Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos
de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.
» (António Alçada Baptista)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

24/12/2025

NPD. Confirmed diagnosis


«Narcissistic personality disorder involves a pervasive pattern of grandiosity (in fantasy or behavior), need for admiration, and lack of empathy. Those with narcissistic personality disorder may
  • Have a grandiose sense of self-importance (e.g., exaggerates achievements and talents).✔ 
  • Be preoccupied with fantasies of unlimited success, power, brilliance, beauty, or ideal love.✔ 
  • Believe that they are “special” and can only be understood by other special or high-status people.✔ 
  • Require excessive admiration.✔ 
  • Have a sense of entitlement (i.e., unreasonable expectations of especially favorable treatment).
  • Take advantage of others to achieve his or her own ends.✔ 
  • Lack empathy: or is unwilling to recognize or identify with the feelings and needs of others.✔ 
  • Is often envious of others or believes that others are envious of them.✔ 
  • Show arrogant, haughty behaviors or attitudes.»✔ 

If you think this is a matter within Mr. Donald Trump's private domain, think again. The syndrome of exacerbated narcissism leads the subject to choose his team not based on competence, but on their ability to flatter him and make decisions, not in the national interest, but according to whims and his need to be constantly flattered. In the case of the President of a State, once an uncontested world power, which commands the second-largest nuclear arsenal, this syndrome is particularly dangerous.

23/12/2025

Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa (80)

Continuação das Crónicas: «da anunciada avaria irreparável da geringonça», «da avaria que a geringonça está a infligir ao País» e «da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa» e do «Semanário de Bordo da Nau Catrineta». Outras Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa.

O Brilhante embaciado

Há duas semanas abrilhantei a folha do Dr. Brilhante Dias, líder parlamentar do PS, pelo seu artigo «Imigração: o dilema fatal do PS» onde se distanciou das masturbações teoréticas dos seus próprios deputados sobre a imigração. Venho agora revogar a reabilitação pela sua intervenção paralamentar na passada 3.ª feira em que citou o ministro da Educação Fernando Alexandre, um dos poucos que não estão embalsamados no governo, descontextualizando num misto de sonsice e maquiavelismo saloio o que a criatura disse a respeito das residências universitárias, no que foi pressurosamente seguido pela cloaca da RTP.

O surto de lucidez do Dr. Medina

Não poupei o Dr. Medina enquanto andou pela câmara e pelo governo a acolitar o Dr. Costa nas suas manobras. Chegou agora a vez de o saudar por ter reconhecido «o profundo erro que o PS cometeu» no caso ao adoptar no caso Spinumviva uma «política assente no ódio, na calúnia de adversários políticos e na judicialização da vida pública política», ainda que suspeite que o fez mais por razões da comprovada ineficácia da campanha do que por razões de princípio.

As políticas socialistas não incentivarem apenas a saída dos mais qualificados

Essas políticas favoreceram também a saída dos menos qualificados que são substituídos no mercado de trabalho pelos imigrantes.

O Estado sucial adiciona a corrupção à ineficácia e ineficiência

mais liberdade
Já era mau ter um Estado ineficaz e ineficiente que devora vorazmente quase metade do PIB do Portugal dos Pequeninos. Ter um Estado que, além disso, representa a esmagadora maioria dos casos de corrupção é uma tragédia e uma fatalidade.

22/12/2025

Crónica da passagem de um governo (29)

Outras Crónicas do Governo de Passagem

Navegando à bolina
Advertência: esta crónica é dedicada ao pensamento mágico

Não sei se é sonho, se realidade,
Se uma mistura de sonho e vida,
Aquela terra de suavidade
Que na ilha extrema do sul se olvida.


Take Another Plan. A venda da TAP como exercício de pensamento mágico (cont.)

Há dois meses escrevi noutra crónica não saber se o governo do Dr. Montenegro já se tinha dado conta de que, com toda a probabilidade, nenhum grande operador internacional compraria a TAP sem garantias de que a poderá governar ou para manter o marsúpio com o ventre cheio de utentes. Passados dois meses e depois das declarações da IAG (BA + Iberia) que há dias fez saber que uma posição minoritária seria um “problema”, o governo tem menos desculpas.

Também já tinha escrito não saber se o governo do Dr. Montenegro já se tinha dado conta de que, com toda a probabilidade, nenhum grande operador internacional compraria a TAP com base numa avaliação próxima de 3,2 mil milhões de euros que o governo do Dr. Costa lá torrou com dinheiro extorquido aos contribuintes. Agora o governo deve ter menos desculpas porque com toda a probabilidade a avaliação feita pela E&Y e pelo banco Finantia não deve ultrapassar metade do valor torrado.

A Inteligência Artificial e o sexo à lareira como exercícios de pensamento mágico

Segundo os resultados do Inquérito à Utilização de Tecnologias da Informação e da Comunicação pelas Famílias, 38,7% dos portugueses dos 16 aos 74 anos, 76,5% dos de 16 aos 24 anos e 81,5% dos estudantes declararam ter utilizado ferramentas de IA nos 3 meses anteriores à entrevista, percentagens superiores à média da UE ou mesmo muito superiores (no caso dos estudantes dez vezes mais).

[Sabe-se lá por quê, estes devaneios fizeram-me recordar um outro inquérito que há uns anos permitiu concluir que o local preferido da maioria dos portugueses para praticar sexo era junto à lareira.]

A Inteligência Artificial e a gigafábrica como exercício de pensamento mágico

Depois de ter declarado na “Exponoivos para start-ups” que Portugal «tem todas as condições para se tornar um líder mundial na IA», o Dr. Matias, ministro da Reforma do Estado, admitiu duplicar de 4 para 8 mil milhões o investimento previsto na gigafábrica de inteligência artificial (IA) de Sines. Tudo isto, claro, se a candidatura portuguesa vier a ser seleccionada e os contribuintes europeus abrirem os cordões à bolsa.

