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12/03/2019

DEIXAR DE DAR GRAXA PARA MUDAR DE VIDA: A endogamia uma espécie de nepotismo nas universidades do Portugal dos Pequeninos

«Eis a primeira aberração: o número! Em Portugal há um excesso de docentes, mal justificado com um excesso de aulas (desnecessárias). Uma triste herança do PREC quando um assistente doutorado passava imediatamente a professor auxiliar da sua universidade (um direito adquirido). Sempre lutei contra a endogamia, encorajando os novos doutores a concorrerem a outras universidades. E sempre me bati - sem sucesso, devo confessar, e muitas vezes incorrendo na ira de colegas e reitores pela distinção entre concursos académicos de recrutamento e de promoção, com escolha rigorosa dos melhores. Esta forma subtil de endogamia é o cancro que afeta todas as universidades portuguesas. E é difícil de combater porque a autonomia universitária é uma ficção, e os portugueses, na generalidade, servem -se a si próprios e aos seus parentes e amigos, antes de servir as instituições onde trabalham e o seu país. (Olhem para a política, a banca, a PT que Deus tem, etc.) Para complicar ainda mais o problema, há o terrível equívoco de que o doutoramento se destina a uma carreira académica ou de investigação. O doutoramento é o treino/ aprendizagem para resolver problemas novos, a ser realizado entre os 23-30 anos. Não é um frete para acrescentar o Doutor por extenso ao nome (como acontece muitas vezes em Portugal). Abaixo os títulos no dia a dia! Acho ridículo uma pessoa de 40-50 anos querer doutorar-se. Ou já tem um bom currículo, e não vale a pena; ou não tem, e já é tarde. Por outro lado, o que se aprende com o doutoramento na altura certa serve para qualquer outra atividade. Serve para pensar - e pensar cientificamente (experimentar, estar aberto à novidade, saber refutar as próprias certezas) é útil em qualquer profissão

Excerto de «Ciência em Portugal», Jorge Calado na Revista do Expresso

Jorge Calado é um intelectual no sentido próprio da palavra, com uma imensa cultura e, tendo sido um reputado professor do IST, sabe bem do que fala quando fala do cancro da generalidade das universidades portuguesas que os patetas de serviço passam a vida a louvaminhar.

1 comentário:

Afonso de Portugal disse...

«O doutoramento é o treino/ aprendizagem para resolver problemas novos, a ser realizado entre os 23-30 anos.»

Um doutoramento? Lamento, mas isso não acontece nem aqui em Portugal nem em nenhum lugar do mundo. Os doutoramentos são usados quase exclusivamente para dar seguimento ao percurso e académico interesses de investigação dos orientadores. E não há como ser de outra forma, porque de contrário os orientadores jamais se interessariam em orientar.

Quem quiser ensinar a resolver problemas tem de ensinar mas é o método científico, algo que muito poucos docentes fazem neste país.


«Serve para pensar - e pensar cientificamente (experimentar, estar aberto à novidade, saber refutar as próprias certezas) é útil em qualquer profissão.»

Idealmente, sim. Na prática, alguns doutores são as pessoas mais dogmáticas e anticientíficas que se pode imaginar. E não me refiro apenas aos doutores das ciências humanas, há fraudes em todas as áreas de conhecimento.