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24/12/2018

Crónica da avaria que a geringonça está a infligir ao País (167) - NÚMERO ESPECIAL DE NATAL

Outras avarias da geringonça e do país.

Quereis um exemplo notável de um misto de manipulação descarada e pensamento milagroso de Costa e do seu governo? Atentai no que anuncia um governo que corta há três anos o investimento público ao ponto de comprometer o funcionamento do aparelho do Estado, um governo que deixa exangues as empresas públicas do sector de transportes e, em particular, uma CP incapaz de manter operacional uma parte do material circulante mas que quando não gosta da mensagem mata o mensageiro e não hesita em exonerar um director que põe em causa medidas que afectam a segurança.

Agora que já atentastes, lede o Expresso que, fazendo de sucedâneo do Acção Socialista em papel, anuncia na sua primeira página «Governo promete ligação Lisboa-Porto em duas horas» e dedica duas páginas a descrever o «Programa Nacional de Investimentos» para a próxima década com 20 mil milhões em grandes obras públicas, dos quais 3,5 mil milhões para a ferrovia. Tomai nota na vossa agenda e conferi por alturas do novo resgate.

Quereis um exemplo vulgar do manobrismo e da falta de transparência do PS? Atentai na oposição do grupo parlamentar socialista à divulgação do nome dos grandes credores incumpridores dos bancos que receberam ajuda do Estado, tudo por amor, dizem, ao sigilo bancário por parte de gente que aprovou a obrigação de comunicação ao fisco de movimentos de quantias superiores a 50 mil euros.

Quereis outro exemplo vulgar de nepotismo a somar à nomeação dos amigos de Costa e dos amigos dos amigos? Atentai na recusa da secretária de Estado da Administração Pública de todos os nomes propostos com base nas competências dos candidatos pela CRESAP para o cargo de director-geral da Administração e do Emprego.

Quereis um exemplo da devoção do governo socialista pela Saúde Pública que é tão grande que até
«quer acabar com a saúde dos privados»? Atentai na paralisia do sistema informático do SNS que obriga os médicos a passar a maior parte do tempo das consultas a olhar para écran e usar até 20 aplicações diferentes - a coisa fica tão complicada e o sistema tão lento que até já dispõem de uma minuta preparada pelo sindicato para recusar o atendimento por falha do sistema. Ou atentai no pesadelo da pediatria do Hospital de São João cuja solução mecenática privada de Pedro Arroja foi boicotada pelo governo.

Quereis um exemplo da devoção do governo socialista pelo apoio às startups e às empresas inovadoras? Atentai nos atrasos na avaliação e financiamento dos projectos pelo IAPMEI.

Quereis um exemplo de ética republicana do PS? Atentai na eleição para a JS de uma líder protegida do delfim que punha as perninhas dos banqueiros alemães a tremer, líder que mentiu sobre o currículo e esteve envolvida em trapalhadas com avenças da câmara de Lisboa.

Quereis um exemplo de opacidade orçamental por parte de um ministro que acumula com a presidência da Zona Euro? Atentai no desvio da receita adicional ao IMI (o imposto Mortágua) que deveria ser transferida na totalidade para o Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social e a maior parte está a ficar pelo caminho.

Quereis um exemplo da paz social que a geringonça nos traria? Atentai nas greves da função pública que este ano já são 173 duplicando contra as 87 do governo "neoliberal" em 2015. Sim, eu sei que isto é em parte consequência da estratégia comunista para tentar impedir a maioria socialista e manter como refém um Costa que se pôs a jeito com o expediente da geringonça para evitar acabar a carreira com a derrota nas eleições de 2015.

Quereis um exemplo da prioridade estratégica do governo socialista na Ciência? Atentai nos dados de 2017 da Fundação Ciência e Tecnologia que mostram ter sido a despesa em 2017 inferior à de 2016 e ainda inferior à de 2015 e até de todos os anos desde 2006.

Quereis exemplos dos amanhãs que Costa nos prometeu que iriam cantar nos próximos anos? Atentai na falta de fé dos investidores que estão a desaparecer de Lisboa, das OPV adiadas e aumentos de capital falhados. Ou atentai na falta de crença de uma criatura como Vítor Bento que aponta a instabilidade fiscal e os impostos especiais sobre lucros que estão a desincentivar o investimento, já de si miserável.