O hidrogénio verde como exercício de pensamento mágico

Em retrospectiva, há uns anos o Dr. Costa e o Dr. Galamba subsidiaram com uns milhões do PRR a Fusion Fuel, uma empresa que iria fabricar eletrolisadores para a produção de hidrogénio verde e o Dr. Costa fez uma das suas declarações bombásticas garantindo que a produção de hidrogénio verde iria ser a nova "reindustrialização". Três anos depois, a nova "reindustrialização" consistiu na falência da Fusion Fuel com dívidas de 24 milhões e 5,8 milhões de subsídios torrados. A coisa ressuscitou agora pela mão da Keme Energy, reduzida a uma proporção menos grandiosa de 10% da capacidade inicialmente prevista e, ainda assim, graças aos dinheiros dos contribuintes europeus através do PRR.

O governo constrói mais duas pontes. Depois do pensamento mágico, o realismo prosaico 

Para compensar a desistência da construção da ponte internacional sobre o Rio Sever, em Nisa, o governo ofereceu duas pontes aos utentes da vaca marsupial pública, a saber: a ponte do Natal que irá ligar o dia 23 ao dia 29 e a ponte do Ano Novo que ligará o dia 30 de Dezembro ao dia 2 de Janeiro.

21/12/2025

TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: Há sete anos Bibi antecipou que lhe deveria acontecer

O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, foi investigado há seis anos e está a ser julgado por acusações de suborno, fraude e quebra de confiança que ele nega, insistindo que isso não o impede de governar. 

Foi também acusado pelo Tribunal Penal Internacional de crimes de guerra e contra a humanidade que emitiu em Novembro de 2024 um mandado de prisão. Os seus advogados apresentaram no mês passado um pedido de perdão ao presidente de Israel, Isaac Herzog.

Que consequências deveriam ter essas acusações e o julgamento em curso sobre o seu mandato? O próprio Netanyahu disse claramente em 2008 o que pensava sobre a situação semelhante do seu antecessor no cargo, Ehud Olmert que renunciou antes de ser indiciado por aceitar subornos:

«Um primeiro-ministro atolado em investigações não tem mandato moral ou público para tomar decisões fatídicas para o Estado de Israel. Há um medo... e é real e não infundado que ele tomará suas decisões com base em seu interesse pessoal para a sobrevivência política, não no interesse nacional.»

20/12/2025

A economia do pastel de nata tem o melhor desempenho este ano? (3)

Continuação de (1) e (2)

Contra a corrente, o (Im)pertinências tentou colocar no devido lugar o primeiro lugar da economia portuguesa no ranking da Economist. Algumas outras vozes (poucas, porque isto de ir contra a corrente patridiótica não é fácil) se fizeram ouvir no mesmo sentido, tais como Óscar Afonso no jornal Sol (sem link), José Paulo Soares no jornal Eco, Daniel Bessa no Expresso e João Duque, também no Expresso.

A estes juntou-se ontem Luís Aguiar-Conraria que, igualmente no Expresso, não resistiu à tentação de zurzir «os nacionais-pessimistas», entre os quais poderia distraidamente incluir o (Im)pertinências, mas acaba por admitir que «uma vez passadas as primeiras impressões, há que ser honesto e dar ao ranking a importância que tem: praticamente nenhuma», por razões semelhantes às que aqui enumerei.

19/12/2025

Lost in translation (372) - I never imagined I would agree with Suzie Willes, the White House Chief of Staff

 «Most senior White House officials parse their words and speak only on background. But over many on-the-record conversations, Wiles answered almost every question I put to her.

We often spoke on Sundays after church. Wiles, an Episcopalian, calls herself “Catholic lite.” One time we spoke while she was doing her laundry in her Washington, DC, rental. Trump, she told me, “has an alcoholic’s personality.” Vance’s conversion from Never Trumper to MAGA acolyte, she said, has been “sort of political.” The vice president, she added, has been “a conspiracy theorist for a decade.” Russell Vought, architect of the notorious Project 2025 and head of the Office of Management and Budget, is “a right-wing absolute zealot.” When I asked her what she thought of Musk reposting a tweet about public sector workers killing millions under Hitler, Stalin, and Mao, she replied: “I think that’s when he’s microdosing.” (She says she doesn't have first-hand knowledge.)».

Susie Wiles, JD Vance, and the “Junkyard Dogs”: The White House Chief of Staff on Trump’s Second Term (Vanity Fair Part 1 and Part 2), by Chris Whipple

17/12/2025

CASE STUDY: The ideological brain of Steve Bannon, the Rasputin of MAGA

The other day, I saw the interview with Steve Bannon, who, in the words of The Economist magazine, is "the former chief strategist of the White House whose worldview contradicts that of The Economist. He is a populist nationalist" and the Rasputin of MAGA, as he himself does not deny in the interview. 

The Economist justifies the interview because «it is classically liberal. But liberalism demands dialogue with those who oppose it. And as liberal values retreat worldwide, understanding Mr Bannon’s ideas—which have animated many people on both sides of the Atlantic—has become essential». Given his ideas, which are quite clear in the interview, it is unlikely that Steve Bannon would have interviewed Zanny Minton Beddoes, the editor-in-chief of The Economist, on her podcast, War Room.

What emerges very clearly from the interview is that MAGA is irremediably divided between the populist nationalist faction and the ideas of techno-archs like the "éminence grise" Peter Thiel - as I once anticipated in the post Another Brick in the Wall.

Coincidentally, I had read "The Ideological Brain" some time earlier, whose central conclusion is that ideologies change our brains, creating "ideological brains" rigid and resistant to new evidence. It occurred to me that the author Leor Zmigrod, a political psychologist and neuroscientist, could very well use Steve Bannon as a case study for her research.

