«Os Portugueses vivem em permanente representação, tão obsessivo é neles o sentimento de fragilidade íntima inconsciente e a correspondente vontade de a compensar com o desejo de fazer boa figura, a título pessoal ou colectivo. A reserva e a modéstia que parecem constituir a nossa segunda natureza escondem na maioria de nós uma vontade de exibição que toca as raias da paranoia, exibição trágica, não aquela desinibida que é característica de sociedades em que o abismo entre o que se é e o que se deve parecer não atinge o grau patológico que existe entre nós».
Como introdução ao texto seguinte de Óscar Afonso, um lúcido retrato por Eduardo Lourenço, um dos poucos que compreendeu e teve a coragem de dissecar a "alma" portuguesa moldada por elites merdosas que fingem venerar o povo para darem graxa a si próprias.
À laia de incentivo à leitura integral um excerto de «Portugal engana-se. Diverge, empobrece e finge crescer», um artigo corajoso e contra a corrente de Óscar Afonso:
«Uns investiram para criar futuro, nós desperdiçámos para preservar um sistema. Em suma, enquanto as economias de leste aproveitaram os fundos para convergir, Portugal continua a avançar aos solavancos, preso a um modelo que favorece a esperteza oportunista em detrimento do mérito, do trabalho sério e da inteligência criadora.
Somos um país onde demasiadas portas se abrem não pelo que se sabe ou pelo que se faz, mas por quem se conhece — um padrão que os nossos maiores escritores denunciaram, com uma precisão quase profética, muito antes de existir UE. E assim, geração após geração, mantemo-nos reféns dos mesmos bloqueios estruturais, enquanto outros que começaram muito atrás já vão muito à frente. (...)
Aquilo que os números oficiais parecem contar como progresso é, na verdade, uma grande ilusão: Portugal continua a divergir da Europa, a empobrecer em termos relativos e a expulsar os seus melhores, enquanto a narrativa política insiste em proclamar sucessos que a realidade desmente.
Entre a ficção estatística que nos faz parecer mais ricos do que somos, a estagnação estrutural que impede qualquer salto de produtividade e a má moeda que continua a afastar a boa, o país transforma um surto conjuntural de crescimento num autoengano confortável, mas perigoso. É este o pano de fundo da análise que se segue: a verdade proibida sobre um país que finge crescer enquanto afunda, que se engana a si próprio e que esconde, atrás de dados polidos, um processo silencioso de declínio, divergência e desperdício de talento.»
1 comentário:
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