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27/08/2024

BREIQUINGUE NIUZ: Eleitores capazes de ouvir más notícias elegem políticos capazes de as dar

«I will be honest with you, there is a Budget coming in October and it's going to be painful.

Just as when I responded to the riots, I'll have to turn to the country and make big asks of you as well to accept short term pain for long term good. The difficult trade-off for the genuine solution.

Those with the broadest shoulders should bear the heavier burden, and that’s why we’re cracking down on non-doms.

Who made the mess should have to do their bit to clean it up.»

We have to get away from this idea that the only levers that can be pulled are more taxes, or more spending. Our number one mission is to grow the economy.»

Estas foram algumas das coisas que Keir Starmer, o primeiro-ministro inglês, disse esta manhã no Downing Street Rose Garden aos eleitores.

No Portugal dos Pequeninos não há políticos capazes de dizer coisas como estas a um eleitorado infantilizado porque os eleitores são incapazes de as ouvir e por isso elegem políticos incapazes de as dizer.

3 comentários:

Jorge disse...

Acabar com as ajudas custo energia no inverno aos mais carenciados, o contrário do que prometeu na campanha? É isso ?

Impertinente disse...

Caro Senhor.
Creio que está enganado. O que o governo tinha anunciado não foi cortar as ajudas aos mais carenciados, foi cortar aos mais abonados. Veja esta notícia: https://www.theguardian.com/politics/article/2024/jul/29/reeves-moves-fast-to-tackle-22bn-budget-shortfall-covered-up-by-tories
Em qualquer caso, mesmo os cortes aos mais abonados estão neste momento em discussão. Veja esta notícia: https://www.theguardian.com/business/article/2024/aug/28/ministers-to-help-households-with-energy-bills-amid-warnings-consumer-debt-has-hit-32bn.
Seja como, for os recursos não são infinitos e os governos não criam riqueza limitam-se a tirar de uns bolsos para colocar noutros. As soluções devem passar por criar condições para a economia crescer como Starmer diz, e bem.

Afonso de Portugal disse...

Eu bem não queria voltar a bater no ceguinho, mas esta é mais uma posta difícil de compreender. Exceptuando a última frase, não há nada no discurso do primeiro-ministro britânico que seja substancialmente diferente do que dizem os nossos pulhíticos.

No terceiro parágrafo, por exemplo, o Starmer, que foi eleito recentemente e por isso tem pouco a temer, sugere que vai aumentar os impostos para os cidadãos que auferem rendimentos fora do Reino Unido (’non-doms’). Em que é que isto difere da Esquerda portuguesa? Em que é que isto se distingue da conversa do “ir buscar a quem está a acumular” da Mariana Mortágua?

A quinta e última frase transcrita pelo (Im)Pertinente contradiz a segunda e a terceira frases. Não é coerente falar em não aumentar os impostos depois de se dizer que se vai aumentar os impostos para “aqueles com os ombros mais largos”.

Mas há mais: o (Im)Pertinente não mencionou o contexto em que o Starmer proferiu a última frase. Foi na sequência de uma pergunta que lhe tinha sido endereçada pela jornalista Beth Rigby, da Sky News, a apontar as contradições no discurso do Starmer: ele tinha prometido não aumentar os impostos durante a campanha eleitoral, mas agora estava a dizer que, afinal, o iria fazer. Confrontado com esta contradição, o Starmer respondeu de uma forma completamente sonsa, dizendo que não iria aumentar os impostos da “classe trabalhadora” (mas não das outras “classes”, implicitamente) e saiu-se com essa tirada das “only levers that can be pulled”, quando ele afinal tenciona mesmo accioná-las.

Quem duvidar, só tem de ver o discurso. Aqui fica o link:

https://www.youtube.com/watch?v=k2jzhCT8jpw

A parte relevante ocorre aos 25 minutos e 13 segundos.

Por cá, tanto o Costa como o Medina também disseram várias vezes que iriam promover o crescimento da economia. Não há nada de louvável nesse discurso, sobretudo se ele não for acompanhado pela enumeração das medidas concretas que, supostamente, levarão a que a economia cresça. E o Starmer, para já, ainda não apresentou nada que se veja.

O que eu não percebo, muito sinceramente, é como é que o (Im)Pertinente, que é geralmente clarividente em relação aos políticos de Esquerda portugueses, fica tão ceguinho e babado em relação aos políticos de Esquerda estrangeiros…