumprir, do fim do mês que custa a chegar, dos engarrafamentos ou do aperto dos transportes públicos, das fraldas, das noites mal dormidas por causa dos dentes dos filhos, etc. – um grande etc.
Ocorreram-me estas reflexões a propósito de manifestações recentes de indignação de dois intelectuais da nossa praça, as quais, sem preocupações de rigor científico, classifico como paranoia política mitigada. Uma das manifestações são as indignações recorrentes nos últimos tempos de Pacheco Pereira nos seus comentários no Público, revoltado contra as «inevitabilidades» em geral e, em particular, contra as políticas de austeridade e contra a ditadura da economia, isto é dos constrangimentos do mundo real.
Quatro anos depois, o mesmo Pacheco Pereira, no mesmo Público, escreve um artigo (a que cheguei através de João Miguel Tavares, porque já não tenho pachorra para ler a prosa da criatura) que é uma espécie de auto-crítica do sua luta contra as «inevitabilidades». Nesse artigo Pacheco Pereira para justificar a tortura que António Costa, a quem se prestou servir de trampolim, o PS e a geringonça estão a fazer aos seus programas para se manterem a flutuar, descobre uma macro-inevitabilidade, a saber: «uma política imposta de fora pelo Eurogrupo, cujos resultados na estagnação da economia são reconhecidos por todos».
Não é extraordinário? Onde andou Pacheco Pereira nos últimos 30 anos? Como foi possível aquela mente superlativa só agora descobrir esta macro-inevitabilidade? E, ainda assim, não fez a descoberta mais importante: a política imposta de fora pelo Eurogrupo não tem sempre os mesmos resultados. No caso do Portugal socialista e da Grécia esquerdista é de facto a estagnação da economia. Mas por que terá a mesma política imposta de fora resultados completamente diferentes na Irlanda e na Espanha, por exemplo?
De boas intenções está o inferno cheio (44) - Se correr, o bicho pega, se ficar, o bicho come
«O Iraque provou que as intervenções ocidentais podem ser um desastre. A Síria provou que as não-intervenções podem ser um desastre ainda maior. Mais de cinco anos de guerra fizeram, até agora, meio milhão de mortos e milhões e milhões de deslocados, dentro e fora do país, com centenas de milhares de refugiados a entrar clandestinamente na Europa. E não foi preciso George Bush, nem “Neo-Cons”.
(...)
No caso do Iraque, a decisão de remover Saddam e os desacertos da ocupação militar causaram enorme controvérsia, justificaram marchas, deixaram um rasto infindável de artigos, livros e filmes. Sobre a Síria, não há nada. Bush pagará sempre pela “invasão do Iraque”; Obama nunca responderá pelos massacres que deixou acontecer na Síria. Para um presidente Americano, a lição é clara: é sempre preferível lavar as mãos.»
«A maior vergonha do nosso tempo», Rui Ramos no Observador
(...)
No caso do Iraque, a decisão de remover Saddam e os desacertos da ocupação militar causaram enorme controvérsia, justificaram marchas, deixaram um rasto infindável de artigos, livros e filmes. Sobre a Síria, não há nada. Bush pagará sempre pela “invasão do Iraque”; Obama nunca responderá pelos massacres que deixou acontecer na Síria. Para um presidente Americano, a lição é clara: é sempre preferível lavar as mãos.»
«A maior vergonha do nosso tempo», Rui Ramos no Observador
07/10/2016
DEIXAR DE DAR GRAXA PARA MUDAR DE VIDA: Não é um pouco esquizofrénico? (7)
Outros exemplos de esquizofrenia patriótica.
Só posso concordar com este comentário. Não há menor dúvida. Se já tivemos o Inter, o Barcelona e o Real Madrid de Luís Figo, se temos o Real Madrid de Cristiano Ronaldo e já tivemos o Manchester United de Cristiano Ronaldo, se temos o Manchester United de Mourinho e já tivemos o Chelsea e o Inter de Mourinho e se temos Bayern Munique de Renato Sanches, etc., é claro que temos de ter a ONU de António Guterres.
Só posso concordar com este comentário. Não há menor dúvida. Se já tivemos o Inter, o Barcelona e o Real Madrid de Luís Figo, se temos o Real Madrid de Cristiano Ronaldo e já tivemos o Manchester United de Cristiano Ronaldo, se temos o Manchester United de Mourinho e já tivemos o Chelsea e o Inter de Mourinho e se temos Bayern Munique de Renato Sanches, etc., é claro que temos de ter a ONU de António Guterres.
O (IM)PERTINÊNCIAS FEITO PELOS SEUS DETRACTORES: O mistério do Angoche (3)
Uma espécie de conto em fascículos, a pretexto do misterioso caso do Angoche há 45 anos, sobre a aventura de Ulisses Trinta e Quatro a bordo do dito Angoche. O autor APS, de quem já aqui publicámos há dez anos os «Contributos para a Teoria Geral do Prego» é um dos detractores mais impertinentes do (Im)pertinências.