16/12/2025

Crónica da passagem de um governo (28)

Outras Crónicas do Governo de Passagem

Navegando à bolina
O Dr. Montenegro tem uma estratégia de crescimento (dos salários)

O Dr. Montenegro não faz reformas no que se equivale ao Dr. Costa, que dizia fugir delas como diabo da cruz. Substituiu as reformas pelas promessas, correndo o risco de superar o Dr. Costa e avança com salários mínimos de 1.600 euros e salários médios de 3.000 euros (equivalentes a 42 mil euros por ano) até ao fim da legislatura. É claro que primeiro objectivo depende só do governo (já que a oposição não teria coragem de votar contra) e implicaria uma hecatombe das micro e pequenas empresas incapazes de pagar tais salários. Quanto ao segundo objectivo, podia ter garantido salários médios de 5.000 ou 6.000 euros que viria a dar no mesmo. O Dr. Montenegro não se deu à maçada de nos explicar como seria possível pagar tais salários com a produtividade portuguesa.

Os 1.600 do Dr. Montenegro são 1.100 euros para o Dr. Sarmento

O Dr. Sarmento, que não tem a desculpa do défice de numeracia, ficou calado perante as veleidades do Dr. Montenegro, veio repor as coisas num plano mais realista em Bruxelas, declarando que os aumentos dos salários só seriam possíveis com o aumento da produtividade e corrigiu os 1.600 euros para «1.100 euros até ao final da legislatura».
 
Os portugueses «vão ter razões para confiar no SNS»

Não sabemos se os portugueses têm razões para confiar no SNS, mas quem não tem de certeza são os 227 laboratórios (23% do total) que deixaram de fazer análises para o SNS por não estarem disponíveis a receber os preços de há mais de dez anos.

Canários na mina de carvão

Em Outubro, as exportações e as importações de bens caíram em termos homólogos 5,2% e 3%, respectivamente, e o défice da balança comercial de bens aumentou 77 milhões de euros. (fonte)

Da discussão em termos ideológicos não nasce a luz, nasce a escuridão

De um lado, a esquerda defende que não deve haver restrições à entrada de imigrantes. De outro a direita defende que os imigrantes só podem ser aceites se forem capazes de cantar o hino nacional (isto é uma boutade, certo?). Da adopção do credo dos primeiros resultaria a breve trecho uma guerra civil (isto é uma boutade, certo?). Da adoptação do credo dos segundos resultaria o fecho do turismo com 25% de imigrantes e no geral a paralisação da economia e a falência antecipada da segurança social com os seus 1,7 milhões de imigrantes que representaram mais de 1/3 dos contribuintes e receberam de 6% das prestações sociais (fonte).

15/12/2025

A economia do pastel de nata tem o melhor desempenho este ano? (2)

Continuação de (1)

O governo, o coro da comentadoria e até os jornalistas de causas, que nestas coisas patrióticas alinham com os governos que detestam, saudaram efusivamente o primeiro lugar da economia portuguesa no ranking da Economist. Contra a corrente, o (Im)pertinências não embandeirou em arco e tentou colocar o feito no seu humilde lugar. Desde então, ao longo da semana passada, algumas outras vozes cépticas atenuaram o nosso sentimento de solidão.

Começo por Óscar Afonso que no jornal Sol (sem link) publicou um artigo cujo título, só por si, diz quase tudo - O IgNobel da Economia vai para ... Portugal em 1.º segundo a The Economist.  

Continuo com o economista José Paulo Soares, que no seu As sweet as a pastel de nata considera  «enternecedor o bacoquismo patriótico» do coro de celebrantes e salienta que nos indicadores fundamentais (produtividade do trabalho e PIB per capita) as coisas não melhoraram, como até pioraram, como aqui escrevi a semana passada.

No mesmo sentido, com mais contenção, escreveram Daniel Bessa (A melhor economia do ano) e João Duque (A economia do pastel de nata).

14/12/2025

NOVA ENTRADA PARA O GLOSSÁRIO DAS IMPERTINÊNCIAS: Greve geral

Greve geral (sindicalês)

Uma greve de muitos empregados do Estado, cujos "direitos" não são afectados, e de alguns trabalhadores de empresas privadas, convocada quando o governo não é de esquerda, por sindicatos que representam menos de um sexto dos trabalhadores e reclamam ter mobilizado quatro quintos dos trabalhadores.

Exemplo:  

A "greve geral" do dia 11 de Dezembro de 2025 que os sindicatos reclamam ter envolvido 80% dos trabalhadores, o governo reclama ter sido uma minoria insignificante e a confederação patronal alega ter envolvido 2 a 3%, "greve geral" que comprovadamente fechou quase todas as escolas, muitos serviços públicos, a maioria dos transportes públicos do Estado, 100 das 4.500 agências bancárias, 20% dos correios e que, em vez de uma redução do consumo de electricidade de 10% a 25% habitual nos dias de greve geral, teve como consequência um insólito aumento de 6% do consumo de electricidade entre as 0H e as 17H, em relação ao dia anterior. 

13/12/2025

Birds of a Feather Flock Together (9) - Besides sharing the same feather, these birds have a large bird as a common enemy

The Moscow Times

Blinded by his gigantic ego and deluded by past, present, and, he believes, future dealings, the Big, Beautiful Bird has not yet realized that.

12/12/2025

LASCIATE OGNI SPERANZA, VOI CH'ENTRATE: Vamos todos fingir que o problema não existe? Sim, vamos (12) - A leveza insustentável do sistema público de pensões (VIII)

Continuação de (1), (2), (3), (4), (5), (6), (7), (8), (9), (10) e (11)

Os mídia e as eminências do regime inundaram o espaço mediático com a conclusão da Economist de que a economia do pastel de nata teve o melhor desempenho este ano, conclusão baseada em cinco indicadores de escolha questionável com uma ponderação que não foi divulgada, incluindo dois indicadores que beneficiaram da comparação com valores excepcionais no ano de 2024.