Ou ainda atentai na falta de fé do FMI que reduziu a estimativa do crescimento em 2019 para 1,8%, tal como o BdP acometido pela mesma falta de fé que o governo mantém intacto com a previsão de 2,2%.

Esta falta de fé percebe-se ainda melhor quanto os tractores que têm puxado a economia portuguesa estão a perder o gás: o PIB do G20 segundo a OCDE desacelerou de 1% para 0,8% no terceiro trimestre de 2018 e o PIB da Zona Euro crescerá apenas 1,9% em 2018 e 1,7% em 2019, segundo as previsões do BCE. Por isso, o turismo que representou 13,7% do PIB em 2017 dificilmente continuará a crescer quando a conjuntura internacional arrefecer.

Mas nem todos têm razão para estarem desapontados com as promessas de Costa. Vejam-se as benfeitorias da função pública - a freguesia eleitoral da geringonça - que o Ronaldo das Finanças enumerou no parlamento, sem esquecer os 17 dias extra de descanso que o governo lhes concedeu.

Falemos agora de algumas realizações de Costa, para além do evidente sucesso das reposições e restituições de direitos adquiridos - definidos no Glossário das Impertinências como os direitos que os seus detentores pretendem manter, essencialmente à custa dos que os não podem adquirir, por já terem sido adquiridos. Pertencem à categoria das chamadas conquistas de Abril e são as nossas vacas sagradas.

Uma das mais notáveis dessas outras realizações de Costa é o endividamento da economia que não pára de aumentar. A dívida do sector não financeiro subiu de novo em Outubro para 721,5 mil milhões, mais mil milhões do que há um ano, sobretudo devido ao aumento da dívida pública.

Quem parece não ter perdido a fé que anima Costa e, é justo dizê-lo, o entertainer que faz as vezes de PR, são os consumidores que continuam a endividar-se alegremente fazendo disparar o crédito ao consumo até Outubro para mais de 6 mil milhões com um crescimento de 12,4% em relação ao período homólogo de 2017. Como é natural, a taxa de poupança desceu outra vez para 4% do rendimento disponível no 3.º trimestre (menos 0,5 pontos percentuais do que o trimestre anterior), por muito que o governador do BdP se inquiete pelo endividamento das famílias ser uma vulnerabilidade da economia - ó Doutor Carlos Costa vá lá dizer isso aos keynesianos da Mouse School of Economics que, segundo uma impertinência do Impertinente, só aplicam o hemisfério direito na leitura do John Maynard.

Por estas e por outras, os consumidores. que não frequentaram a Mouse School of Economics, continuam a consumir animadamente estimulando a economia... dos países de onde importamos os popós, os telelés, os écrans LCD HD e toda a quinquilharia que faz a felicidade de um patriota.

Negócios
Daí que o saldo as balanças corrente e de capital dos últimos três anos esteja a piorar o que não impede o Costa primeiro-ministro de estar imune à descrença do Costa governador do BdP estabelecendo uma meta para as exportações atingirem 50% do PIB na próxima década (quando eles já estiver reformado em Belém), meta que seria atingível se ele se tornasse exportador de balelas.

1 comentário:

Anónimo disse...

Em minha opinião, a discussão dos orçamentos desta geringonça é um logro, uma distracção para entreter patetas. A execução nunca tem nada a ver com o orçamentado e ninguém é chamado a debater e aprovar as alterações que o governo faz a seu bel prazer.
Por outro lado, algo que não entendo é o conceito de cativações de que se fala por aí. Se o governo cativa verbas que deveria aplicar em pagamentos autorizados no orçamento e o défice não se altera, então quer dizer que gastou o dinheiro de modo diferente do aprovado na AR. Pelas regras da matemática que eu conheço, se se gasta menos, a diferença entre pagamentos e recebimentos deveria ficar menor que previsto.
Se a minha lógica está certa, não há cativações, há sim mudança do destino dado ao dinheiro que nós somos obrigados a entregar ao governo, sem qualquer escrutínio.
Acho tão estranho que ninguém fale disto que gostaria de saber se estou enganada.