48. Leviatã [continuação de (1) e (2)]
De certo modo a coisa vinha a calhar porque havia claramente a intenção de contratar apesar de ilegalmente, alguém que desempenhasse um conjunto de tarefas que nas nossas casas são sempre ou quase sempre ou, ainda mais precisamente, eram sempre ou quase sempre desempenhadas pelas mulheres: basicamente pôr alguma ordem na organização, algum modesto asseio e um pouco de brio no quotidiano sem o que, mais cedo ou mais tarde, se perdem, desde os mais latos aos mais pequenos, os resquícios de civilização, coisa que temos, ou muito melhor, tínhamos de agradecer às mulheres.
Importava saber quais eram as habilidades do senhor Ulisses mas o que roía de curiosidade o imediato era o raio de nome do cidadão candidato a viajar no novíssimo bote acabado de chegar às terras de África: Ulisses Trinta e Quatro era coisa que não passava pela cabeça do mais maduro deste mundo, incluindo África, que na altura não era deste mundo e hoje ainda se discute se é.
O cidadão Ulisses mostrou-se um livro aberto no que concerne às suas competências:
cozinheiro excelente,
copeiro de primeira apanha
garçon atencioso
lavadeiro imaculado
passador de roupa a ferro topo de gama
camareiro discreto
faxineiro generalista
curador de espinhelas caídas
preparador de mezinhas quanto baste
adivinho só e sempre que necessário
feiticeiro a pedido mas nem sempre
entendedor de horas, ventos e marés, automático
E o relambório de virtudes (conforme se terá oportunidade de verificar) nem sequer foi exaustivo e, tudo isto, mau grado o fulano não saber ler nem escrever.
Para pagar a viagem comprometia-se solenemente e deu a sua palavra de honra (também, aparentemente, não tinha mais nada para dar) de trabalhar afincadamente de modo a não deixar nos comandante e nos marinheiro, a mais leve reticência quanto à qualidade e valia dos seus esforços e resultados
Ao oficial afigurou-se-lhe que o curriculum desandava fortemente para o lado da fantasia utópica mas a ser verdadeiro seria de aproveitar; o melhor seria falar com o comandante, um pouco mais batido nestas coisas de África e dos seus segredos. O comandante foi curto e grosso:
O nharro sabe cozinhar? Se sabe, esqueça o resto.
(Continua)
48. Leviatã [continuação de (1) e (2)]
De certo modo a coisa vinha a calhar porque havia claramente a intenção de contratar apesar de ilegalmente, alguém que desempenhasse um conjunto de tarefas que nas nossas casas são sempre ou quase sempre ou, ainda mais precisamente, eram sempre ou quase sempre desempenhadas pelas mulheres: basicamente pôr alguma ordem na organização, algum modesto asseio e um pouco de brio no quotidiano sem o que, mais cedo ou mais tarde, se perdem, desde os mais latos aos mais pequenos, os resquícios de civilização, coisa que temos, ou muito melhor, tínhamos de agradecer às mulheres.
Importava saber quais eram as habilidades do senhor Ulisses mas o que roía de curiosidade o imediato era o raio de nome do cidadão candidato a viajar no novíssimo bote acabado de chegar às terras de África: Ulisses Trinta e Quatro era coisa que não passava pela cabeça do mais maduro deste mundo, incluindo África, que na altura não era deste mundo e hoje ainda se discute se é.
O cidadão Ulisses mostrou-se um livro aberto no que concerne às suas competências:
cozinheiro excelente,
copeiro de primeira apanha
garçon atencioso
lavadeiro imaculado
passador de roupa a ferro topo de gama
camareiro discreto
faxineiro generalista
curador de espinhelas caídas
preparador de mezinhas quanto baste
adivinho só e sempre que necessário
feiticeiro a pedido mas nem sempre
entendedor de horas, ventos e marés, automático
E o relambório de virtudes (conforme se terá oportunidade de verificar) nem sequer foi exaustivo e, tudo isto, mau grado o fulano não saber ler nem escrever.
Para pagar a viagem comprometia-se solenemente e deu a sua palavra de honra (também, aparentemente, não tinha mais nada para dar) de trabalhar afincadamente de modo a não deixar nos comandante e nos marinheiro, a mais leve reticência quanto à qualidade e valia dos seus esforços e resultados
Ao oficial afigurou-se-lhe que o curriculum desandava fortemente para o lado da fantasia utópica mas a ser verdadeiro seria de aproveitar; o melhor seria falar com o comandante, um pouco mais batido nestas coisas de África e dos seus segredos. O comandante foi curto e grosso:
O nharro sabe cozinhar? Se sabe, esqueça o resto.
