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27/09/2020

Dúvidas (287) – Irá o Brexit consumar-se? (XIX) - Done? Undone yet!

O último post desta série tinha no título «Done» e o título deste oito meses depois é um exemplo de que o futuro é geralmente difícil de prever, salvo no caso da Rússia em que o passado é ainda mais imprevisível do que o futuro.

Porque está o Brexit a falhar em toda a linha, ao ponto do governo de BoJo propor ao parlamento uma violação do tratado que assinou em Janeiro com a UE?  Certamente porque uma reforma desta magnitude está a ser conduzida como uma questão eleitoral. Em primeiro lugar, porque o referendo convocado por Cameron foi um expediente para evitar perder as eleições para o UK Independence Party de Nigel Farage. Em segundo lugar, porque a campanha pelo Brexit foi promovida por todos os partidos com mentiras e meias verdades e os eleitores, nomeadamente os restos da classe operária que rejeitaram o esquerdismo de Corbyn, votaram no Brexit proposto pelos conservadores com base em premissas falaciosas. Em terceiro lugar, porque um referendo sobre uma questão complexa como esta é de legitimidade duvidosa porque a maioria dos eleitores não tem a informação fiável indispensável nem condições para avaliar as alternativas - é por isso que a democracia liberal assenta na representação e existem os parlamentos.

No passado, as grandes reformas no Reino Unido foram longamente discutidas e preparadas. As reformas mais importantes envolveram trabalhistas e conservadores durante décadas que recorreram intensamente uma instituição tipicamente britânica - o think-tank. A criação do Estado Social pelos trabalhistas no pós-guerra conduzida pelo governo trabalhista de Clement Attlee foi uma ideia e um projecto amadurecido entre as duas guerras. O beco sem saída do Estado Social trabalhista abriu a oportunidade à reforma conduzida pelo governo de Margaret Thatcher que adoptou as políticas liberais inspiradas por Friedrich Hayek e propostas pelo Centre for Policy Studies. Nada disto se passou, está a passar ou improvavelmente se passará no caso do Brexit onde o debate está sufocado pela demagogia. Não vai acabar bem e o Partido Conservador vai ser o primeiro a pagar a factura. Talvez então Boris Johnson perceba que está tão longe de ser Winston Churchill como Theresa May de ter sido Margaret Thatcher.

2 comentários:

Anónimo disse...

Estimados,
Como 'faz parte' de mim, digo-o a todos e naturalmente que já vos escrevi:
A Rússia e a Inglaterra são as nações que mais sabem de política no Mundo — a China tem usado a manha de outras músicas sempre.

— Comme un homme politique ne croit jamais ce qu'il dit, il est étonné quand il est cru sur parole.
— Politics is not the art of the possible. It consists in choosing between the disastrous and the unpalatable.
— Politics is the art of preventing people from taking part in affairs which properly concern them.
— It has been said that politics is the second oldest profession. I have learned that it bears a striking resemblance to the first.
— A politician needs the ability to foretell what is going to happen tomorrow, next week, next month, and next year. And to have the ability afterwards to explain why it didn't happen.
— A politician divides mankind into two classes: tools and enemies.
Political language (...) is designed to make lies sound truthful and murder respectable, and to give an appearance of solidity to pure wind.

Deixem para lá os bretões pois sabem muito mais que vós e eu.

Abraço de estima

bb disse...

👏👏