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31/12/2025

Dúvidas (364) - Será indiferente a composição da balança comercial?

Quem pensa que o défice na balança de bens portuguesa é indiferente se for compensado por um superavit da balança de serviços, é melhor pensar outra vez.

Saldo da Balança de Bens (fonte Pordata)

O défice da balança de bens portuguesa é o quinto mais elevado da UE em valor e o terceiro mais elevado em percentagem do PIB. No período 2012-2016, os défices menos elevados resultaram da redução das importações devida à "austeridade" que se seguiu à bancarrota do governo socialista do Eng. Sócrates.

Vejamos o que se passou no mesmo período na Balança de Serviços.

Saldo da Balança de Serviços (fonte Pordata)

O superavit da balança de serviços portuguesa é o quinto mais elevado da UE e o terceiro mais elevado em percentagem do PIB. Como resulta evidente da comparação dos dois gráficos, nos últimos anos é o superavit da balança de serviços que tem compensado o défice da balança de bens. Poderá continuar a fazê-lo no futuro?

Saldo da Balança de Viagens e Turismo (fonte Pordata)

A dúvida sobre a sustentabilidade deste modelo surge desde logo quando se decompõe a balança de serviços e se constata que quase 70% do superavit se deve ao saldo de Viagens e Turismo, saldo que em valor é o terceiro mais elevado da UE e o segundo em percentagem do PIB.

Saldo da Balança de Bens e Serviços (fonte Pordata)

Por isso, a redução de uns meros 30% do saldo de Viagens e Turismo faria a balança comercial entrar em défice. Tendo em conta que a capacidade turística de Portugal é limitada e considerando a inerente volatilidade dos fluxos turísticos, teremos de concluir que, sobretudo numa conjuntura internacional instável como a que vivemos, não é negligenciável o risco de emagrecerem as vacas gordas do turismo e voltarmos aos défices estruturais da balança comercial que, como se pode ver no gráfico acima, se mantiveram até 2013.

Adicionalmente ao risco da volatilidade inerente ao turismo, do seu peso excessivo na economia resulta o aumento do emprego pouco qualificado que não contribui para aumentar a produtividade do trabalho cronicamente baixa.

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