(Continua)
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delírios pontuais,
se non è vero
A maldição da tabuada (38) – A multiplicação dos emigrantes (IV)
Multiplicações anteriores: (I), (II) e (III)
Se há coisa que sigo com grande entusiasmo são as multiplicações socialistas, e, como caso particular, a multiplicação de emigrantes - vide os links acima. Outra são as grandes produções teóricas dos pastorinhos da economia dos amanhãs que cantam. Quando, por coincidência, um pastorinho produz uma nova multiplicação, o meu entusiasmo eleva-se ao quadrado. E se esse pastorinho é, por nova coincidência, o meu pastorinho favorito, então o entusiasmo eleva-se ao cubo.
É por isso que me penalizo profundamente por só ter descoberto uma nova pepita do pensamento multiplicativo da autoria de Nicolau Santos (o do barrete de Baptista da Silva? sim! esse mesmo!) ao ler este post de O Insurgente, do qual nacionalizo a imagem seguinte.
Nos posts citados, cheguei, por diversos vias, a uma estimativa ao redor dos 200 mil durante os anos de crise, um número superior ao dos saldos migratórios que, suponho, são líquidos da imigração. Em qualquer caso estamos muito longe dos delírios multiplicativos que nalguns casos chegaram a um milhão. E, a propósito, quantos terão sido os emigrantes durante o consolado da geringonça?
Se há coisa que sigo com grande entusiasmo são as multiplicações socialistas, e, como caso particular, a multiplicação de emigrantes - vide os links acima. Outra são as grandes produções teóricas dos pastorinhos da economia dos amanhãs que cantam. Quando, por coincidência, um pastorinho produz uma nova multiplicação, o meu entusiasmo eleva-se ao quadrado. E se esse pastorinho é, por nova coincidência, o meu pastorinho favorito, então o entusiasmo eleva-se ao cubo.
É por isso que me penalizo profundamente por só ter descoberto uma nova pepita do pensamento multiplicativo da autoria de Nicolau Santos (o do barrete de Baptista da Silva? sim! esse mesmo!) ao ler este post de O Insurgente, do qual nacionalizo a imagem seguinte.
Nos posts citados, cheguei, por diversos vias, a uma estimativa ao redor dos 200 mil durante os anos de crise, um número superior ao dos saldos migratórios que, suponho, são líquidos da imigração. Em qualquer caso estamos muito longe dos delírios multiplicativos que nalguns casos chegaram a um milhão. E, a propósito, quantos terão sido os emigrantes durante o consolado da geringonça?
06/10/2016
DEIXAR DE DAR GRAXA PARA MUDAR DE VIDA: Não é um pouco esquizofrénico? (6) O que é um processo transparente é bastante opaco
Outros exemplos de esquizofrenia patriótica.
O processo de escolha do secretário-geral da ONU é historicamente e por natureza das coisas uma barganha pouco recomendável.
Desta vez, para o jornalismo de causas domésticas e a comentadoria do regime, o processo teve três fases. Na primeira, foi o aplauso ao antevisto passeio triunfal de Guterres até à entronização. Na segunda, quando a concorrência feminina da Europa de Leste entrou na corrida, a coisa passou a ser o que sempre foi: um «processo pouco transparente». Na terceira, depois de Guterres ter passado a barreira do Conselho de Segurança o processo passou subitamente a «aberto e transparente.»
Para o pessoal doméstico do politicamente correcto que teria aderido como uma sóhomem mulher pessoa à «Campanha para Eleger Uma Mulher Secretária-Geral da ONU» a coisa teria sido um «ultraje», não fora o patriotismo de pacotilha ter falado mais alto.
Para a esquerdalhada doméstica, que quando ouve falar de Angela Merkel tem os costumados reflexos reptilianos e puxa logo da pistola, a «derrota de Georgieva é também de Merkel».
E pronto, é este o nosso pequenino universozinho, O que podemos concluir? O costume: a obsessão lusitana com um «português no topo do mundo», como a classificou Ricardo Araújo Pereira; o colectivismo que impossibilita a objectividade, os complexos de inferioridade e a inevitável doutrina Somoza.
O processo de escolha do secretário-geral da ONU é historicamente e por natureza das coisas uma barganha pouco recomendável.
Desta vez, para o jornalismo de causas domésticas e a comentadoria do regime, o processo teve três fases. Na primeira, foi o aplauso ao antevisto passeio triunfal de Guterres até à entronização. Na segunda, quando a concorrência feminina da Europa de Leste entrou na corrida, a coisa passou a ser o que sempre foi: um «processo pouco transparente». Na terceira, depois de Guterres ter passado a barreira do Conselho de Segurança o processo passou subitamente a «aberto e transparente.»
Para o pessoal doméstico do politicamente correcto que teria aderido como uma só
Para a esquerdalhada doméstica, que quando ouve falar de Angela Merkel tem os costumados reflexos reptilianos e puxa logo da pistola, a «derrota de Georgieva é também de Merkel».
E pronto, é este o nosso pequenino universozinho, O que podemos concluir? O costume: a obsessão lusitana com um «português no topo do mundo», como a classificou Ricardo Araújo Pereira; o colectivismo que impossibilita a objectividade, os complexos de inferioridade e a inevitável doutrina Somoza.