Compreensivelmente, concluiria Eduardo Lourenço se ainda fosse vivo, não me dei conta que os mesmos mídia e as mesmas eminências tivessem feito quaisquer referências ao artigo da mesma Economist European pensions are in dire need of reformpublicado seis dias antes, sobre os sistemas europeus de pensões, de onde extraí o diagrama acima que mostra o sistema de pensões português no segundo lugar da UE em termos de agravamento previsto da dependência dos cada vez mais pensionistas de cada vez de menos trabalhadores.

Num eventual novo post tratarei de outros aspectos também com base no estudo da OCDE Pensions at a Glance 2025.

(Continua)

10/12/2025

O MEGA do MAGA (1)

Com a publicação da National Security Strategy, a administração Trump introduziu alterações significativas na doutrina de defesa nacional do EUA. O documento publicado há dias merece uma leitura atenta e uma análise séria, resistindo ao estilo paternalista relativamente aos outros Estados e aqui e ali aos sinais da personalidade patologicamente narcisista de Donald Trump.  

Vou dedicar alguns posts a comentar essa doutrina, em particular, nos seus impactos directos sobre a Europa, ou melhor, sobre o conjunto de países que constituem a União Europeia. Começo por transcrever uma tradução automática do capítulo dedicado à Europa.
 
«C. Promoção da Grandeza Europeia

Os responsáveis americanos habituaram-se a pensar nos problemas europeus em termos de despesas militares insuficientes e estagnação económica. Há verdade nisto, mas os verdadeiros problemas da Europa são ainda mais profundos. 

A Europa Continental tem vindo a perder quota do PIB global — de 25 por cento em 1990 para 14 por cento atualmente — em parte devido a regulamentações nacionais e transnacionais que minam a criatividade e a diligência.

Mas este declínio económico é eclipsado pela perspetiva real e mais evidente do apagamento civilizacional. As questões maiores que a Europa enfrenta incluem atividades da União Europeia e de outros organismos transnacionais que minam a liberdade e soberania políticas, políticas migratórias que estão a transformar o continente e a criar conflitos, censura da liberdade de expressão e supressão da oposição política, queda das taxas de natalidade e perda de identidades e autoconfiança nacionais.

Se as tendências atuais continuarem, o continente será irreconhecível dentro de 20 anos ou menos. Assim, está longe de ser óbvio se certos países europeus terão economias e exércitos suficientemente fortes para permanecerem aliados fiáveis. Muitas destas nações estão atualmente a redobrar o seu caminho atual. Queremos que a Europa continue europeia, que recupere a sua autoconfiança civilizacional e que abandone o seu foco falhado na sufocação regulatória.

Esta falta de autoconfiança é mais evidente na relação da Europa com a Rússia. Os aliados europeus beneficiam de uma vantagem significativa de poder duro sobre a Rússia em quase todos os critérios, exceto armas nucleares. Como resultado da guerra da Rússia na Ucrânia, as relações europeias com a Rússia estão agora profundamente atenuadas, e muitos europeus consideram a Rússia uma ameaça existencial. Gerir as relações europeias com a Rússia exigirá um envolvimento diplomático significativo dos EUA, tanto para restabelecer condições de estabilidade estratégica em toda a massa terrestre eurasiática, como para mitigar o risco de conflito entre a Rússia e os Estados europeus.

É do interesse central dos Estados Unidos negociar uma cessação rápida das hostilidades na Ucrânia, de modo a estabilizar as economias europeias, evitar escalada ou expansão não intencional da guerra e restabelecer a estabilidade estratégica com a Rússia, bem como permitir a reconstrução pós-hostilidades da Ucrânia para garantir a sua sobrevivência como Estado viável. 

A Guerra da Ucrânia teve o efeito perverso de aumentar as dependências externas da Europa, especialmente da Alemanha. Hoje, empresas químicas alemãs estão a construir algumas das maiores fábricas de processamento do mundo na China, utilizando gás russo que não conseguem obter em casa. A Administração Trump encontra-se em desacordo com os responsáveis europeus que têm expectativas irrealistas para a guerra, situadas em governos minoritários instáveis, muitos dos quais pisam princípios básicos da democracia para suprimir a oposição. Uma grande maioria europeia quer paz, mas esse desejo não se traduz em política, em grande parte devido à subversão do processo democrático por parte desses governos. Isto é estrategicamente importante para os Estados Unidos precisamente porque os estados europeus não podem reformar-se se estiverem presos numa crise política.

No entanto, a Europa continua a ser estrategicamente e culturalmente vital para os Estados Unidos. O comércio transatlântico continua a ser um dos pilares da economia global e da prosperidade americana. Os setores europeus, desde a indústria transformadora à tecnologia e à energia, continuam a estar entre os mais robustos do mundo. A Europa alberga investigação científica de ponta e instituições culturais de referência mundial. Não só não podemos dar ao luxo de descartar a Europa — fazê-lo seria contraproducente para o que esta estratégia pretende alcançar.

A diplomacia americana deve continuar a defender a democracia genuína, a liberdade de expressão e as celebrações sem desculpas do carácter e da história individual das nações europeias. A América incentiva os seus aliados políticos na Europa a promover este renascimento do espírito, e a crescente influência dos partidos patrióticos europeus dá, de facto, motivos para grande otimismo.

O nosso objetivo deve ser ajudar a Europa a corrigir a sua trajetória atual. Precisaremos de uma Europa forte para nos ajudar a competir com sucesso e para trabalhar em conjunto connosco para evitar que qualquer adversário domine a Europa.

