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05/12/2025

TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: "Quando a América actua às ordens de Putin"

«O comportamento americano é verdadeiramente assombroso. Revela uma América controlada por aqueles “homens-massa” de que falava Ortega y Gasset, homens sem valores, sem um dentro, incapazes de reconhecerem algo maior do que eles. E por isso dividida contra si mesma, moralmente deslocada do seu antigo eixo, incapaz de reconhecer o sentido profundo da sua própria posição histórica. É uma nação que, num só gesto, dispara sobre os próprios pés e abdica da posição de núcleo da Civilização Ocidental, para se converter, sem transição, em administradora dos interesses de Moscovo. Os inimigos do Ocidente não poderiam sonhar com um enredo mais providencial.

No centro deste processo surgem as figuras de Trump e Witkoff, homens cujas biografias se entrelaçam com interesses russos e que ora aparecem, não como figuras ao serviço da sua pátria, mas como conselheiros oficiosos do Kremlin, indicando a um adversário declarado dos Estados Unidos o caminho mais eficaz para alcançar os seus desígnios. Não se trata de diplomacia, mas talvez de algo mais grave: uma deserção interior, uma traição da própria ideia de responsabilidade pública.

E enquanto isto se desenrola, o Partido Republicano mergulha na discórdia. Vance inclina-se para Moscovo com a naturalidade de quem perdeu o sentido da circunstância; Rubio tenta preservar um último vestígio de racionalidade; e outros senadores levantam a voz, conscientes de que a Administração Trump se tornou uma autêntica correia de transmissão das ambições russas. E só isso explica que o plano americano coincida, ponto por ponto, com as exigências acumuladas pelo Kremlin ao longo de anos.

É o drama clássico das nações que perderam o seu propósito: acabam a servir o projecto de outros.

Nada neste “processo de paz”, tem a ver com qualquer desejo de paz por parte de Rússia que, de resto, seria fácil de alcançar, bastando retirar-se de território alheio, coisa que pode fazer quando quiser.

Toda esta encenação foi “maskirovka”. Manipulação de percepções, fumo e espelhos. O objectivo real de Putin (e pelos vistos de Witkoff e Trump) era outro: matar no útero o projecto bipartidário no Senado americano, capaz de impor sanções verdadeiramente devastadoras à economia russa.

Lamentavelmente conseguiu.

A pergunta deixa, pois, de ser polémica e passa a ser inevitável: quem e porquê está realmente a determinar a estratégia americana?

A Europa, em choque, conseguiu suavizar o indecoroso ultimato americano, rasurou os pontos mais humilhantes e impediu que o documento final fosse uma mera acta de rendição.

Tudo para que no dia seguinte, os EUA fizessem saber (?) que têm intenções de reconhecer os ganhos territoriais russos.

Ou seja, a intervenção europeia não altera o essencial: a ordem internacional baseada em regras, deixou de existir, a NATO está em coma, o divórcio transatlântico parece iminente, e a Europa está hoje no papel de quem por temer lutar, se vê na condição servil de ter de aceitar o diktat dos outros.

Neste ocaso do Ocidente, Kiev, tornou-se tragicamente, o campo de batalha onde colidem dois mundos. Aquele que ainda acredita vagamente em regras e um outro para o qual só existe a força.

E se o divórcio entre os parceiros da Civilização Ocidental se consolidar, só esta perderá.  Ou seja, nós!

Os EUA caminham para um futuro amargo. Isolados na sua ilha, sem aliados, uma entidade política amoral, cujos compromissos valem o mesmo que os da Rússia: nada!

Putin continuará, triunfante, a testar fronteiras, a explorar divisões, a aproveitar cada hesitação, para caminhar paulatinamente em direcção ao seu almejado “Império Euroasiático”

A China observa. Toma notas. Cada concessão feita a Moscovo transforma-se numa lição sobre Taiwan. O choque com a Rússia será inevitável, mas até lá ainda vai algum tempo.

Os restantes países extraem a única conclusão possível: na selva hobbesiana, sem armas nucleares, sem garantias credíveis, haverá sempre alguém disposto a rifar o nosso território quando lhe apetecer.»

José António Rodrigues do Carmo no Observador

3 comentários:

Luís Lavoura disse...

Os EUA não atuam às ordens de Putin: os EUA simplesmente reconhecem a realidade no terreno, isto é, no campo de batalha e nas fábricas de armamento. E a realidade é muito simples: a Ucrânia perdeu a guerra.

Anónimo disse...

Mas os russos já entraram em Kiev...??

mensagensnanett disse...

UM CASE-STUDY DA LADROAGEM-500
{os registos na internet vão possibilitar esse case-study}
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A ladroagem espertalhona ucraniana usou a ditadura dos sovietes para abocanhar regiões da Rússia.
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Com o FIM da ditadura dos sovietes, muitos russófonos das regiões em causa reivindicam o legítimo direito de regressar à Rússia.
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A ladroagem espertalhona ucraniana, para além de massacrar russófonos das regiões em causa..., começou a vender riquezas dessas regiões a 'construtores de caravelas' (Blackrock, e outros...).
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A ladroagem-500 (possuem um currículo de 500 anos: vulgo Ocidentalismo Mainstream) vangloriam-se da sua esperteza Sun Tsu (Merkel, Holland, etc).