A maldição da tabuada (37) - Não saber a tabuada nunca foi uma desculpa para errar as contas (VI)
Episódios anteriores (I), (II), (III), (IV) e (V)
Parece-me difícil que algum dos cinco zingarelhos que até hoje passaram por esta série de posts habilitasse o Doutor Centeno a explicar como um défice previsto de 2,5% do PIB este ano consegue em apenas 9 meses desde Novembro de 2015 aumentar a dívida pública em 11,7 mil milhões (6,5% do PIB) de 231,6 para 243,3 mil milhões em Agosto.
Com uma diferença tão dilatada só se o Doutor Centeno usasse um analisador diferencial como o ilustrado, que teve a sua primeira versão em 1872. É certo que este zingarelho se destinava a calcular as marés e mais tarde foi usado para cálculo de artilharia naval, problemas bem mais simples do que o das finanças públicas domésticas, em todo o caso é a esperança que resta ao Doutor Centeno.
Parece-me difícil que algum dos cinco zingarelhos que até hoje passaram por esta série de posts habilitasse o Doutor Centeno a explicar como um défice previsto de 2,5% do PIB este ano consegue em apenas 9 meses desde Novembro de 2015 aumentar a dívida pública em 11,7 mil milhões (6,5% do PIB) de 231,6 para 243,3 mil milhões em Agosto.
Com uma diferença tão dilatada só se o Doutor Centeno usasse um analisador diferencial como o ilustrado, que teve a sua primeira versão em 1872. É certo que este zingarelho se destinava a calcular as marés e mais tarde foi usado para cálculo de artilharia naval, problemas bem mais simples do que o das finanças públicas domésticas, em todo o caso é a esperança que resta ao Doutor Centeno.
05/10/2016
BREIQUINGUE NIUZ: Guterres a secretário-geral
«Security Council Backs António Guterres to Be Next U.N. Secretary General»
Agora que, aparentemente, estamos prestes a ter um fugitivo da política nacional a presidir a uma organização de Estados na sua maioria autocráticos, já podemos perder a vergonha de ter tido um outro fugitivo da política nacional a presidir a uma outra organização de Estados democráticos?
Agora que, aparentemente, estamos prestes a ter um fugitivo da política nacional a presidir a uma organização de Estados na sua maioria autocráticos, já podemos perder a vergonha de ter tido um outro fugitivo da política nacional a presidir a uma outra organização de Estados democráticos?
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Ridendo castigat mores
A mentira como política oficial (23) - Não é falso que seja falso
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Dos três, escolha dois |
Citando o professor João Duque no Expresso, que se baseia nos dados trimestrais do INE sobre o investimento em Portugal, e omitindo as partes irónicas:
«Quando analisamos o comportamento do investimento dos dois primeiros trimestres de 2016 a preços correntes, verificamos que ele caiu (...) passando de 6.822 milhões de euros no 4.º trimestre de 2015, para 6.755 milhões de euros no 1.º trimestre de 2016 e depois para 6.698 milhões no 2.º trimestre. Como vemos, o investimento vai caindo (...) de trimestre para trimestre, primeiro -0,8% e depois -1%. Quando comparamos os trimestres deste ano com os do ano anterior, o comportamento é de igual sucesso. Isto é, caiu (...) nos dois primeiros trimestres de 2016, primeiro (...) -2,9% e depois -3,1%, passando de 6.898 milhões de euros para 6.755 milhões de euros e de 6911 milhões de euros para 6.698 milhões de euros.
(...)
Se formos ver os dados em volume (...) Comparando os dois primeiros trimestres de 2016 vemos que os dados estão sempre a descer (...). Passam de 6.833 milhões de euros no 4.º trimestre de 2015 para 6.744 milhões de euros e depois para 6.725 milhões de euros. Sempre a descer (...)! E comparando com o trimestre correspondente ao ano anterior descem (...) -2,5% e -2,9%!»
SERVIÇO PÚBLICO: Keynes não era keynesiano e, se ainda fosse vivo, morreria de tédio ao ouvir os seus seguidores (3)
Uma espécie de continuação de (1) e (2)
«What a government spends the public pays for. There is no such thing as an uncovered deficit.» Escreveu John Maynard Keynes, A Tract on Monetary Reform. Recordado por Carmen Reinhart em «The Perils of Debt Complacency», Project Syndicate.
Em suma, cada um tem o Keynes que merece ou o keynesianismo é o que o homem quiser.
«What a government spends the public pays for. There is no such thing as an uncovered deficit.» Escreveu John Maynard Keynes, A Tract on Monetary Reform. Recordado por Carmen Reinhart em «The Perils of Debt Complacency», Project Syndicate.
Em suma, cada um tem o Keynes que merece ou o keynesianismo é o que o homem quiser.