A América está, compreensivelmente, sentimentalmente ligada ao continente europeu — e, claro, à Grã-Bretanha e à Irlanda. O carácter destes países é também estrategicamente importante porque contamos com aliados criativos, capazes, confiantes e democráticos para estabelecer condições de estabilidade e segurança. Queremos trabalhar com países alinhados que querem restaurar a sua antiga grandeza.

A longo prazo, é mais do que plausível que, dentro de algumas décadas, no máximo, certos membros da NATO se tornem maioritariamente não europeus. Assim, é uma questão em aberto se verão o seu lugar no mundo, ou a sua aliança com os Estados Unidos, da mesma forma que aqueles que assinaram a carta da NATO.

A nossa política geral para a Europa deve dar prioridade:

• Restabelecer condições de estabilidade na Europa e estabilidade estratégica com a Rússia;
 • Permitir que a Europa se mantenha de pé por si própria e opere como um grupo de nações soberanas alinhadas, incluindo assumindo a responsabilidade principal pela sua própria defesa, sem ser dominada por qualquer potência adversária;
 • Cultivar resistência à trajetória atual da Europa dentro das nações europeias; 
• Abrir os mercados europeus aos bens e serviços dos EUA e garantir um tratamento justo dos trabalhadores e empresas norte-americanas; 
• Fortalecer as nações saudáveis da Europa Central, Oriental e do Sul através de laços comerciais, venda de armas, colaboração política e intercâmbios culturais e educativos; 
• Acabar com a perceção e impedir a realidade da NATO como uma aliança em constante expansão; e
 • Incentivar a Europa a agir para combater a sobrecapacidade mercantilista, o roubo tecnológico, a ciberespionagem e outras práticas económicas hostis.»

(Continua)

09/12/2025

Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa (79)

Continuação das Crónicas: «da anunciada avaria irreparável da geringonça», «da avaria que a geringonça está a infligir ao País» e «da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa» e do «Semanário de Bordo da Nau Catrineta». Outras Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa.

No Estado sucial não há conflito de interesses. Há interesses em conflito.

Anos depois dos factos e graças a uma justiça delatora que transmite aos jornalistas amigos a parte do resultado das investigações em curso que mais interessa à corporação de juízes, veio agora a conhecer-se mais um episódio da novela Influencer em que o Dr. Lacerda Machado, o melhor amigo do Dr. Costa, lhe levou as queixas da Drª. Isabel dos Santos sobre o governador do BdeP que a queria fora da administração do BIC.

O resultado de oito anos de governo socialista é pior do que se pensava

Como aqui explica Óscar Afonso, economista e director da Faculdade de Economia da UP, feita a correcção da população residente com os 321,5 mil imigrantes, número que só recentemente a AIMA divulgou, os indicadores de nível de vida (e de produtividade) e a posição relativa da economia portuguesa na UE pioram.

Mais um episódio dedicado à Dielmar da novela das intervenções socialistas em empresas

O Grupo Valérius, a quem um governo socialista pagou em 2024 sete milhões de euros do PRR «para revitalizar a operação e sustentar a atividade produtiva» da Dielmar, anunciou ir fazer um despedimento colectivo. Para quem não se lembre dos detalhes desta incursão “empresarial” do Dr. Costa, remeto para este ponto de situação de 2022.

A falta de memória dos apparatchiks socialista só é ultrapassada pela falta de vergonha

Referindo-se à tímida reforma da lei laboral que o Dr. Montenegro pretender aprovar, o Dr. Miguel Cabrita, deputado socialista e antigo secretário de Estado Adjunto do Trabalho considerou-a «muito parecida com a da troika», esquecendo-se de que o memorando da troika foi assinado pelo primeiro ministro socialista de então, como condição para desbloquear os empréstimos tornados indispensáveis para salvar o Estado sucial da bancarrota a que a gestão socialista o levara (ver aqui um retrato gráfico da tesouraria).

08/12/2025

Anti-drug rethoric

The Washington Post

A economia do pastel de nata tem o melhor desempenho este ano?

Which economy did best in 2025?
*Excluding Chile and Costa Rica
†Share of product categories with an annual price increase of more than 2%
‡Or latest available
§National stockmarket indices, October 2025
Sources: Bureau of Labour Statistics; Central Statistics Office; Eurostat; Féidhlim McGowan; OECD; The Economist
Antes de embandeirarmos em arco com a economia portuguesa no topo do ranking da Economist dos membros da OCDE, atentemos no seguinte:
  • Estes resultados traduzem o desempenho medido pelos referidos 5 indicadores; se fossem outros os indicadores, os resultados seriam diferentes;
  • Por exemplo, se fosse considerada a produtividade do trabalho (que diminuiu visto o emprego ter aumentado 2,8% e o PIB apenas 2,4%) ou o PIB per capita PPC (que diminuiu porque o PIB aumentou 2,4%  e a população residente aumentou mais de 3% com cerca de 321 mil estrangeiros que não constavam das estatísticas), a economia portuguesa cairia para a metade inferior da tabela; (*)
  • Alguns indicadores beneficiam da comparação com valores excepcionais no ano de 2024: a capitalização bolsista em 2024 tinha caído cerca de 16% e o PSI 0,3%; o aumento do emprego resultou do aumento do número de imigrantes que entraram no mercado de trabalho;
  • Por último, o desempenho passado (e neste caso o desempenho de apenas um ano) não garante o desempenho futuro e esgotados os dinheiros da bazuca, estancada a entrada de imigrantes e reduzidos os fluxos turísticos, o futuro não é radioso.
(*) Acrescentei neste parágrafo as explicações entre parênteses.

Crónica da passagem de um governo (27)

Outras Crónicas do Governo de Passagem

Navegando à bolina
Deus quer, o homem sonha, a obra nasce

O governo aprovou a Agenda Nacional de Inteligência Artificial, o Pacto de Competências Digitais e actualizou a Estratégia Digital Nacional, três programas «relevantes em matéria de digitalização do país», com «dezenas ou centenas de medidas», programas que, segundo o incontornável ministro da Reforma do Estado, produzirão um aumento da produtividade do qual resultará um acréscimo de 2,7 pontos percentuais no crescimento da economia portuguesa.

