Mais tarde, tive oportunidade de conhecer o modelo 5-D de Geert Hofstede, bastamente citado no (Im)pertinências (por exemplo aqui), e constatar que os portugueses são entre os países estudados por Hofstede um dos povos menos individualistas ou, para dizer o mesmo por outras palavras, um dos povos mais colectivistas em todo o mundo.
Colectivismo que explica imensa coisa, a começar pelo desvelo pelo Estado e a continuar pelo pendor esquerdizante que ainda hoje alimenta instituições bizarras já extintas em outros países como o Partido Comunista, como também dá pasto a agremiações pós-modernas do politicamente correcto, como o Bloco de Esquerda, a que, por paródia, aqui chamamos frequentemente de Berloque de Esquerda.
Um exemplo em curso deste comportamento de manada é a indignação obsessiva (a manada é sempre obsessiva) e a condenação violenta do juiz Neto Moura por ter produzido uns acórdãos que a polícia de costumes da esquerdalhada, potenciada pelo megafone do jornalismo de causas, condenou com violência, chegando em certos casos ao insulto como o rolo de papel que Ricardo Araújo Pereira, um conhecido humorista também de causas, sugeriu fosse introduzido no ânus do juiz ou o jogo escatológico que apresentou no seu programa de televisão.
Leiam-se com a devida distância as partes mais polémicas desses acórdãos, como por exemplo as seguintes citadas pela Visão:
«O adultério da mulher é uma conduta que a sociedade sempre condenou e condena fortemente (e são as mulheres honestas as primeiras a estigmatizar as adúlteras) (e por isso a dita sociedade) vê com alguma compreensão a violência exercida pelo homem traído, vexado e humilhado pela mulher».Repare-se que sendo certo que se pode reconhecer no autor uma mente um tanto atormentada por um passado de seminarista e comunista, por esta ordem, não é menos certo que também, se aumentarmos a distância, é possível vislumbrar uma vocação perdida de sociólogo, profissão que, se prosseguida, o teria protegido da manada esquerdista, ainda que dissesse alarvidades como as do professor doutor Boaventura de Sousa Santos.
Pois não é verdade que os preconceitos atribuídos pelo juiz Neto Moura à sociedade são partilhados por grande número de portugueses e portuguesas fora do Bairro Alto ou, vá lá, de alguns bairros de Lisboa e, vá lá outra vez, também do Porto? Que disso se faça um princípio moral é outra coisa, mas não parece ser o caso da criatura que até disse à revista Visão não ser tolerante com a violência doméstica.
Postfácio: por coincidência, este post é publicado no dia de Carnaval, mas isso não o torna necessariamente numa paródia. Dependerá de quem o lê.
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