CASE STUDY: Um imenso Portugal (36)
[Outros imensos Portugais]
O povo falou no domingo e o PT sofreu um rude golpe nas eleições municipais. Nas 26 cidades capitais de Estado apenas conseguiu eleger um prefeito em Rio Branco, no Acre e na segunda volta apenas tem uma única hipótese de eleger um outro no Recife, estado de Pernambuco. Perdeu 60% das prefeituras e passou de terceiro para décimo partido mais votado.
Verdadeira humilhação foi Marcos Cláudio, o filho adoptivo de Lula, candidato em S. Bernardo do Campo, em S. Paulo, onde vez uma campanha baseada em ser filho do pai, ter conseguido 1.500 votos numa cidade com 822 mil habitantes.
Sem surpresa, emudeceram as vozes da esquerdalhada doméstica. Curiosamente, a única referência que se encontra no site do PCP às eleições brasileiras é uma entrevista a José Reinaldo Carvalho, Secretário de Política e Relações Internacionais do PC do Brasil publicada em 15 de Setembro com o premonitório título «O Brasil depois do golpe - Dar voz ao povo».
O povo falou no domingo e o PT sofreu um rude golpe nas eleições municipais. Nas 26 cidades capitais de Estado apenas conseguiu eleger um prefeito em Rio Branco, no Acre e na segunda volta apenas tem uma única hipótese de eleger um outro no Recife, estado de Pernambuco. Perdeu 60% das prefeituras e passou de terceiro para décimo partido mais votado.
Verdadeira humilhação foi Marcos Cláudio, o filho adoptivo de Lula, candidato em S. Bernardo do Campo, em S. Paulo, onde vez uma campanha baseada em ser filho do pai, ter conseguido 1.500 votos numa cidade com 822 mil habitantes.
Sem surpresa, emudeceram as vozes da esquerdalhada doméstica. Curiosamente, a única referência que se encontra no site do PCP às eleições brasileiras é uma entrevista a José Reinaldo Carvalho, Secretário de Política e Relações Internacionais do PC do Brasil publicada em 15 de Setembro com o premonitório título «O Brasil depois do golpe - Dar voz ao povo».
04/10/2016
ESTADO DE SÍTIO: Conflito de interesses? Qual conflito? Quais interesses? (2)
A PGR informou ter iniciado uma investigação ao juiz Rui Rangel, em relação com o processo «Rota do Atlântico», em que estão envolvidos José Veiga e Paulo Santana Lopes por suspeitas «de corrupção ativa no comércio internacional, branqueamento de capitais, tráfico de influências, participação económica em negócio e fraude fiscal qualificada». Rui Rangel é suspeito de ter recebido de José Veiga uns dinheiros através do testa-de-ferro José Santos Martins. (jornal SOL)
Por falar num testa-de-ferro Santos Qualquer Coisa, recorde-se o outro testa-de ferro, por coincidência também Santos Qualquer Coisa, do Saudoso Líder do PS, o que nos traz de novo ao juiz Rui Rangel que foi um comentador habitual de temas de justiça e num dos debates em que participou na TVI opinou sobre o processo Marquês em que está envolvido José Sócrates. Como então escrevi, há um ano foi indicado para apreciar o recurso de José Sócrates relacionado com o acesso a parte da prova indiciária. Com a mesma ligeireza/falta de isenção (cortar conforme o gosto) com que emitiu as opiniões, aceitou apreciar o recurso não vendo nisso qualquer incompatibilidade. Agora percebe-se melhor a vista grossa que a criatura faz a estas coisas menores.
QUEM SÓ TEM UM MARTELO VÊ TODOS OS PROBLEMAS COMO PREGOS: O alívio quantitativo aliviará? (49) O clube dos incréus reforçou-se (XIV)
Outras marteladas.
Como se pode confirmar na subsérie de posts «O clube dos incréus reforçou-se», as primeiras dissidências (dentro da doutrina predominante, porque os «austríacos» nunca fumaram desse tabaco) sobre os poderes miraculosos das políticas monetárias de alívio quantitativo e de taxas de juro nulas ou negativas tiveram como precursor Bill Gross (o ex-líder da PIMCO) e começaram há menos de 2 anos.
Gradualmente os dissidentes começaram a multiplicar-se e com a adesão do Expresso, o semanário de referência do regime, podemos concluir que agora é oficial - ou pelo menos oficioso - entre a nomenclatura pensadora doméstica. Duvida-se que a mudança de paradigma seja do agrado da geringonça, porque pode inaugurar uma fase de redução ou mesmo extinção do programa OMT (Outright Monetary Transactions) e a subida gradual das taxas, com os consequentes impactos na maior dependência dos mercados e no aumento do custo da dívida. Sem esquecer o efeito perverso das imparidades dos investimentos em dívida pública dos bancos portugueses (14% do total) que vai puxá-los ainda mais para o abismo.
Como se pode confirmar na subsérie de posts «O clube dos incréus reforçou-se», as primeiras dissidências (dentro da doutrina predominante, porque os «austríacos» nunca fumaram desse tabaco) sobre os poderes miraculosos das políticas monetárias de alívio quantitativo e de taxas de juro nulas ou negativas tiveram como precursor Bill Gross (o ex-líder da PIMCO) e começaram há menos de 2 anos.