O Dr. Matias acrescentou ainda que, ao contrário das interpretações maliciosas, como a deste blogue, que concluíram que ele era um grande lírico quando disse na “Exponoivos para start-ups” que Portugal «tem todas as condições para se tornar um líder mundial na IA», ele agora esclareceu que isso «não significa que Portugal se vá substituir aos EUA e à China». Imaginem o suspiro de alívio do Sr. Donaldo e do Sr. Jinping.

Na competitividade o Portugal dos Pequeninos não está mal, salvo no que mais interessa

mais liberdade

Temos infraestruturas (pagas pelas contribuintes europeus), emitimos muitos certificados de habilitações, o que nos trama é a Produtividade e Eficiência, as Práticas de Gestão, a Mão-de-Obra e a Eficiência Financeira – não se pode ser bom em tudo.

Não tenho a certeza de que o défice de novas habitações seja resolvido. Ainda assim, antes isso que mais do mesmo

Qualquer alma que queira construir habitações em Portugal já ficaria satisfeita se os seus projectos fossem aprovados em 3 meses ou, vá lá, em 8 meses. Uma obra poder iniciar-se oito dias depois da entrega do projecto na câmara é coisa mais próxima de um milagre de todas as medidas tomadas por todos os governos desde Dom Afonso Henriques – se esquecermos que fica nas mãos da burocracia camarária obrigar a alterar o projecto a meio da obra.

Do mesmo modo, a redução do IRS para 10% em todos os arrendamentos até 2.300€, isto é, para quase 100% dos arrendamentos, certamente fará a felicidade de todos os senhorios. Já não é tão certo que essa medida contribua significativamente para aumentar a oferta num país em que um sexto das rendas estão congeladas e um em cada doze não ultrapassam os 100 euros, sem esquecer o facto de se manter o AIMI, ou “imposto Mortágua”.

Os portugueses «vão ter razões para confiar no SNS»

Provavelmente, a menos que ocorra um milagre, o défice do SNS vai ultrapassar o recorde do ano passado, o que não impede que as urgências façam esperar os doentes urgentes mais de 13 horas no Hospital Amadora-Sintra, um hospital que já foi uma PPP com indicadores de qualidade claramente acima da média até ser revertido pelo governo do Eng. Sócrates.

Canários na mina de carvão

As exportações que alcançaram em 2022 um máximo de 49,5% do PIB, desceram para 46,6% em 2024 e no primeiro semestre deste ano para 44,4%.

Ferrovia 2020 2030

Para não destoar do governo do Dr. Costa que deixou o Ferrovia 2020 com 37 mil dias de atraso no total dos troços, o governo do Dr. Montenegro deixou a modernização, requalificação e electrificação da linha ferroviária Casa Branca-Beja atrasar o suficiente para o programa levar um corte no financiamento pelos contribuintes europeus.

07/12/2025

Dúvidas (363) – Quem é realmente Alexis Tsipras? (4)

[Continuação de (1), (2) e (3)]

Alexis Tsipras foi o líder do Syriza, um partido esquerdista grego e primeiro-ministro entre 2015 e 2019 que foi evoluindo do esquerdismo infantil para a social-democracia colorida, como se evidencia nos posts anteriores.

Yanis Varoufakis é um lunático, esquerdista e pedante de uma vaidade doentia, a propósito de que se escreveram no (Im)pertinências vários posts (como este, aquele ou aqueloutro), que foi ministro das Finanças dos governos de Tsipras.

Mais um exemplo do caminho que Tsipras percorre do obscurantismo esquerdista para a luz da racionalidade é o relato que faz num livro a publicar em breve sobre a sua experiência de 2015-2019, que a respeito de Varoufakis o Guardian classifica como «um dos maiores assassinatos de carácter da memória grega moderna» e que me pareceria melhor classificado como uma autópsia à falta de carácter de Varoufakis.

06/12/2025

DEIXAR DE DAR GRAXA PARA MUDAR DE VIDA: Encalhados na contemplação fantasiosa do umbigo

«Os Portugueses vivem em permanente representação, tão obsessivo é neles o sentimento de fragilidade íntima inconsciente e a correspondente vontade de a compensar com o desejo de fazer boa figura, a título pessoal ou colectivo. A reserva e a modéstia que parecem constituir a nossa segunda natureza escondem na maioria de nós uma vontade de exibição que toca as raias da paranoia, exibição trágica, não aquela desinibida que é característica de sociedades em que o abismo entre o que se é e o que se deve parecer não atinge o grau patológico que existe entre nós».

Como introdução ao texto seguinte de Óscar Afonso, um lúcido retrato por Eduardo Lourenço, um dos poucos que compreendeu e teve a coragem de dissecar a "alma" portuguesa moldada por elites merdosas que fingem venerar o povo para darem graxa a si próprias.

À laia de incentivo à leitura integral um excerto de «Portugal engana-se. Diverge, empobrece e finge crescer», um artigo corajoso e contra a corrente de Óscar Afonso:

«Uns investiram para criar futuro, nós desperdiçámos para preservar um sistema. Em suma, enquanto as economias de leste aproveitaram os fundos para convergir, Portugal continua a avançar aos solavancos, preso a um modelo que favorece a esperteza oportunista em detrimento do mérito, do trabalho sério e da inteligência criadora.

Somos um país onde demasiadas portas se abrem não pelo que se sabe ou pelo que se faz, mas por quem se conhece — um padrão que os nossos maiores escritores denunciaram, com uma precisão quase profética, muito antes de existir a UE. E assim, geração após geração, mantemo-nos reféns dos mesmos bloqueios estruturais, enquanto outros que começaram muito atrás já vão muito à frente. (...)