Gradualmente os dissidentes começaram a multiplicar-se e com a adesão do Expresso, o semanário de referência do regime, podemos concluir que agora é oficial - ou pelo menos oficioso - entre a nomenclatura pensadora doméstica. Duvida-se que a mudança de paradigma seja do agrado da geringonça, porque pode inaugurar uma fase de redução ou mesmo extinção do programa OMT (Outright Monetary Transactions) e a subida gradual das taxas, com os consequentes impactos na maior dependência dos mercados e no aumento do custo da dívida. Sem esquecer o efeito perverso das imparidades dos investimentos em dívida pública dos bancos portugueses (14% do total) que vai puxá-los ainda mais para o abismo.
O (IM)PERTINÊNCIAS FEITO PELOS SEUS DETRACTORES: O mistério do Angoche (2)
Uma espécie de conto em fascículos, a pretexto do misterioso caso do Angoche há 45 anos, sobre a aventura de Ulisses Trinta e Quatro a bordo do dito Angoche. O autor APS, de quem já aqui publicámos há dez anos os «Contributos para a Teoria Geral do Prego» é um dos detractores mais impertinentes do (Im)pertinências.
48. Leviatã [continuação de (1)]
O mal dos dias especiais é não serem capazes de dar a perceber essa sua inusitada faceta, ou seja, ninguém, pelo andar da carruagem do quotidiano, se atreveria a dizer que são diferentes pois à priori não se distinguem dos que governam o nosso continuo rame-rame. Num desses malfadados dias o Angoche arribou, após ter sido dado como operacional, à sua área geográfica de exploração, atracando no cais da capital da província, pela manhã para proceder à transferência das cargas do porão para o cais e, depois outras cargas, do cais para o porão, pois, mesmo não sendo navio de longo curso, viera carregadinho do porto de construção e origem, apesar de a cabotagem ser a essencial e simples razão de ser do navio, e também, no fundo, de outro qualquer a menos que não seja cargueiro caso em que a simplicidade essencial poder passar à tão desagradável quanto o é a guerra ou tão amável quanto o turismo de cruzeiro. Pelo fim da tarde deveria desamarrar o navio e rumar ao porto seguinte, para proceder, exactamente ao mesmo trabalho. Chegaria nesta azáfama até ao norte da província juntinho à fronteira e depois virava para baixo navegando até ao sul também bem próximo da fronteira, aliás de onde partira.
Como imediato não era suposto estar ao portaló na supervisão e vigilância das operações de carga e descarga mas, como se deduz da comparação entre a tripulação prevista no registo e a efectiva careciam-se de recursos e não havia remédio senão o vice chefe máximo no navio envolver-se em tarefas que a importância da função não recomendava, todavia a contabilidade da economia da exploração falava mais alto e por isso mesmo o homem estava ao portaló quando devia estar na câmara e por esse real e improvável motivo não houve a oportunidade de introduzir entre ele e um cidadão que a ele se dirigiu, o peso da hierarquia, de resto neste caso exemplarmente reduzida, na garantia da triagem e selectividade ao seu acesso,
O cidadão em causa identificou-se sob o nome de Ulisses Trinta e Quatro e pretendia falar com o comandante do navio sem, todavia, perceber que estava exactamente a falar com o imediato, ou seja, quase o pretendido e eventual interlocutor. Por outras palavras, o senhor Ulisses não entendia patavina do que os galões significavam e um óculo com uma, duas, três ou trinta barras tinham exactamente o mesmo significado: nenhum, para ser exacto. Por este pequeno detalhe se percebe quanto justas foram as considerações expressas sobre os trabalhos a que um imediato, não fora a questão espúria da contabilidade, se deve dedicar ou não.
Como era novato nas artes do modo de conviver com os indígenas e divertido com o nome do cidadão, não resistiu, o imediato, a informar o estranho de que estava perante a pessoa que pretendia contactar facto que podia constatar pelos galões que transportada aos ombros e se não for pedir demais importar-se-ia o cidadão Ulisses dizer ao que vinha e que importância isso tinha para implicar uma conversa logo com o comandante.
A disponibilidade mereceu de Ulisses um sorriso franco, imensamente empático e contagiante. O dito cidadão pretendia viajar até ao norte onde tinha família que fazia muito tempo não via e carecia de ser ajudada. Como não tinha dinheiro para pagar a viagem nem para ajudar a família trabalharia no navio em tudo o que sabia fazer e em tudo o que fosse preciso mesmo não sabendo muito bem, ganhando aquilo que o comandante entendesse que deveria ganhar.