Aquilo que os números oficiais parecem contar como progresso é, na verdade, uma grande ilusão: Portugal continua a divergir da Europa, a empobrecer em termos relativos e a expulsar os seus melhores, enquanto a narrativa política insiste em proclamar sucessos que a realidade desmente.

Entre a ficção estatística que nos faz parecer mais ricos do que somos, a estagnação estrutural que impede qualquer salto de produtividade e a má moeda que continua a afastar a boa, o país transforma um surto conjuntural de crescimento num autoengano confortável, mas perigoso. É este o pano de fundo da análise que se segue: a verdade proibida sobre um país que finge crescer enquanto afunda, que se engana a si próprio e que esconde, atrás de dados polidos, um processo silencioso de declínio, divergência e desperdício de talento.» 

05/12/2025

TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: "Quando a América actua às ordens de Putin"

«O comportamento americano é verdadeiramente assombroso. Revela uma América controlada por aqueles “homens-massa” de que falava Ortega y Gasset, homens sem valores, sem um dentro, incapazes de reconhecerem algo maior do que eles. E por isso dividida contra si mesma, moralmente deslocada do seu antigo eixo, incapaz de reconhecer o sentido profundo da sua própria posição histórica. É uma nação que, num só gesto, dispara sobre os próprios pés e abdica da posição de núcleo da Civilização Ocidental, para se converter, sem transição, em administradora dos interesses de Moscovo. Os inimigos do Ocidente não poderiam sonhar com um enredo mais providencial.

No centro deste processo surgem as figuras de Trump e Witkoff, homens cujas biografias se entrelaçam com interesses russos e que ora aparecem, não como figuras ao serviço da sua pátria, mas como conselheiros oficiosos do Kremlin, indicando a um adversário declarado dos Estados Unidos o caminho mais eficaz para alcançar os seus desígnios. Não se trata de diplomacia, mas talvez de algo mais grave: uma deserção interior, uma traição da própria ideia de responsabilidade pública.

E enquanto isto se desenrola, o Partido Republicano mergulha na discórdia. Vance inclina-se para Moscovo com a naturalidade de quem perdeu o sentido da circunstância; Rubio tenta preservar um último vestígio de racionalidade; e outros senadores levantam a voz, conscientes de que a Administração Trump se tornou uma autêntica correia de transmissão das ambições russas. E só isso explica que o plano americano coincida, ponto por ponto, com as exigências acumuladas pelo Kremlin ao longo de anos.

É o drama clássico das nações que perderam o seu propósito: acabam a servir o projecto de outros.

Nada neste “processo de paz”, tem a ver com qualquer desejo de paz por parte de Rússia que, de resto, seria fácil de alcançar, bastando retirar-se de território alheio, coisa que pode fazer quando quiser.

Toda esta encenação foi “maskirovka”. Manipulação de percepções, fumo e espelhos. O objectivo real de Putin (e pelos vistos de Witkoff e Trump) era outro: matar no útero o projecto bipartidário no Senado americano, capaz de impor sanções verdadeiramente devastadoras à economia russa.

Lamentavelmente conseguiu.

A pergunta deixa, pois, de ser polémica e passa a ser inevitável: quem e porquê está realmente a determinar a estratégia americana?

A Europa, em choque, conseguiu suavizar o indecoroso ultimato americano, rasurou os pontos mais humilhantes e impediu que o documento final fosse uma mera acta de rendição.

Tudo para que no dia seguinte, os EUA fizessem saber (?) que têm intenções de reconhecer os ganhos territoriais russos.

Ou seja, a intervenção europeia não altera o essencial: a ordem internacional baseada em regras, deixou de existir, a NATO está em coma, o divórcio transatlântico parece iminente, e a Europa está hoje no papel de quem por temer lutar, se vê na condição servil de ter de aceitar o diktat dos outros.

Neste ocaso do Ocidente, Kiev, tornou-se tragicamente, o campo de batalha onde colidem dois mundos. Aquele que ainda acredita vagamente em regras e um outro para o qual só existe a força.

E se o divórcio entre os parceiros da Civilização Ocidental se consolidar, só esta perderá.  Ou seja, nós!

Os EUA caminham para um futuro amargo. Isolados na sua ilha, sem aliados, uma entidade política amoral, cujos compromissos valem o mesmo que os da Rússia: nada!

Putin continuará, triunfante, a testar fronteiras, a explorar divisões, a aproveitar cada hesitação, para caminhar paulatinamente em direcção ao seu almejado “Império Euroasiático”

A China observa. Toma notas. Cada concessão feita a Moscovo transforma-se numa lição sobre Taiwan. O choque com a Rússia será inevitável, mas até lá ainda vai algum tempo.

Os restantes países extraem a única conclusão possível: na selva hobbesiana, sem armas nucleares, sem garantias credíveis, haverá sempre alguém disposto a rifar o nosso território quando lhe apetecer.»

José António Rodrigues do Carmo no Observador

03/12/2025

Europeans have been warned. Beware.

«We are not planning to go to war against Europe. I have said that a hundred times. But if Europe wants to wage a war against us and suddenly starts a war with us, we are ready. There should be no doubt about that. The only question is if Europe suddenly starts a war against us, I think very quickly… Europe is not Ukraine. In Ukraine, we are acting with surgical precision. You see my point, don’t you? It is not a war in the direct, modern sense of the word. If Europe suddenly decides to go to war against us and actually follows through with it, then a situation may arise very quickly where we will be left with no one to negotiate with.»

Vladimir Putin at a press conference yesterday in Moscow


In theory, the Russian Empire, a great power with the second-largest army in the world, that failed to successfully invade a country with less than a third of its population and less than a fifth of its armed forces, an Empire with an economy smaller than Italy's, would have no chance of defeating the EU. In practice, a dictatorship, where there is no such thing as freedom of expression or public opinion, ruled by a despot with a price on his head, represents an existential threat to a collection of states managed by Eurocrats who are only risking their jobs.