(Continua)
48. Leviatã [continuação de (1)]
O mal dos dias especiais é não serem capazes de dar a perceber essa sua inusitada faceta, ou seja, ninguém, pelo andar da carruagem do quotidiano, se atreveria a dizer que são diferentes pois à priori não se distinguem dos que governam o nosso continuo rame-rame. Num desses malfadados dias o Angoche arribou, após ter sido dado como operacional, à sua área geográfica de exploração, atracando no cais da capital da província, pela manhã para proceder à transferência das cargas do porão para o cais e, depois outras cargas, do cais para o porão, pois, mesmo não sendo navio de longo curso, viera carregadinho do porto de construção e origem, apesar de a cabotagem ser a essencial e simples razão de ser do navio, e também, no fundo, de outro qualquer a menos que não seja cargueiro caso em que a simplicidade essencial poder passar à tão desagradável quanto o é a guerra ou tão amável quanto o turismo de cruzeiro. Pelo fim da tarde deveria desamarrar o navio e rumar ao porto seguinte, para proceder, exactamente ao mesmo trabalho. Chegaria nesta azáfama até ao norte da província juntinho à fronteira e depois virava para baixo navegando até ao sul também bem próximo da fronteira, aliás de onde partira.
Como imediato não era suposto estar ao portaló na supervisão e vigilância das operações de carga e descarga mas, como se deduz da comparação entre a tripulação prevista no registo e a efectiva careciam-se de recursos e não havia remédio senão o vice chefe máximo no navio envolver-se em tarefas que a importância da função não recomendava, todavia a contabilidade da economia da exploração falava mais alto e por isso mesmo o homem estava ao portaló quando devia estar na câmara e por esse real e improvável motivo não houve a oportunidade de introduzir entre ele e um cidadão que a ele se dirigiu, o peso da hierarquia, de resto neste caso exemplarmente reduzida, na garantia da triagem e selectividade ao seu acesso,
O cidadão em causa identificou-se sob o nome de Ulisses Trinta e Quatro e pretendia falar com o comandante do navio sem, todavia, perceber que estava exactamente a falar com o imediato, ou seja, quase o pretendido e eventual interlocutor. Por outras palavras, o senhor Ulisses não entendia patavina do que os galões significavam e um óculo com uma, duas, três ou trinta barras tinham exactamente o mesmo significado: nenhum, para ser exacto. Por este pequeno detalhe se percebe quanto justas foram as considerações expressas sobre os trabalhos a que um imediato, não fora a questão espúria da contabilidade, se deve dedicar ou não.
Como era novato nas artes do modo de conviver com os indígenas e divertido com o nome do cidadão, não resistiu, o imediato, a informar o estranho de que estava perante a pessoa que pretendia contactar facto que podia constatar pelos galões que transportada aos ombros e se não for pedir demais importar-se-ia o cidadão Ulisses dizer ao que vinha e que importância isso tinha para implicar uma conversa logo com o comandante.
A disponibilidade mereceu de Ulisses um sorriso franco, imensamente empático e contagiante. O dito cidadão pretendia viajar até ao norte onde tinha família que fazia muito tempo não via e carecia de ser ajudada. Como não tinha dinheiro para pagar a viagem nem para ajudar a família trabalharia no navio em tudo o que sabia fazer e em tudo o que fosse preciso mesmo não sabendo muito bem, ganhando aquilo que o comandante entendesse que deveria ganhar.
(Continua)
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delírios pontuais,
se non è vero
03/10/2016
Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça (51)
Outras avarias da geringonça.
Entre as múltiplas realizações da geringonça devemos creditar-lhe a descida de 8 posições, de 38.ª para a 46.ª, no ranking «Global Competitiveness Report 2016–2017» do World Economic Forum. Porquê? Impostos, instabilidade política e burocracia - neste último indicador a geringonça chutou Portugal para 109.º em 130 países.
Por tudo isto, quem se admira que o yield das obrigações do Tesouro a 10 anos tenha atingido a semana passada um máximo de 3,52%? Ou que a UBS considere que a dívida portuguesa «still not worth the risk». E a propósito, comparem-se os yields a 10 anos de Portugal com a Espanha que continua sem governo.
Entre as múltiplas realizações da geringonça devemos creditar-lhe a descida de 8 posições, de 38.ª para a 46.ª, no ranking «Global Competitiveness Report 2016–2017» do World Economic Forum. Porquê? Impostos, instabilidade política e burocracia - neste último indicador a geringonça chutou Portugal para 109.º em 130 países.
Por tudo isto, quem se admira que o yield das obrigações do Tesouro a 10 anos tenha atingido a semana passada um máximo de 3,52%? Ou que a UBS considere que a dívida portuguesa «still not worth the risk». E a propósito, comparem-se os yields a 10 anos de Portugal com a Espanha que continua sem governo.
A maldição da tabuada (36) - Não saber a tabuada nunca foi uma desculpa para errar as contas (V)
Episódios anteriores (I), (II), (III) e (IV)
Quanto ao motor analítico que Charles Babbage tentou desenvolver na década 30 do século XIX, uma espécie de computador de Turing avant la lettre, teria sido uma importante mais-valia para preparar o OE 2017 e resolver o trilema: das três felicidades, de Bruxelas, da geringonça e dos eleitores, Costa tem de escolher duas.