02/12/2025

Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa (78)

Continuação das Crónicas: «da anunciada avaria irreparável da geringonça», «da avaria que a geringonça está a infligir ao País» e «da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa» e do «Semanário de Bordo da Nau Catrineta». Outras Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa.

A obra empresarial socialista

Em boa verdade, a responsabilidade pela persistência do sector empresarial do Estado (SEE) e pelas perdas pantagruélicas, que acabam a ser pagas pelos contribuintes, não é exclusivamente socialista. O PSD, ou mais exactamente a fracção PS-D, partilha essas responsabilidades, mais pelas omissões do que pelas acções. Ainda assim, devemos assacar ao PS a maior quota de responsabilidade, quer por mais anos que governou quer, sobretudo, pela promoção activa do papel do Estado na economia.

O estudo “Sector Empresarial do Estado e Regional 2023-2024” do Conselho das Finanças Públicas traça um retrato arrasador do SEE. Só 36 empresas das 88 analisadas tiveram resultados positivos. No total o SEE ocupa quase 190 mil trabalhadores (quase 4% da população activa). De 2023 para 2024 o volume de negócios e o investimento cresceram e o prejuízo total aumentou de -766 milhões para -1.312 milhões e o número de empresas com capitais próprios negativos (o que de acordo com o Código das Sociedades faria delas empresas falidas) aumentou de 29 para 35. O caso das entidades do SNS é particularmente grave. Mais de 70 dessas entidades tinham capitais próprios negativos em 2024. Pior é difícil.

O PS apagou as “linhas vermelhas” que o separam do partido do Dr. Ventura?

Os dois partidos chumbaram uma actualização de menos de 2% das propinas do ensino universitário. Possivelmente não perceberam que isso não ajuda o alunos pobres que merecem ser ajudados, os quais deveriam ser parcialmente ou totalmente dispensados de propinas e/ou terem bolsas. Isso significa que terá de aumentar o financiamento das universidades pelo Estado à custa dos impostos pagos de todas as famílias, mesmo pelas que não têm estudantes universitários. E esses impostos para substituir o aumento das propinas representam uma fracção maior precisamente nas famílias de menores rendimentos,

Como se fosse pouco, os dois partidos aprovaram a eliminação de portagens de onde terão de ser aumentadas as compensações aos concessionários, uma vez mais pagas com impostos regressivos e também por quem não utiliza essas portagens.

01/12/2025

Crónica da passagem de um governo (26)

Outras Crónicas do Governo de Passagem

Navegando à bolina
Será o Dr. Matias um metafísico?

A dúvida resulta de ao ler a entrevista do Dr. Matias ao Jornal Sol em que ele, sem explicar como, garante que «o potencial impacto da reforma do Estado na economia é de cerca de 10 mil milhões de euros», e confirma, uma vez mais, que «a reforma do Estado não é para fazer cortes», me ter ocorrido uma citação cujo autor se perdeu no meu cansado hipocampo «A metafísica!... Num deserto de ideias, um dilúvio de palavras».

Partilho, por isso, com Luís Marques «a dificuldade de explicar o efeito que o exercício do poder exerce no cérebro de pessoas inteligentes, bem preparadas e aparentemente sensatas, oriundas da chamada sociedade civil» e o conselho de «deixar para Marcelo o monopólio do “somos o melhor povo do mundo”, estamos “entre os melhores do mundo”, ou de qualquer coisa que se faça “estar entre o melhor que se faz no mundo”».

Canários na mina de carvão

[Como já escrevi, nas minas de carvão usavam-se canários que são muito sensíveis ao monóxido de carbono e ao metano para alertar os mineiros de um perigo iminente.]

O número de trabalhadores em “lay-off”, um regime legal a que as empresas podem recorrer em determinadas circunstâncias de dificuldades, aumentou 22% em Outubro.

O governo queixa-se dele próprio

O presidente do IAPMEI justifica o atraso na execução do PRR (a bazuca do Dr. Costa) e confessa-se preocupado «com o licenciamento de alguns projetos», licenciamente que, como é sabido, depende do governo.

Hoje há conquilhas, amanhã não sabemos, nem queremos saber

Segundo a Comissão Europeia o OE2026 português é o quinto mais expansionista da UE, ou seja, é o quinto com mais fé que a economia cresce com o governo a torrar mais dinheiro dos contribuintes europeus através da bazuca. É claro que a economia cresce quando se despeja dinheiro nas empresas e nas famílias, o problema é onde o dinheiro se aplica e qual o efeito sustentado a longo prazo.

Fazer a mesma coisa e esperar resultados diferentes pode mostrar fé, mas não mostra clarividência

Em resultado dos incentivos que o governo adoptou, o montante do crédito concedido para compra de habitação até Agosto aumentou 15% ultrapassando 18 mil milhões de euros. Como o número de novas habitações continua insuficiente para a procura, ninguém se deveria admirar que os preços por m2 tenham aumentado em Outubro 17,7% face ao mesmo mês de 2024.

Os portugueses «vão ter razões para confiar no SNS»

mais liberdade

Este é o resultado de anos de governação socialista sob os lemas «Em defesa do SNS, sempre» e «O SNS é um tesouro», um SNS cada vez mais capturado pelas corporações, a começar pelos médicos que têm conseguido limitar a oferta de cursos de medicina e usar as cirurgias adicionas e outros expedientes, como atribuir ao cirurgião a classificação do grau de complexidade da intervenção o que leva a remoção de um quisto sebáceo seja classificada como o incentivo máximo (fonte). A saúde privada agradece, ou, se quiserem, os melhores amigos da iniciativa privada são os defensores da expansão do Estado sucial.