Teria sido, mas não poderia ser porque o zingarelho não chegou a ser terminado, entre outras coisas porque Babbage e o seu engenheiro-chefe passavam o tempo a discutir até que o governo britânico lhes cortou o financiamento. Algo assim pode acontecer à geringonça.
Quanto ao motor analítico que Charles Babbage tentou desenvolver na década 30 do século XIX, uma espécie de computador de Turing avant la lettre, teria sido uma importante mais-valia para preparar o OE 2017 e resolver o trilema: das três felicidades, de Bruxelas, da geringonça e dos eleitores, Costa tem de escolher duas.
Teria sido, mas não poderia ser porque o zingarelho não chegou a ser terminado, entre outras coisas porque Babbage e o seu engenheiro-chefe passavam o tempo a discutir até que o governo britânico lhes cortou o financiamento. Algo assim pode acontecer à geringonça.
02/10/2016
Pro memoria (320) - Uma espécie de jornalismo normal (II)
Depois das reacções do jornalismo de causas e da comentadoria do regime ao livro de José António Saraiva «Eu e os políticos» (que não li e não sei se lerei), a que aqui fiz referência citando o jornalista Pedro Tadeu, tem-se verificando um fenómeno aparentemente surpreendente mas, em boa verdade, totalmente previsível.
Com as suas 2 ou 3 referências a comportamentos desviantes (tantas quantas os seus detractores apontaram) da nossa merdosa elite político-jornalística, autênticos segredos de polichinelo, na vastidão de 260 páginas escritas com um estilo que imagino soporífero, a exemplo da escrita habitual de JAS, o livro teria passado despercebido. Graças a essas reacções tornou-se um best seller com numerosas edições e dezenas de milhar de exemplares vendidos.
Não me ocorre melhor exemplo nos últimos tempos da lei empírica das consequência indesejadas. E porquê esta pletora de indignações hipócritas? Tenho para mim que por duas razões: primeira, JAS tornou-se uma bête noire do jornalismo de causas, apesar de ser jornalista ou talvez por isso mesmo, sobretudo depois de ter fundado o jornal SOL; segunda, JAS teve a triste ideia de convidar Passos Coelho e este aceitou apresentar o livro, imagino por ser JAS um dos poucos jornalistas que não o zurzia, e com isso soltaram-se os demónios do pior que o jornalismo caseiro é capaz de fazer.

Não me ocorre melhor exemplo nos últimos tempos da lei empírica das consequência indesejadas. E porquê esta pletora de indignações hipócritas? Tenho para mim que por duas razões: primeira, JAS tornou-se uma bête noire do jornalismo de causas, apesar de ser jornalista ou talvez por isso mesmo, sobretudo depois de ter fundado o jornal SOL; segunda, JAS teve a triste ideia de convidar Passos Coelho e este aceitou apresentar o livro, imagino por ser JAS um dos poucos jornalistas que não o zurzia, e com isso soltaram-se os demónios do pior que o jornalismo caseiro é capaz de fazer.
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NOVA ENTRADA PARA O GLOSSÁRIO DAS IMPERTINÊNCIAS: Autofinanciamento
Autofinanciamento
Obtenção de fundos através do assalto a um banco de modo a evitar a dependência de terceiros.
Exemplo: A LUAR, uma organização clandestina que combateu à sua maneira o regime salazarista, optou segundo as palavras da jornalista São José Almeida no Público «desde o seu início pelo autofinanciamento, de modo a evitar a dependência de movimentos internacionais, de partidos estrangeiros, de outros países e de serviços secretos. Foi esse o motivo pelo qual a LUAR se estreou com o Assalto ao Banco de Portugal na Figueira da Foz, a 17 de Maio de 1967.»
Helena Matos sugere no Blasfémias para acabar «os problemas do fim do mês (…) assaltamos o engenheiro Belmiro e quando alguém nos pretender acusar por roubo explicamos que estamos a seguir o modelo de autofinanciamento descoberto pelo seu jornal.»
Obtenção de fundos através do assalto a um banco de modo a evitar a dependência de terceiros.
Exemplo: A LUAR, uma organização clandestina que combateu à sua maneira o regime salazarista, optou segundo as palavras da jornalista São José Almeida no Público «desde o seu início pelo autofinanciamento, de modo a evitar a dependência de movimentos internacionais, de partidos estrangeiros, de outros países e de serviços secretos. Foi esse o motivo pelo qual a LUAR se estreou com o Assalto ao Banco de Portugal na Figueira da Foz, a 17 de Maio de 1967.»
Helena Matos sugere no Blasfémias para acabar «os problemas do fim do mês (…) assaltamos o engenheiro Belmiro e quando alguém nos pretender acusar por roubo explicamos que estamos a seguir o modelo de autofinanciamento descoberto pelo seu jornal.»
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